Os discursos sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a docência em Educação Física na rede municipal de ensino de Porto Alegre

Abstract

Esta pesquisa insere-se no contexto dos debates sobre os processos de inclusão, com foco específico na inclusão escolar dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas aulas de Educação Física em escolas regulares. O objetivo do estudo é problematizar discursos que circulam no ambiente escolar, acerca do Transtorno do Espectro Autista, que constituem a docência em Educação Física na rede municipal de educação de Porto Alegre. A investigação situa-se no campo dos Estudos Culturais, utilizando como referencial teórico e metodológico o pensamento de Michel Foucault e outros autores alinhados à teorização foucaultiana, trabalhando com os conceitos de discurso, norma, governamento e governo pela verdade. A pesquisa adota uma metodologia qualitativa, baseada em entrevistas semiestruturadas com professores de Educação Física de escolas da rede municipal de Porto Alegre. O material das entrevistas, analisado com as lentes teóricas dos Estudos Foucaultianos, foi organizado em quatro focos. Em primeiro, O que se fala sobre o aluno com TEA: entre políticas de inclusão e discursos gerais, o capítulo analisa os discursos sobre o TEA, destacando a influência de saberes médicos historicamente construídos na percepção e tratamento de indivíduos com TEA. Em segundo, Saberes docentes e autocobrança: a prática docente a partir dos discursos sobre inclusão do aluno com TEA, examina os desafios enfrentados pelos professores na inclusão de alunos com TEA, evidenciando a lacuna na formação inicial e a busca por conhecimento autônomo. Apesar do desejo de inclusão, a falta de preparo e recursos adequados gera autocobrança e impacta a prática docente; Em terceiro, A exclusão do incluído: o lugar do aluno com TEA nas aulas de Educação Física, analisa como a inclusão escolar de alunos com TEA, apesar do discurso favorável, muitas vezes se limita à presença física, sem garantir participação efetiva. A pesquisa destaca que a falta de preparo docente, recursos e naturalização de práticas excludentes, perpetuam a exclusão. Em quarto, O papel do diagnóstico: desafiando anseios na abordagem de alunos com TEA, problematiza relação entre o diagnóstico de TEA, as práticas escolares e os discursos de poder que moldam a inclusão, o qual nos mostra um anseio por diagnósticos dos alunos, concluindo que o diagnóstico, enraizado no discurso médico, pode levar à medicalização e patologização do TEA. Pode-se, então, afirmar que os discursos que circulam nas escolas sobre estudantes com TEA se relacionam a um saber médico, construído como uma verdade deste tempo, a qual busca formas de normalizar esses estudantes, incluindo a busca pelo diagnóstico. Nessa relação os docentes não se sentem preparados e acabam por se curvar à essa verdade médica sobre TEA, o que, por vezes, dificulta o processo de inclusão desses estudantes nas aulas de Educação Física. Embora a política de inclusão seja uma realidade estabelecida, ela frequentemente reforça desigualdades, especialmente quando o discurso médico predomina sobre o pedagógico, criando barreiras à inclusão dos alunos com TEA.

This research is situated within the context of debates on inclusion processes, with a specific focus on the inclusion of students with Autism Spectrum Disorder (ASD) in Physical Education classes in regular schools. The aim of the study is to problematize the discourses circulating in the school environment concerning Autism Spectrum Disorder, which shape the teaching of Physical Education in the municipal education network of Porto Alegre. The investigation is positioned within the field of Cultural Studies, utilizing the theoretical and methodological framework of Michel Foucault and other authors aligned with Foucauldian theorization, working with concepts such as discourse, norm, governmentality, and governance by truth. The research adopts a qualitative methodology, based on semi-structured interviews with Physical Education teachers from municipal schools in Porto Alegre. The interview material, analyzed through the theoretical lenses of Foucauldian Studies, was organized into four focal points. First, "What is said about the student with ASD: between inclusion policies and general discourses," the chapter analyzes discourses on ASD, highlighting the influence of historically constructed medical knowledge on the perception and treatment of individuals with ASD. Second, "Teaching knowledge and self-demand: teaching practice based on discourses about the inclusion of students with ASD," examines the challenges faced by teachers in including students with ASD, highlighting the gap in initial training and the search for autonomous knowledge. Despite the desire for inclusion, the lack of preparation and adequate resources generates self-demand and impacts teaching practice. Third, "The exclusion of the included: the place of the student with ASD in Physical Education classes," analyzes how the school inclusion of students with ASD, despite the favorable discourse, often limits itself to physical presence without ensuring effective participation. The research highlights that the lack of teacher preparation, resources, and the naturalization of exclusionary practices perpetuate exclusion. Fourth, "The role of diagnosis: challenging desires in the approach to students with ASD," problematizes the relationship between the ASD diagnosis, school practices, and the power discourses that shape inclusion, showing a desire for student diagnoses, concluding that the diagnosis, rooted in medical discourse, can lead to the medicalization and pathologization of ASD. It can then be affirmed that the discourses circulating in schools about students with ASD are related to a medical knowledge, constructed as a truth of this time, which seeks ways to normalize these students, including the pursuit of diagnosis. In this relationship, teachers do not feel prepared and end up submitting to this medical truth about ASD, which sometimes hinders the inclusion process of these students in Physical Education classes. Although the inclusion policy is an established reality, it often reinforces inequalities, especially when medical discourse predominates over pedagogical discourse, creating barriers to the inclusion of students with ASD.