Coletivo Quilombelas : apoderamento e Escrevivência como pretagogias na reconstrução de pessoas negras

Abstract

Em um processo histórico, que envolve o rapto, a dominação, a expoliação e o apagamento do ser e estar no mundo de um grupo étnico, a educação, bem como a escola, segue sendo um território ainda acessado e de permanência muito perene ao nosso povo. A luta por resistir e existir, a partir de uma construção social, cultural e profissional, que tem seu início nos espaços escolares, ainda é uma realidade ao povo negro. Junto a isso, a escola parece ainda não ter validado seu papel de adequar-se às suas comunidades, considerando um projeto político pedagógico que dê conta e preste conta de toda diversidade que a mesma acolhe no seu cotidiano. Hoje, apresento-me ao mundo enquanto um corpo preto, guardião, uma referência positiva, em relação a minha identidade de gênero. O objetivo deste trabalho é registrar, denunciar, refletir e contribuir na efetivação da prática em Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER), com foco em uma perspectiva afro-referenciada e a partir da vivência da cultura africana clássica e afro-brasileira. A problemática do estudo é a análise de como a experiência do Coletivo Quilombelas, bem como o aquilombamento e apoderamento da comunidade negra escolar do bairro Restinga, situado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil, com foco na promoção da Educação para as Relações Étnico Raciais enfrentou o racismo institucional. A pesquisa tem como referencial teórico-metodológico a Escrevivência, a partir da obra literária de Conceição Evaristo (2008) e o apoderamento (2003), assim como as experiências e registros sobre quilombos de Beatriz Nascimento (2018) e de Abdias do Nascimento (1980). A partir da Escrevivência produzida pelo registro e análise da experiência das Quilombelas, foi construída uma noção alargada de quilombo, enquanto encontro, apoderamento, proteção dos seus integrantes e, consequentemente, enfrentamento do racismo, transformando a realidade por meio de pretagogias que incluem ancestralidade, espiritualidade, religiosidade e experimentações artísticas. Dessa forma, o quilombo busca resistir ao racismo estrutural, mas sofre ataques do racismo institucional e individual, forças que podem produzir a dissolução do quilombo. Entretanto, as pretagogias valorizam saberes e vivências da comunidade, produzindo o apoderamento. A participação na experiência de aquilombamento no espaço escolar é transformadora, constituindo o corpo quilombo, capaz de produzir caminhos e novos aquilombamentos por meio de outros encontros.

In a historical process that involves the kidnapping, domination, exploitation, and erasure of the being and presence in the world of an ethnic group, education, as well as the school, remains a territory accessed and of very enduring presence for our people. The struggle to resist and exist, starting from a social, cultural, and professional construction that begins in school spaces, is still a reality for the Black population. Alongside this, the school still seems not to have validated its role in adapting to its communities, considering a political-pedagogical project that can address and account for all the diversity it embraces in its daily life. Today, I present myself to the world as a Black body, guardian, a positive reference regarding my gender identity. The objective of this work is to register, denounce, reflect, and contribute to the implementation of practice in Education for Ethnic-Racial Relations (ERER), focusing on an Afro-referenced perspective and drawing from the experience of classical African and Afro-Brazilian culture. The study's issue is the analysis of how the experience of the Quilombelas Collective, as well as the quilombing and empowerment of the Black school community in the Restinga neighborhood, located in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil, confronted institutional racism. The research uses Escrevivência as its theoretical and methodological framework, based on the literary work of Conceição Evaristo (2008), and empowerment, as well as the experiences and records on quilombos by Beatriz Nascimento (2018) and Abdias do Nascimento (1980). From the Escrevivência produced by the registration and analysis of the Quilombelas' experience, an expanded notion of quilombo was constructed, as a meeting, empowerment, and protection of its members, and consequently, as a confrontation of racism, transforming reality through pretagogies that include ancestry, spirituality, religiosity, and artistic experimentation. Thus, the quilombo seeks to resist structural racism but suffers attacks from institutional and individual racism, forces that can produce the dissolution of the quilombo. However, pretagogies valorize the community's knowledge and experiences, producing empowerment. Participation in the quilombing experience within the school space is transformative, constituting the quilombo body, capable of producing paths and new quilombings through other encounters.