Ensaio pré-clínico aplicado ao uso do cloreto de 1-hexadecil-3-metilimidazólio na desinfecção de lentes de contato contra Acanthamoeba spp.

Abstract

Com a popularização do uso de lentes de contato, a incidência de casos de ceratite tem aumentado nos últimos tempos. Dentre os causadores desta grave infecção, está o gênero Acanthamoeba, pertencente ao grupo das amebas de vida livre, que, ao parasitar a córnea, causa dor, vermelhidão e perda da visão. Esse organismo habita em ambientes ubíquos e antropogênicos e caso não haja os devidos cuidados, estojos de lentes de contato podem ser alvo de sua colonização. Atualmente, não há soluções de limpeza realmente eficazes contra Acanthamoeba spp., devido à possibilidade de formarem cistos resistentes. No entanto, há uma classe de compostos promissora, os sais imidazólicos, com atividade antiparasitária comprovada. Este estudo avaliou a eficácia do cloreto de 1-hexadecil-3-metilimidazolio (C16MImCl) em lentes de contato frente a trofozoítos de Acanthamoeba spp. Foi desenvolvido um protocolo de adesão de trofozoítos às lentes de silicone-hidrogel e a atividade do C16MImCl foi comparada à de uma solução comercial e à clorexidina. Mesmo com a absorção parcial do C16MImCl pelas lentes, o uso de uma concentração dez vezes superior à inibitória mínima foi capaz de eliminar todos os trofozoítos aderidos e impedir o encistamento. Apesar de apresentar alguma toxicidade para as células da córnea em concentrações elevadas, o C16MImCl foi menos citotóxico que a clorexidina. Os resultados confirmam sua eficácia, inclusive na presença de amebas aderidas às lentes, superando a solução comercial testada. Novos estudos de citotoxicidade e testes in vivo ainda são necessários para validar o uso da solução.

With the increasing popularity of contact lens use, the incidence of keratitis cases has risen in recent times. Among the causative agents of this serious infection there is the genus Acanthamoeba, which belongs to the group of free-living amoebae and, when parasitizing the cornea, causes pain, redness, and vision loss. This organism inhabits ubiquitous and anthropogenic environments, and if proper care is not taken, contact lens cases can become sites of colonization. Currently, there are no truly effective cleaning solutions against Acanthamoeba spp., due to its ability to form resistant cysts. However, there is a promising class of compounds, imidazolium salts, has demonstrated confirmed antiparasitic activity. This study evaluated the efficacy of 1-hexadecyl-3-methylimidazolium chloride (C16MImCl) in contact lenses against Acanthamoeba spp. trophozoites. A protocol was developed for the trophozoites adhesion to silicone hydrogel lenses, and the activity of the C16MImCl was compared to that of a commercial solution and to chlorhexidine. Even with partial absorption of C16MImCl by lenses, the use of a concentration ten times higher than the minimum inhibitory concentration was able to eliminate all adhered trophozoites and prevent encystment. Despite presenting some toxicity to corneal cells at high concentrations, C16MImCl was less cytotoxic than chlorhexidine. The results confirm its effectiveness, including against amoebae adhered to the lenses, surpassing the commercial solution tested. New cytotoxicity studies and in vivo tests are still required to validate this imidazolium salt-based solution.