Da aprendizagem à memória e da memória à aprendizagem : interface epistemológica de Jean Piaget e neurociência

Abstract

Nesta dissertação de mestrado, proponho um trabalho teórico de análise conceitual sobre os processos de aprendizagem e de memória. Seguindo a perspectiva da epistemologia genética proposta por Jean Piaget e de neurocientistas, principalmente Eric Kandel, o presente trabalho parte da concepção da necessidade da ação do sujeito para que as aprendizagens e, portanto, as memórias sejam possíveis de serem construídas. As aprendizagens são compreendidas como as capacidades de mudanças no sujeito provocadas através de experiências (física e lógico-matemática) e possibilitadas pelo conjunto de memórias. As memórias, além de serem o resultado da aprendizagem, permitem as (re)construções dos objetos experimentados. Cada tipo de memória é formada (e consolidada e retomada) por um tipo de aprendizagem diferente. Dessa forma, por haver diferentes tipos de memórias, há, também, diversos tipos de aprendizagem e, assim, ao longo da dissertação, busco destacar e ressaltar as diferenças entre as memórias – de trabalho e de longa duração, declarativas e não declarativas – e, portanto, as diferenças entre aprendizagens. Busco salientar, também, a premissa básica de que a assimilação do objeto ocorre somente com aquilo que é significativo para o sujeito, ou seja, aquilo que ele é capaz de assimilar, devido a suas estruturas previamente construídas. As memórias/aprendizagens têm um certo limite, para que não haja a construção do esquecimento são necessários dois movimentos fundamentais: a afetividade e a repetição. Para isso, o texto está estruturado em seis capítulos: nos dois primeiros busco conceituar os processos de aprendizagem e memória; nos próximos, respectivamente, abordo os limites desses processos, a questão da afetividade (aquilo que afeta) e a prática da repetição (retomada); por fim, o papel da escola nesses processos.

In this Master’s thesis, I propose a theoretical work of conceptual analysis on the processes of memory and learning. Following the theoretical perpectives of Genetic Epistemology proposed by Jean Piaget, and studies of neuroscientists, which include Eric Kandel’s point of view as the main one, this work starts from the conception of human subject's need of action in order to enable the creation of learning and memory. Learning is understood as the capacity of change in a human subject given by (physical and logical-mathematical) experiences and is made possible by memory sets. Memories, in addition to being the result of learning, allow (re)construcions of experienced objects. Each type of memory is formed (and consolidated and resumed) by a different type of learning. Thus, by having different types of memories, there are, also, several types of learning, and so, throughout this thesis, I seek to highlight and emphasize the differences between memories – work and long-lasting ones, declarative and non declarative ones – and, therefore, the differences between learning. I also seek to stress the basic premise that the assimilation of the object occurs only with what is significant for the human subject, that is, what one is capable of assimilating, due to one’s previously constructed structures. Memory and learning have a certain limit, so in order to avoid forgetfulness, two fundamental steps are needed: affectivity and repetition. Thus, the text is structured in six chapters: in the first two ones I seek to conceptualize the processes of learning and memory; in the next ones, respectively, I approach the limits of these processes, the topic of affectiveness (what affects one) and the practice of repetition (resume); lastly, the last chapter is about the role of school in these processes.

Dans ce travail de Master, je propose un travail théorique d'analyse conceptuelle sur les processus d'apprentissage et de mémoire. En partant de la perspective de l'épistémologie génétique proposée par Jean Piaget et les neuroscientifiques, notamment Eric Kandel, ce travail émerge dès la conception de la nécessité de l'action du sujet pour que les apprentissages et, par conséquente, les mémoires soient possibles à construire. Les apprentissages sont compris comme les capacités de changements dans le sujet induit par les expériences (physiques et logico-mathématiques) et rendus possibles par l'ensemble des souvenirs. Les mémoires, au-delà d'être le résultat de l'apprentissage, permet la (re)construction des objets expérimentés. Chaque type de mémoire est formé (et consolidé et reprise) par un type d'apprentissage différent. De cette façon, comme il existe différents types de mémoires, il y a aussi différents types d'apprentissage et, ainsi, tout au long de ce travail, j'essaie de mettre en évidence et de faire ressortir les différences entre les mémoires – de travail et à long terme, déclaratifs et non déclaratifs – et, de ce fait, les différences entre les apprentissages. Par ailleurs, j'envisage de souligner, la prémisse basique selon lequel l'assimilation de l'objet ne se produit qu'avec celui-là significatif au sujet, c'est-à-dire celui-ci qu'il est capable d'assimiler, dû à ses structures préalablement construites. Les souvenirs/apprentissages ont une certaine limite, pour qu'il n'ait pas la construction de l'oubli sont nécessaires deux mouvements fondamentaux: l'affectivité et la répétition. Dans ce sens, le texte est structuré en six chapitres: dans les deux premiers, je cherche à conceptualiser les processus d'apprentissage et de mémoire; dans les deux suivants, respectivement, j'aborde les limites de ces processus, la question de l'affectivité (ce qu'elle affecte) et la pratique de la répétition (reprise); enfin, le rôle de l'école dans ces processus.