O papel do habitus de classe no negacionismo das mudanças climáticas uma análise estrutural
Visualizar/abrir
Data
2025Autor
Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Perante as catástrofes climáticas que enfrentamos cada vez de maneira mais frequente, a presente pesquisa investiga como o habitus de classe influencia as disposições negacionistas frente às mudanças climáticas, articulando elementos da teoria de Pierre Bourdieu com dados quantitativos de pesquisa de percepção pública. O trabalho parte da premissa de que o negacionismo climático não se restringe à falta de conhecimento, mas se estrutura a partir de disposições sociais internalizadas, capital cu ...
Perante as catástrofes climáticas que enfrentamos cada vez de maneira mais frequente, a presente pesquisa investiga como o habitus de classe influencia as disposições negacionistas frente às mudanças climáticas, articulando elementos da teoria de Pierre Bourdieu com dados quantitativos de pesquisa de percepção pública. O trabalho parte da premissa de que o negacionismo climático não se restringe à falta de conhecimento, mas se estrutura a partir de disposições sociais internalizadas, capital cultural e econômico, e interesses ideológicos. Ao adotar uma abordagem sociológica relacional, nosso estudo visa compreender como diferentes capitais são mobilizados na construção de atitudes que rejeitam o consenso científico sobre o aquecimento global antropogênico. Inicialmente, contextualizamos o crescimento do negacionismo climático no Brasil, destacando o papel do governo federal no período de 2019 a 2022, especialmente no desmonte de políticas ambientais e na promoção da desinformação. A partir disso, investigamos como o negacionismo se articula com estruturas políticas e econômicas, utilizando estratégias discursivas e midiáticas para produzir ceticismo e retardar ações de mitigação ambiental. O referencial teórico baseia-se em conceitos centrais da obra de Bourdieu, como habitus, campo e capital (econômico, cultural e simbólico), para analisar como as condições sociais objetivas moldam percepções e disposições diante da crise climática. A hipótese central é que o negacionismo não se restringe a um único grupo social, mas é transversal, sendo influenciado por trajetórias escolares, posição de classe, acesso a bens simbólicos e formas de socialização. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa quantitativa e que utiliza dados secundários de dois levantamentos de opinião pública, Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP/Unicamp) e Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITs Rio), analisados por meio do Teste Qui-quadrado de Pearson e da Análise de Correspondência Múltipla (ACM), ferramenta estatística alinhada ao enfoque relacional bourdieusiano. A ACM permite mapear de maneira geométrica as relações entre variáveis como escolaridade, classe econômica, ideologia política e percepção ambiental, revelando padrões estruturais no espaço social. Os resultados indicam que indivíduos com menor capital cultural institucionalizado (menor escolaridade formal) tendem a apresentar maior propensão ao negacionismo, mas também que há resistência à ciência entre segmentos mais escolarizados, quando atravessados por interesses econômicos ou ideológicos. A interação entre capitais mostra-se decisiva: o capital econômico, por exemplo, pode ser reconvertido em escolarização, mas nem sempre em disposição à aceitação do discurso científico. Por fim, destacamos o papel estratégico da educação científica, e do ensino de Física em particular, na formação de uma cidadania crítica, capaz de compreender os processos científicos e resistir à desinformação. Ao propor um olhar estrutural sobre o negacionismo, nosso trabalho contribui para o debate sobre ciência, educação e mudanças climáticas, oferecendo subsídios para políticas públicas e estratégias de comunicação científica mais eficazes. ...
Abstract
In the face of the climate catastrophes that we are facing with increasing frequency, this research investigates how class habitus influences denialist dispositions towards climate change, articulating elements of Pierre Bourdieu's theory with quantitative data from public perception surveys. The work is based on the premise that climate denialism is not restricted to a lack of knowledge, but is structured based on internalized social dispositions, cultural and economic capital, and ideological ...
In the face of the climate catastrophes that we are facing with increasing frequency, this research investigates how class habitus influences denialist dispositions towards climate change, articulating elements of Pierre Bourdieu's theory with quantitative data from public perception surveys. The work is based on the premise that climate denialism is not restricted to a lack of knowledge, but is structured based on internalized social dispositions, cultural and economic capital, and ideological interests. Adopting a relational sociological approach, the study aims to understand how different capitals are mobilized in the construction of attitudes that demand scientific consensus on global anthropogenic warming. Initially, we contextualize the growth of climate denialism in Brazil, highlighting the role of the federal government in the period from 2019 to 2022, especially in its dismantling of environmental policies and in the promotion of misinformation. From this, we investigate how denialism articulates with political and economic structures, using discursive and media strategies to produce skepticism and delay environmental mitigation actions. The theoretical framework is based on central concepts from Bourdieu's work, such as habitus, field and capital (economic, cultural and symbolic), to analyze how objective social conditions shape perceptions and dispositions during the climate crisis. The central hypothesis is that denialism is not restricted to a single social group, but is transversal, being influenced by school traditions, class position, access to symbolic benefits and forms of socialization. Methodologically, this is quantitative research that uses secondary data from two public opinion surveys, Center for Public Opinion Studies (CESOP/Unicamp) and Rio Institute of Technology and Society (ITs Rio), analyzed by Pearson's Chi-square test and Multiple Correspondence Analysis (MCA), a statistical tool aligned with the Bourdieusian relational approach. The MCA allows mapping in a geometric way the relationships between variables such as education, economic class, political ideology and environmental perception, revealing structural patterns in the social space. The results indicate that individuals with less institutionalized cultural capital (less formal schooling) tend to be more prone to denialism, but also that there is resistance to science among more educated segments, when crossed by economic or ideological interests. The interaction between capitals proves to be decisive: economic capital, for example, can be converted into schooling, but it is always available to the oil of scientific discourse. Finally, the research highlights the strategic role of scientific education, and Physics teaching in particular, in the formation of a critical citizenry, capable of understanding scientific processes and resisting misinformation. With a structural look at denialism, our work contributes to the debate on science, education and climate change, offering subsidies for public policies and more effective scientific communication strategies. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Física. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física.
Coleções
-
Multidisciplinar (2718)Ensino de Física (219)
Este item está licenciado na Creative Commons License


