Caminhos do gênero na saúde mental : relações entre práticas educativas e a construção de diagnósticos

Abstract

Pensar o gênero no campo da saúde tem sido cada vez mais importante, ainda mais quando discutimos o processo de construção de um diagnóstico em saúde mental. Nesse sentido, esta Tese de Doutorado buscou investigar dois pontos centrais: (1) como o gênero atuava na construção de um diagnóstico de saúde mental em mulheres, assim autodeclaradas, moradoras de uma comunidade do interior do Rio Grande do Sul; (2) na formação inicial de estudantes de Psicologia e Medicina das universidades federais do Brasil, estavam previstas – ou não – a realização de disciplinas que abordassem o ensino de gênero em uma perspectiva crítica. Estes objetivos nos levaram a discutir como o gênero mantinha relação com o discurso de profissionais da Atenção Básica ao pensar a construção de um diagnóstico de saúde mental em mulheres; a explorar como o gênero atuava sobre as vivências de adoecimento em saúde mental na comunidade; e, por fim, a investigar como gênero se apresentava nos Projetos Pedagógicos dos Cursos de ensino superior em Psicologia e Medicina das universidades federais do Brasil, a fim de analisar como estava sendo construída a formação inicial destes profissionais. Metodologicamente, há na tese dois percursos distintos de coleta e análise de dados. Em um primeiro momento, apresentaram-se os dados quantitativos que diziam respeito a presença – ou não – de disciplinas que abordassem o ensino de gênero em uma perspectiva crítica nas universidades federais do Brasil. Já em um segundo momento, foram apresentados os resultados qualitativos, oriundos da análise e classificação dos dados coletados através da realização de 18 entrevistas semiestruturadas com mulheres, assim autodeclaradas, moradoras da comunidade estudada e com os profissionais da saúde que atuavam na Equipe de Estratégia de Saúde da Família do local. As categorias de análise elencadas foram: Quando o amor adoece; Trabalho e cuidado como campo de reconhecimento; O nervoso do meu corpo; Palavra de médico é sentença: os dois lados da mesma moeda. A partir disso, os resultados alcançados demonstraram a relevância deste campo de estudo e apontaram para os atravessamentos do gênero na experiência de construção e vivência de um diagnóstico de saúde mental, especialmente para as mulheres, além de evidenciarem as lacunas existentes na formação inicial dos profissionais da Psicologia e da Medicina, no que diz respeito a compreensão da relação entre gênero e adoecimento mental.

Thinking about gender in the health field has become increasingly important, even more so when we discuss the process of constructing a mental health diagnosis. In this sense, this Doctoral Thesis sought to investigate two central points: (1) how gender acted in the construction of a mental health diagnosis in self-declared women living in a community in the interior of Rio Grande do Sul; (2) in the initial training of Psychology and Medicine students at federal universities in Brazil, courses were planned – or not – that addressed the teaching of gender from a critical perspective. These objectives led us to discuss how gender was related to the discourse of Primary Care professionals when thinking about the construction of a mental health diagnosis in women; to explore how gender affected the experiences of illness in mental health in the community; and, finally, to investigate how gender was presented in the Pedagogical Projects of higher education courses in Psychology and Medicine at federal universities in Brazil, in order to analyze how the initial training of these professionals was being constructed. Methodologically, there are two distinct data collection and analysis paths in the thesis. Initially, quantitative data was presented regarding the presence – or not – of disciplines that addressed gender teaching from a critical perspective in federal universities in Brazil. In a second moment, the qualitative results were presented, arising from the analysis and classification of data collected through 18 semi-structured interviews with women, self-declared, living in the studied community and with health professionals who worked in the Health Strategy Team. Local Family Health. In a second moment, the qualitative results were presented, arising from the analysis and classification of data collected through 18 semi-structured interviews with women, self-declared, living in the studied community and with health professionals who worked in the Health Strategy Team. Local Family Health. The analysis categories listed were: When love gets sick; Work and care as a field of recognition; The nervousness of my body; A doctor's word is a sentence: two sides of the same coin. From this, the results achieved demonstrated the relevance of this field of study and pointed to the intersections of gender in the experience of constructing and living a mental health diagnosis, especially for women, in addition to highlighting the gaps that exist in the initial training of professionals. of Psychology and Medicine, with regard to understanding the relationship between gender and mental illness.