Redes vinculares comunicativas : um dos caminhos da volta à escola

Abstract

O acesso e a permanência na escola são buscados no Brasil desde o início do século XX. Entretanto, se o acesso ao ensino fundamental avançou, a permanência ainda constitui sério problema. Em 1997, objetivando trazer de volta alunos que abandonaram a escola, é criada, em Porto Alegre, a FICAI (Ficha de Comunicação do Aluno Infrequente), instrumento que firma compromisso de reinserção do aluno, entre escola, sistema público de ensino, Conselho Tutelar e Ministério Público, em parceria com entidades comunitárias e sociais. O trabalho é lançado no cotidiano das escolas, que o realizam segundo sua forma de compreender a responsabilidade social da inclusão escolar: umas gestando formas de acolhimento ao aluno que retorna pela FICAI, outras utilizando o novo instrumento na perspectiva da reafirmação da exclusão. Concomitantemente a este processo, no ensino municipal, são implantados os ciclos de formação, caracterizados pela organização dos alunos por idade e pela promoção continuada, com retenção somente em situações excepcionais, entre elas, a infrequência, caso dos alunos em FICAI. Nesse cenário, à luz da teoria do agir comunicativo, são pesquisados os caminhos que trazem o aluno de volta e os que o afastam da escola. A tese é desenvolvida sob a forma de pesquisa-ação, utilizando círculos de discussão, entrevistas, questionários, filmagens, observações, todos registrados no diário de campo e no portfolio, instrumento que possibilita a devolução aos envolvidos durante o processo dos achados da pesquisa. O trabalho inicia numa escola municipal da periferia, que apresentava, entre as demais escolas, maior incidência e FISCAIs. A seguir, estende-se à cidade, com a realização de visitas domiciliares, que buscaram trazer de volta à escola os alunos em FICAI e indicaram a necessidade de discutir a FICAI. O instrumento instituiu rediscussão anual da FICAI, indicando para 2003 a retomada de itens, como acolhimento do aluno no retorno à escola pela FICAI, vinculação do aluno ao saber, parcerias da escola com a comunidade para realização de visitas domiciliares e atualização dos endereços dos alunos, desatualizados em razão da matrícula automática. No fórum, foi destacado o agir comunicativo ao dar a palavra a todos, palavra que, no processo da pesquisa-ação, foi devolvida aos envolvidos. Isso permitiu avançar na conscientização coletiva e individual dos participantes e no encontro dos possíveis viáveis da inclusão escolar e social das crianças e adolescentes. Como um dos caminhos da volta e da permanência na escola, destacou-se a importância da instalação nos mundos da vida e do sistema de Redes Vinculares Comunicativas. Estas, centradas na linguagem e na argumentação, segundo normas e critérios éticos, geram consensos que provocam a desnaturalização da exclusão e impedem a colonização do mundo da vida pelo mundo do sistema, ao mesmo tempo em que ampliam a capacidade discursiva dos envolvidos e, consequentemente, a relação com o saber e com os horizontes vivenciais

In Brazil, since the early twentieth century, both the access to and attendance at school have been intended. However, while the access to elementary school has advanced, the continued attendance is still a serious problem. In 1997, aiming at bringing back students that had left school, the Form of Communication of Non-Frequent Student (FICAI) was created in Porto Alegre as an instrument that firms up the commitment of reinsertion of students between school, public teaching system, Tutorship Board and Public Ministry, together with community and social institutions. The task was launched in the school quotidian, which performs it according to the way of understanding the social responsibility of school inclusion: some of them generating ways to receive students that come back through FICAI, others using the new instrument in the perspective of inclusion reaffirmations. Along with that process in the city schools, the cycles of education were implemented, whose characteristics were the ranking of students by age and their continued promotion, with retention only in uncommon situations, such as unattendance, in which FICAI students are included. In that scenery, in the light of the communicative acting, both the ways that bring back the students to school and those that withdraw them from it have been investigated. This thesis has been developed as an action-research, using groups of discussion, interviews, questionnaires, films, and observations, recorded in the field diary and in the portfolio, an instrument that enables the feedback during the process of research. This work began in a suburban city school that presented, among other schools, the highest incidence of FICAIs. Next, it was extended to the whole city, with visits to households as an attempt to bring back students through FICAI. Those visits pointed to the need of discussing FICAI. The instrument instituted annual discussion about FICAI, indicating the resumption of items in 2003 such as welcoming students in their return to school through FICAI, link between students and knowledge, partnership between schools and community in order to visit households and updating addresses of students that had not been changed because of the automatic enrollment. In the forum, the communicative acting was highlighted by giving people the chance to express themselves. Their expression, in the process of research, was recorded and returned to them, thus allowing for the advancement in both collective and individual awareness of participants and the finding of possible paths to school and social inclusion of children and adolescents. The importance of participation in life worlds and the system of Communicative Link Networks has been considered as one of the ways of coming back to and attending school. These networks, centered on language and argumentation, according to ethical norms and criteria, generate agreements which cause the denaturalization of exclusion and prevent the colonization of the life world by the system world at the same time as they widen the discoursive capacity of the participants and their relationship with knowledge and life horizons.