Pensar o discurso memorial do Holocausto no jornal “O Globo” (Brasil, 1944-1999)
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Data
2023Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
A tese busca compreender como constituiu-se historicamente um discurso memorial do Holocausto e seus desdobramentos em um impositivo reconhecido como Dever de Memória a partir de sua presença em textos diversos (reportagens, ensaios, manchetes, notas, cartas de leitores etc.) publicados no jornal O Globo entre os anos de 1944 e 1999, periódico impresso no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, criado em 1925 e que alcançou circulação nacional. O corpus documental está composto por esses textos, r ...
A tese busca compreender como constituiu-se historicamente um discurso memorial do Holocausto e seus desdobramentos em um impositivo reconhecido como Dever de Memória a partir de sua presença em textos diversos (reportagens, ensaios, manchetes, notas, cartas de leitores etc.) publicados no jornal O Globo entre os anos de 1944 e 1999, periódico impresso no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, criado em 1925 e que alcançou circulação nacional. O corpus documental está composto por esses textos, reunidos a partir dos seguintes descritores: Holocausto, Auschwitz, Shoah, campo de concentração nazista. As edições de O Globo de todo o período foram pesquisadas junto ao acervo digital do jornal, pesquisa que resultou em 6084 páginas de documentos. Dentre essas, foram selecionados 728 textos examinados pela tese. As concepções do paradigma indiciário propostas por Carlo Ginzburg (1990), as reflexões de Arlete Farge (2009) sobre o trabalho do historiador em arquivos e as concepções de discurso de Michel Foucault e Celi Regina J. Pinto embasam a tese, acrescidos dos aportes teóricos da história cultural segundo as obras de Roger Chartier, Robert Darnton Sandra Jatahy Pesavento, e Jeremy Popkins, em especial sobre a leitura, o papel dos jornais periódicos e a circulação de textos. Em relação à história da imprensa no Brasil são inspiradores à tese os estudos realizados por Tania Regina de Luca, Ana Luiza Martins, Maria Helena Capelato, Nelson Sodré e Marialva Barbosa. Para pensar os conceitos de memória, história, escrita historiadora, história do tempo presente, memória e história do Holocausto a tese fundamentam-se nas obras de Paul Ricouer, Sébastien Ledoux, Francois Hartog, Fernando Catroga, Michel de Certeau, Enzo Traverso, Deborah Lipstadt, Peter Novick, Aleida Assmann, Pierre Nora, Pierre Vidal-Naquet, Tony Judt. A investigação desenvolvida na tese tem como premissa central que o jornal O Globo, entre os anos de 1944 e 1999, contribuiu à formação de seu público leitor e da opinião pública sobre um determinado discurso memorial do Holocausto. Os processos históricos de emergência e legitimação desse discurso comparecem em O Globo fartamente, tendo sido organizados e analisados pela tese como discursos do campo da política, da cultura, da justiça e da religião, identificados principalmente através dos descritores campos de concentração nazista e holocausto. Ao longo da análise, apresenta-se como comparecem em O Globo a emergência, a difusão e a consolidação da memória do Holocausto e como esta findou por afirmar-se pela imposição de um Dever de Memória junto aos leitores, jornalistas, articulistas e editoria do jornal, assim como da opinião pública, processos atravessados por interesses nacionais e internacionais frente ao tema. ...
Abstract
This thesis examines how a Holocaust memorial discourse was historically construed and its unfoldings into a Duty of Memory by analyzing its presence in various texts (articles, essays, headlines, notes, reader’s letters, etc.) published by O Globo between 1944 and 1999, a Brazilian newspaper created in 1925, in Rio de Janeiro, and which circulated nationwide. Issues of O Globo from the chosen period were searched on the newspaper’s digital collection by entering the descriptors Holocaust, Ausc ...
