Etnomatemática surda: práticas discursivas no ensino de matemática para surdos

Abstract

Esta pesquisa analisa os discursos de professores de Matemática para surdos na perspectiva da Etnomatemática Surda. Em articulação com os Estudos Culturais em Educação e os Estudos Surdos, produzo o conceito da Etnomatemática Surda, que defende as práticas matemáticas no contexto cultural da comunidade surda por meio da valorização da experiência visual e da língua de sinais. A presente pesquisa, nesta Tese, parte da pergunta: quais práticas discursivas produzidas por professores de surdos possibilitam a construção de uma Etnomatemática Surda? Para pensar sobre o problema desta pesquisa, apresento os seguintes objetivos: conhecer as narrativas de professores de Matemática de escolas para surdos e analisar como vêm se constituindo experiências pedagógicas que possibilitam caracterizar uma Etnomatemática Surda. Desenvolvi estudos no campo de Etnomatemática, tratando das diferentes formas de cálculo nos contextos de diferenças culturais. As análises são feitas a partir da noção de discurso desenvolvida por Michel Foucault (1996; 2008). Foram analisados projetos de extensão desenvolvidos em duas edições da pesquisa Educação Matemática para surdos, em 2018/1 e 2020/2, por meio de rodas de conversa com professores de Matemática para surdos. Foram realizados cinco encontros presenciais em 2018 na FACED/UFRGS, com o total de seis professores, e quatro encontros virtuais em 2020 pela plataforma Zoom, com quatro professores de Matemática. As análises foram construídas e organizadas a partir dos dados produzidos nas rodas de conversas com os professores. Dessas análises, foram construídas as seguintes categorias: (1) Experiência visual de alunos surdos na aula de matemática, em que apresento narrativas dos professores, sobre a importância da experiência visual dos alunos surdos e da língua de sinais na construção do conhecimento matemático; (1.1) Sinais matemáticos em aula de matemática, em que apresento discussões sobre os sinais da Língua Brasileira de Sinais (Libras) específicos da área da Matemática e as práticas visuais desenvolvidas nas aulas; (2) Diferenças e Docência em sala de aula, em que analiso narrativas recorrentes de que há alunos surdos com diferentes experiências na questão da língua de sinais e cultura surda, no contexto de educação bilíngue; (3) Uso de estratégia visual no ensino de matemática, em que apresento narrativas que indicam estratégias no ensino de matemática, que valorizam a visualidade mediante a língua de sinais, para que o aluno produza sua aprendizagem. Nesta Tese, por meio das análises da pesquisa, é possível reconhecer a Etnomatemática Surda quando os professores participantes trabalham com alunos surdos, frente às diferenças culturais e de identidades – e isso caracteriza o olhar a partir da Etnomatemática Surda.

This research analyzes discourses of teachers that teach Mathematics to deaf students from the perspective of Deaf Ethnomathematics. In articulation with Cultural Studies in Education and Deaf Studies, I have conceived the concept of Deaf Ethnomathematics, which defends mathematics practices in the cultural context of the deaf community by valuing both the visual experience and the sign language. This research, in this Dissertation, has stemmed from the following question: Which discursive practices produced by teachers of deaf students have enabled the construction of Deaf Ethnomathematics? In order to think about the research problem, I have established the following objectives: to know the narratives of Mathematics teachers of deaf schools and analyze how pedagogical experiences that characterize Deaf Ethnomathematics have been constituted. I have carried out studies in the field of Ethnomathematics by addressing the different forms of calculating in the context of cultural differences. The analyses have been supported by the notion of discourse as proposed by Michel Foucault (1996; 2008). Extension projects carried out along two editions of the research Mathematical Education for Deaf Students, in 2018/1 and 2020/2, were analyzed through talking circles with teachers who teach Mathematics to deaf students. Five face-to-face meetings were held at FACED/UFRGS in 2018 with six teachers, and there were four online meetings on Zoom platform in 2020 with four Mathematics teachers. The analyses were performed and organized by considering data deriving from the talking circles with the teachers. The analyses gave rise to the following categories: (1) Deaf students’ visual experience in the Mathematics class, in which I present teachers’ narratives about the importance of both deaf students’ visual experience and the sign language to construct mathematics knowledge; (1.1) Mathematics signs in the Mathematics class, in which I bring up discussions about signs of the Brazilian Sign Language (Libras) that are specific to the area of Mathematics, and visual practices developed in class; (2) Differences and classroom teaching, in which I analyze recurring narratives about the existence of deaf students with different experiences in sign language and deaf culture, in the context of bilingual education; (3) Use of visual strategy in mathematics teaching, in which I present narratives indicating strategies in mathematics teaching that value visuality through sign language for students to produce their learning. In this Dissertation, by means of the analysis of the research, it is possible to recognize Deaf Ethnomathematics when the teachers work with deaf students and consider cultural and identity differences – and this characterizes the look from Deaf Ethnomathematics.