Representações sociais e ideologia : o usuário de drogas segundo Correio do Povo e Zero Hora

Abstract

Esta pesquisa investiga o modo como a mídia impressa, no Rio Grande do Sul, retrata os usuários de drogas, tentando compreender quem é este usuário para os jornais e por que o mostram de maneiras específicas. Discute o tema da mídia e do uso de drogas, com base na teoria das Representações Sociais (Moscovici, 1961). Procura identificar e analisar que tipo de representações sociais a mídia produz sobre o usuário e que questões ideológicas estão atravessadas por esta produção jornalística, considerando que o tema das drogas, como o uso de crack, por exemplo, tem ganhado destaque nos jornais, televisão e internet. A metodologia envolveu a análise de conteúdo, conforme apresentada por Bauer e Gaskell (2010), das reportagens de dois jornais de grande circulação no Rio Grande do Sul: Correio do Povo e Zero Hora. Para a interpretação dos dados foi empregado o referencial metodológico da Hermenêutica de Profundidade (Thompson, 2009), que considera os contextos sócio-históricos e espaço-temporais que situam o fenômeno, podendo também realizar análises de discurso e de aspectos ideológicos presentes no fenômeno social midiático. Os achados demonstram o destaque dado pela mídia às consequências danosas não apenas ao usuário, mas para a sociedade como um todo, privilegiando a periculosidade, a improdutividade, a insanidade, a irreversibilidade, o individualismo e a heterogeneidade como representações sociais ligadas a esses sujeitos. Podem ser apontadas estratégias ideológicas como a legitimação, a fragmentação, a reificação e a dissimulação. Nota-se a necessidade de ampliação dos estudos sobre essa realidade que envolve a área da saúde mental, além da necessidade de atentar para a produção da mídia.

This research investigates how the print media, in Rio Grande do Sul, portrays drug users, trying to understand who this user is for the media and why it is shown in specific ways. Discusses the media and drug use based on the Theory of Social Representations (Moscovici, 1961). Seeks to identify and analyze what kind of social representations are produced by the media about the user and ideological issues that are crossed by this journalistic production, considering that the subject of drugs, such as crack use, for example, has gained prominence in the newspapers, television and internet. The methodology involved a content analysis, as presented by Bauer and Gaskell (2010), of the reports of two major newspapers in Rio Grande do Sul: Correio do Povo and Zero Hora. For the interpretation of the data the methodological framework of Depth Hermeneutics (Thompson, 2009) is used, which considers the socio-historical context which situates the phenomenon, and can also perform analysis of discourse and ideological aspects present in the social media phenomenon. The findings demonstrate the emphasis given by the media to damaging consequences not only to the user but to society as a whole, emphasizing the danger, the unproductive, insanity, irreversibility, individualism and heterogeneity as social representations linked to the user. Strategies such as the ideological legitimation, fragmentation, reification and dissimulation can be identified. The need for expanded studies of this reality that involves mental health is evident, beyond the need to pay attention to the media production.