This thesis examines how a Holocaust memorial discourse was historically construed and its unfoldings into a Duty of Memory by analyzing its presence in various texts (articles, essays, headlines, notes, reader’s letters, etc.) published by O Globo between 1944 and 1999, a Brazilian newspaper created in 1925, in Rio de Janeiro, and which circulated nationwide. Issues of O Globo from the chosen period were searched on the newspaper’s digital collection by entering the descriptors Holocaust, Auschwitz, Shoah, and Nazi concentration camp, resulting in 6084 pages. Of these, 728 texts were selected for analysis. Carlo Ginzburg’s (1990) evidential paradigm, Arlete Farge’s (2009) reflections on the historian’s work in archives, and the concept of discourse developed by Michel Foucault and Celi Regina J. Pinto underpin the discussion, plus the theoretical contributions of cultural history according to Roger Chartier, Robert Darnton, Sandra Jatahy Pesavento, and Jeremy Popkins, especially about reading, the role of newspapers, and the circulation of texts. Regarding the history of the press in Brazil, studies by Tania Regina de Luca, Ana Luiza Martins, Maria Helena Capelato, Nelson Sodré, and Marialva Barbosa inspire the thesis. To examine the concepts of memory, history, historian writing, history of the present time, memory and Holocaust history the text draws from works by Paul Ricouer, Sébastien Ledoux, Francois Hartog, Fernando Catroga, Michel de Certeau, Enzo Traverso, Deborah Lipstadt, Peter Novick, Aleida Assmann, Pierre Nora, Pierre Vidal-Naquet, Tony Just. The research developed has as central premise that O Globo, between 1944 and 1999, contributed to conforming a readership and public opinion about a particular Holocaust memorial discourse. Its historical emergence and legitimation processes are abundantly recorded in the newspaper, organized and analyzed by this thesis as discourses from the spheres of politics, culture, justice, and religion, identified mainly by the descriptors Nazi concentration camps and Holocaust. The analysis dissects how the emergence, diffusion and consolidation of the memory of the Holocaust appear in O Globo, and how this memory ended up cemented by the imposition of a Duty of Memory among readers, journalists, writers and editors, as well as public opinion, processes crossed by national and international interests concerning the topic. ...
Résumé
Cette thèse examine comment le discours commémoratif de l’Holocauste a été historiquement construit et comment il s’est transformé en devoir de mémoire en analysant sa présence dans divers textes (articles, essais, titres, notes, lettres de lecteurs, etc.) publiés par O Globo entre 1944 et 1999, un journal brésilien créé en 1925, à Rio de Janeiro, et qui a circulé dans tout le pays. Les numéros d’O Globo de la période choisie ont été recherchés dans la collection numérique du journal par le bia ...
Cette thèse examine comment le discours commémoratif de l’Holocauste a été historiquement construit et comment il s’est transformé en devoir de mémoire en analysant sa présence dans divers textes (articles, essais, titres, notes, lettres de lecteurs, etc.) publiés par O Globo entre 1944 et 1999, un journal brésilien créé en 1925, à Rio de Janeiro, et qui a circulé dans tout le pays. Les numéros d’O Globo de la période choisie ont été recherchés dans la collection numérique du journal par le biais des descripteurs Holocauste, Auschwitz, Shoah et camp de concentration naziste, ce qui a permis d’obtenir 6084 pages. Parmi celles-ci, 728 textes ont été sélectionnés pour l’analyse. Le paradigme de l’indice de Carlo Ginzburg (1990), les réflexions d’Arlete Farge (2009) sur le travail de l’historien dans les archives et le concept de discours développé par Michel Foucault et Celi Regina J. Pinto sous-tendent la discussion, ainsi que les apports théoriques de l’histoire culturelle selon Roger Chartier, Robert Darnton, Sandra Jatahy Pesavento et Jeremy Popkins, en particulier sur la lecture, le rôle des journaux et la circulation des textes. En ce qui concerne l’histoire de la presse au Brésil, les études de Tania Regina de Luca, Ana Luiza Martins, Maria Helena Capelato, Nelson Sodré et Marialva Barbosa inspirent la thèse. Pour examiner les concepts de mémoire, d’histoire, d’écriture historienne, d’histoire du temps présent, de mémoire et d’histoire de l’Holocauste, le texte s’appuie sur des travaux de Paul Ricouer, Sébastien Ledoux, François Hartog, Fernando Catroga, Michel de Certeau, Enzo Traverso, Deborah Lipstadt, Peter Novick, Aleida Assmann, Pierre Nora, Pierre Vidal-Naquet, Tony Just. La recherche développée a pour prémisse centrale qu’O Globo, entre 1944 et 1999, a contribué à conformer un lectorat et une opinion publique à un discours particulier sur la commémoration de l’Holocauste. Son émergence historique et ses processus de légitimation sont abondamment enregistrés dans le journal, organisés et analysés par cette thèse comme des discours issus des sphères de la politique, de la culture, de la justice et de la religion, identifiés principalement par les descripteurs camps de concentration naziste et Holocauste. L’analyse dissèque comment l’émergence, la diffusion et la consolidation de la mémoire de l’Holocauste apparaissent dans O Globo, et comment cette mémoire a fini par être cimentée par l’imposition d’un devoir de mémoire parmi les lecteurs, les journalistes, les rédacteurs, ainsi que l’opinion publique, processus traversés par des intérêts nationaux et internationaux concernant le sujet. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação.
Coleções
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Ciências Humanas (7540)Educação (2530)
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