Dança e experiência de si: a produção de sujeitas na multiplicidade em movimento

Abstract

A presente investigação tem como objetivo compreender as experiências de si, construídas por múltiplas dançarinas, mediante as vivências e as relações pedagógicas estabelecidas em seus grupos de Dança Contemporânea. Para tanto, esta pesquisa está amparada no campo dos Estudos Culturais em Educação, cuja sustentação teórico-metodológica é feita a partir da perspectiva Pós-Estruturalista, com ênfase nos estudos Foucaultianos e Deleuzianos. Desse modo, alinhei teorizações inspirada no movimento genealógico de Michel Foucault, na intenção de visualizar acontecimentos da diferença que constituem a historiografia da Dança Contemporânea para, em seguida, num movimento cartográfico, apresentar grupos de Dança e suas cenas pedagógicas. O conceito de Experiências de Si, de inspiração do professor Jorge Larrosa, assume centralidade na pesquisa, pois me permite visualizar um terreno singular e propulsor de novas danças construídas pelas dançarinas. Ademais, também operei com os conceitos de Multiplicidade e Diferença, de Deleuze e Guattari, a fim de pensar a Dança Contemporânea e os grupos aqui presentes. O material empírico da pesquisa foi composto por entrevistas-narrativas com dançarinas que compõem grupos distintos, sendo eles o grupo Diversos, no município de Santa Maria, RS e a Companhia Gira Dança, no município de Natal, RN. As entrevistas foram realizadas com duas dançarinas de cada espaço. Assim, através dos encontros com as dançarinas e das suas narrativas, esse estudo visualiza as experiências e as vivências desdobrando-se através de quatro blocos de análises, mapeados na seguinte ordem: a) O que é um corpo na dança, b) Caminhos da menoridade na dança, c) A partilha de uma dança necessariamente política, d) Pedagógico docente: entre hierarquias flutuantes, conversações e a presença da outra e e) Travessias do presente. Por fim, não em vias de finalização, mas de algumas pistas para pensar as reverberações desta dissertação, destaca-se que a entrada significativa de múltiplas dançarinas nos espaços de dança não apenas revitaliza práticas e vivências, mas também renova a historiografia da dança no Brasil e no mundo. Mudanças como essas proporcionam territórios aberto aos múltiplos corpos, desafiando, por vezes, hierarquias, e destacando a importância de cada singularidade no corpo que dança. Ao olhar para a historiografia da dança, permeada pela diferença e multiplicidade, reconhecemos que nenhum traço corporal ou singularidade deve prevalecer hierarquicamente sobre outro, construindo danças das quais reúnem as sujeitas não apenas pelo que se têm em comum, mas também pelas suas diferenças. Portanto, a comunidade em dança, pensada como um território educativo e de comunidade, abrange coletivos que compartilham espaços que tornam possível vivenciar a diferença e a multiplicidade. Com isso, as entrevistas-narrativas com as dançarinas do Grupo Diversos e GiraDança evidenciam que somos seres de experiência, e é por meio das experiências que as dançarinas refletem sobre as suas práticas em dança, à medida em que desenham trabalhos para além de determinadas estruturas fixas e linearidades de mundo. Trabalhos como esses não ocorrem abruptamente, mas sim por meio de processos contínuos, densos e complexos, marcados por lutas e embates elencados ao longo da dissertação. Assim, as dançarinas, mediante as suas vivências e as relações pedagógicas estabelecidas em seus grupos de Dança Contemporânea, produzem travessias em dança, ora pessoais, ora coletivas, em que é possível trabalhar com múltiplas dançarinas que não operam em prol de uma identidade ordinária e originária na dança. Em vez disso, produzem relações híbridas, permitindo a integração da dança a diversos processos inerentes à vida e à produção de conhecimento.

The present investigation aims to understand the self-experiences constructed by multiple dancers through the experiences and pedagogical relationships established in their Contemporary Dance groups. To this end, this research is grounded in the field of Cultural Studies in Education, with a theoretical and methodological foundation drawn from a Post Structuralist perspective, emphasizing Foucauldian and Deleuzian studies. In this way, I aligned theories inspired by Michel Foucault's genealogical movement, with the intention of visualizing events of difference that constitute the historiography of Contemporary Dance. Subsequently, through a cartographic movement, I presented Dance groups and their pedagogical scenes. The concept of Self-Experiences, inspired by Professor Jorge Larrosa, holds centrality in the research, allowing me to visualize a unique and propelling terrain for new dances constructed by the dancers. Additionally, I also worked with the concepts of Multiplicity and Difference from Deleuze and Guattari to contemplate Contemporary Dance and the groups under study. The empirical material of the research consisted of narrative interviews with dancers from different groups, namely the Diversos group in Santa Maria, RS, and the Gira Dança Company in Natal, RN. Interviews were conducted with two dancers from each space. Thus, through encounters with the dancers and their narratives, this study examines experiences unfolding through four blocks of analysis, mapped in the following order: a) What is a body in dance, b) Paths of minority in dance, c) The sharing of necessarily political dance, d) Teaching pedagogy: between fluctuating hierarchies, conversations, and the presence of the other, and e) Crossings of the present. Finally, not as a conclusion, but as some avenues to consider the reverberations of this dissertation, it is emphasized that the significant entry of multiple dancers into dance spaces not only revitalizes practices and experiences but also renews the historiography of dance in Brazil and worldwide. Changes like these provide territories open to multiple bodies, challenging hierarchies at times and highlighting the importance of each singularity in the dancing body. Looking at the historiography of dance, permeated by difference and multiplicity, we recognize that no bodily trait or singularity should hierarchically prevail over another, constructing dances that bring together individuals not only by what they have in common but also by their differences. Therefore, the dance community, conceived as an educational and community territory, encompasses collectives that share spaces that make it possible to experience difference and multiplicity. Thus, the narrative interviews with the dancers from the Diversos Group and GiraDança show that we are beings of experience, and it is through experiences that dancers reflect on their dance practices as they structure works beyond certain fixed structures and linearities of the world. Such works do not occur abruptly but through continuous, dense, and complex processes marked by struggles and conflicts outlined throughout the dissertation. Thus, dancers, through their experiences and pedagogical relationships established in their Contemporary Dance groups, create journeys in dance, sometimes personal, sometimes collective, where it is possible to work with multiple dancers who do not operate in favor of an ordinary and originating identity in dance. Instead, they produce hybrid relationships, allowing the integration of dance into various processes inherent in life and knowledge production.