Crise de autoridade : uma investigação sobre as sessões da CPI da pandemia pelo viés da antropologia digital em contato dialógico com a educação em Ciências

Abstract

O debate público sobre a CPI da Pandemia foi palco para a discussão de questões sociocientíficas como a validade de tratamentos precoces para novas doenças e estratégias de imunização. Apesar do interesse da pesquisa em educação em ciências em temas desta natureza, e apesar de um interesse renovado nas tecnologias digitais da informação e comunicação, não há muitas pesquisas que trazem contribuições teórico-metodológicas a partir de um olhar antropológico. Portanto, a presente tese apresenta uma investigação sobre a repercussão da CPI da Pandemia propondo o contato dialógico entre antropologia digital e educação em ciências através da exploração das noções de autoridade e práticas epistêmicas. Apresentamos uma revisão de literatura sobre pesquisas que conciliam antropologia, etnografia e internet nas pesquisas em ensino. Dividimos os artigos encontrados em duas categorias principais: trabalhos de campo e trabalhos de discussão. Depois, descrevemos o quadro teórico-metodológico que se encerra na definição de quatro dimensões teórico-metodológicas – visão de mundo, objeto & escopo, campo de trabalho e referencial espaço-temporal. Definimos a filosofia da linguagem de Mikail Bakhtin como visão de mundo e delimitamos o conceito de autoridade epistêmica com o qual trabalhamos. Adiante, apresentamos nosso trabalho de campo fundamentado nos princípios da antropologia digital e etnografia virtual dividido em dois eixos: (i) a exploração dos rastros digitais da CPI da Pandemia tais como as transcrições e atas do processo e (ii) a descrição etnográfica de enunciados concretizados na plataforma X durante o período de atividades da Comissão. Com isso, buscamos analisar especificamente aquilo que apresenta potencial para ser usado como artefato cultural no debate público para favorecer ou prejudicar a autoridade de cientistas e a confiança nas ciências, ou seja, enunciados sobre a natureza das ciências, sobre os conceitos científicos, sobre as práticas das ciências ou, ainda, sobre indivíduos, instituições e comunidades científicas. Nossos principais resultados foram os indícios de que a natureza da comunicação nas plataformas digitais não é benéfica para a popularização de questões sociocientíficas, especialmente porque os gêneros discursivos nelas presentes, como o novo subgênero que identificamos e nomeamos de subgênero discursivo de debates sociocientíficos nas redes sociais, raramente se aproximam das qualidades mais básicas do gênero discursivo científico e as autoridades epistêmicas envolvidas não costumam favorecer a argumentação científica como estratégia de convencimento.

The public debate surrounding the CPI of the Pandemic was a stage for the discussion of socioscientific issues such as the validity of early treatments for new diseases and immunization strategies. Despite the interest of Science Education research in such topics, and also despite a renewed interest in digital information and communication technologies, there are not many studies that bring theoretical and methodological contributions from an anthropological perspective. Therefore, with this thesis, we investigate the repercussion of the CPI, demonstrating the potential of the dialogic contact between digital anthropology and science education through an exploration of concepts such as epistemic authority and epistemic practices. We bring foward our literature review on academic works that have tried to reconcile anthropology, ethnography and the internet in the context of education research, especially within science education, in which we divided the articles in two categories: “fieldwork” articles and “discussion” articles. Afterwards, we proceed to a description of the theoreticalmethodological framework that ends with the definition of four theoretical-methodological dimensions – world view, object & scope, field of work and space-time reference – choosing Bakhtin’s Philosophy as our worldview and framing the concept of epistemic authority with which we work in this thesis. Then, we introduce our fieldwork divided into two dimensions: (i) an exploratory study of the digital footprint of the CPI specially through official sources such as transcripts and minutes of the process and (ii) an ethnographic description of concrete utterances made during the CPI activies. With this, we sought to specifically analyze what has the potential to be used as a cultural artifact in the public debate to favor or undermine the authority of scientists and the public trust in science or, in other words, utterances about the nature of science, about the concepts or practices of science, or even about individuals, institutions and scientific communities. Our main results were that the nature of communication on digital platforms is not beneficial for the popularization of socioscientific issues, especially because the discursive genres present in them, such as the new subgenre that we identified and named the discursive subgenre of online socioscientific debates, rarely come close to the most basic qualities of the scientific discursive genre and our epistemic authorities involved do not usually foment scientific argumentation as a convention strategy.