Efeitos de práticas regenerativas no desempenho produtivo-ambiental da produção pastoril de bovinos de corte em diferentes biomas brasileiros

Abstract

O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, criado quase que exclusivamente em pastagens, com mínima utilização de recursos externos às unidades produtivas. Estas características tendem a se transformar em fonte de oportunidades produtivas, bem como de agregação de valor aos produtos. Entretanto, o que tem sido observado é que a atividade, com frequência, é refém de críticas, por vezes infundadas, em meio à falta de informações que permitam sua valorização. Assim, os sistemas agropecuários brasileiros têm sido apontados como fontes de degradação ambiental, de emissão de gases de efeito estufa e de poluição de cursos d’água, apesar da baixa utilização de insumos que os caracteriza, em comparação com a produção de outros países. Por outro lado, diante do crescente interesse dos consumidores pelos impactos da produção de alimentos no meio ambiente e da possibilidade de pagamentos por serviços ambientais, entender como as práticas produtivas influenciam na produção e no ambiente pode ser fundamental para a tomada de decisões. Nesse contexto, é crescente a demanda por estudos voltados para a proposição de técnicas produtivas que não só impactem menos o ambiente, mas também atuem e colaborem para a sua regeneração. Entender o impacto dos sistemas bovinos e sugerir meios para mitigar seus efeitos sobre os ecossistemas é de suma importância para garantir a resiliência dos ambientes e da atividade pecuária e com isso promover a preservação da natureza, a geração de renda e a melhoria da qualidade de vida no meio rural. Neste sentido, o presente trabalho propôs analisar: (1) a evolução do uso do termo “agricultura regenerativa” (AR) nas publicações científicas a nível mundial e; (2) os efeitos da introdução de práticas reconhecidamente regenerativas sobre a performance produtiva- ambiental da produção de bovinos de corte em pastagens nos biomas Amazônia, Cerrado, Pampa e Pantanal. A evolução do uso do termo AR foi determinada por análise bibliométrica quantitativa, enquanto as estimativas de impacto ambiental foram realizadas por meio de análises de ciclo de vida (ACV). Na primeira parte do estudo, foi observado um aumento importante no número de publicações e um maior enfoque em questões ambientais a partir de 2019. A ausência de trabalhos brasileiros evidencia uma grande oportunidade para pesquisadores envolvidos na produção diferenciada de alimentos no Brasil. Quando analisados os efeitos da aplicação de práticas reconhecidamente regenerativas sobre os sistemas típicos dos diferentes biomas, foram observados diferentes níveis de redução ou mesmo reversão dos impactos da bovinocultura sobre os ecossistemas envolvidos, por meio da intensificação do pastejo, do melhoramento de campos nativos, da recuperação de pastagens degradadas e da introdução de leguminosas forrageiras. Nesse sentido, uma convergência de esforços para difundir e implementar essas e outras práticas nos sistemas típicos de produção das diferentes regiões brasileiras é fundamental para a sustentabilidade da bovinocultura de corte em termos ambientais, sociais e econômicos.

Brazil has the largest commercial cattle herd in the world, produced almost exclusively on pastures and with minimal use of resources outside the production units. These characteristics tend to become a source of productive opportunities, as well as adding value to products. However, what has been observed is that the activity is often hostage to criticism, sometimes unfounded, amidst the lack of information that allows its appreciation. Thus, Brazilian agricultural systems have become notable as sources of environmental degradation, greenhouse gas emissions and pollution of water courses, despite the low use of inputs that characterizes them, compared to what occurs in other countries. On the other hand, given the growing interest of consumers in the impacts of food production systems on the environment and the possibility of payments for environmental services, understanding how production practices influence production and the environment can be fundamental for decision-making. In this context, there is a growing demand for studies aimed at proposing productive techniques that not only have less impact on the environment, but also act and collaborate for its regeneration. Understanding the impact of bovine systems and suggesting ways to mitigate their effects on ecosystems is of paramount importance to ensure the resilience of environments and livestock activity and thereby promote the preservation of nature, income generation and improved quality of life in rural areas. In this sense, the present work proposes to analyze: (1) the evolution of the use of the term “regenerative agriculture” (RA) in scientific publications worldwide and; (2) the effects of the introduction of recognized regenerative practices on the productive- environmental performance of beef cattle production in pastures in the Amazon, Cerrado, Pampa, and Pantanal biomes. The evolution of the use of RA was determined by quantitative bibliometric analysis, while the environmental impact estimates were carried out through life cycle analyzes (LCA). In the first part of the study, a significant increase in the number of publications and a greater focus on environmental issues since 2019 was observed. The absence of Brazilian works highlights a great opportunity for researchers involved in the differentiated production of food in Brazil. When analyzing the effects of the application of regenerative practices, different levels of reduction or even reversal of the impacts of raising cattle on the ecosystems involved were observed through the intensification of grazing, the improvement of native grasslands, the recovery of degraded pastures and the introduction of fodder legumes. In this sense, a convergence of efforts to disseminate and implement these and other practices in typical production systems of different Brazilian regions is essential for the sustainability of beef cattle in environmental, social, and economic terms.