Cursos pré-vestibulares populares e negritude em porto alegre durante a pandemia de covid-19

Abstract

Esta pesquisa buscou compreender como cursos pré-vestibulares populares de Porto Alegre, frente à pandemia Covid-19, se reorganizaram nos anos de 2020 a 2022 para manter suas atividades e estabelecer conexões com os estudantes. O objetivo é analisar como essas iniciativas se adaptaram e responderam aos desafios impostos pela pandemia, contribuindo assim para o entendimento das estratégias eficazes de inclusão educacional. O estudo concentra-se em três cursos pré-vestibulares de Porto Alegre – Emancipa, Kilomba e Projeto Educacional Alternativa Cidadã – e emprega uma metodologia de pesquisa que combina entrevistas semiestruturadas com os coordenadores e grupos focais com os educadores desses projetos. O Ensino Superior no Brasil é historicamente marcado pela desigualdade, parcialmente atenuada pelas políticas de ação afirmativa. O discurso predominante de meritocracia, baseado apenas no esforço individual, mascara os efeitos da origem social e do racismo no ambiente acadêmico, a partir disto foram utilizados os escritos de Bourdieu e o conceito de “capital cultural” para embasar as discussões teórico-metodológicas deste trabalho. As camadas populares e, em especial, as pessoas negras, enfrentam barreiras significativas para ingressar no Ensino Superior, agravadas no contexto da pandemia, e buscam apoio em cursos pré-vestibulares populares para superar os desafios dos vestibulares e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Vale ressaltar que tais cursos destacam-se dos preparatórios convencionais pelo caráter não lucrativo, pelo público-alvo visado e por abordagens políticas que buscam constituir espaços para reflexão e crítica sobre questões sociais relevantes. A pandemia evidenciou as desigualdades sociais e expôs as limitações relacionadas ao acesso à internet, revelando a fragilidade do sistema educacional em tempos de crise. A pesquisa mostrou que, mesmo diante dessas adversidades, os cursos pré-vestibulares populares foram ferramentas de auxílio para a continuidade educacional das pessoas pertencentes às camadas populares.

This research aimed to understand how popular pre-university courses in Porto Alegre adapted and reorganized amidst the Covid-19 pandemic from 2020 to 2022 to maintain their activities and establish connections with students. The objective is to analyze how these initiatives adapted and responded to the challenges posed by the pandemic, thus contributing to the understanding of effective strategies for educational inclusion. The study focuses on three pre university courses in Porto Alegre – Emancipa, Kilomba, and Projeto Educacional Alternativa Cidadã – and employs a research methodology that combines semi-structured interviews with coordinators and focus groups with educators from these projects. Higher education in Brazil is historically marked by inequality, partially mitigated by affirmative action policies. The predominant discourse of meritocracy, based solely on individual effort, masks the effects of social origin and racism in the academic environment. Therefore, the writings of Bourdieu and the concept of "cultural capital" were used to underpin the theoretical-methodological discussions of this work. Marginalized populations, particularly Black individuals, face significant barriers to accessing higher education, exacerbated in the context of the pandemic, and seek support in popular pre-university courses to overcome the challenges of entrance exams and the National High School Examination (Enem). It is worth noting that such courses stand out from conventional preparatory courses due to their non-profit nature, target audience, and political approaches aimed at creating spaces for reflection and criticism on relevant social issues. The pandemic highlighted social inequalities and exposed limitations related to internet access, revealing the fragility of the educational system in times of crisis. The research demonstrated that, even in the face of these adversities, popular pre-university courses served as tools to support the educational continuity of individuals belonging to marginalized communities.