Os fantasmas que ainda insistem em assombrar : uma interpretação de Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan

Abstract

O presente trabalho propõe realizar uma investigação sociológica da obra Devassos no Paraíso, de João Silvério Trevisan. Considerando que o trabalho do escritor objetiva produzir uma arqueologia da memória queer, retratando a história de figuras marginalizadas, esquecidas e silenciadas da comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil. Nesse sentido, o estudo se dedica a demonstrar as condições sociais objetivas, abordando a história editorial e intelectual da obra, ou seja, como Devassos no Paraíso foi concebido, ressaltando questões de produção e recepção da obra, bem como o contexto histórico da qual a homossexualidade foi problematizada enquanto um fenômeno cultural e histórico. A obra é analisada como uma narração sobre a fragmentação da experiência, na qual o passado é atualizado no presente, no entanto, a adoção desta perspectiva é possível à medida em que apreendemos o fato biográfico que subjaz o questionamento a respeito da sua homossexualidade enquanto uma metáfora para o autoexílio. O conceito de ghostly matters fornece categorias sociológicas que permitem entender como a homossexualidade em Devassos no Paraíso é constituída como um assombro, como uma presença viva no imaginário social do Brasil na forma de violências físicas e simbólicas como a homofobia, o controle e, ao mesmo tempo, a resistência, quando as invisibilidades registradas no passado permanecem no presente como temores sociais que incidem sobre corpos e subjetividades dissidentes.

This paper proposes a sociological investigation of João Silvério Trevisan's work, "Perverts in Paradise" which aims to produce an archaeology of queer memory, portraying the history of marginalized, forgotten, and silenced figures within the LGBTQIAPN+ community in Brazil. In this sense, the study dedicates itself to demonstrating the objective social conditions, addressing the editorial and intellectual history of the work—that is, how " Perverts in Paradise” was conceived, highlighting issues of production and reception, as well as the historical context in which homosexuality was problematized as a cultural and historical phenomenon. The work is analyzed as a narrative about the fragmentation of experience, in which the past is updated in the present. However, adopting this perspective is possible as we grasp the biographical fact that underlies the questioning of his homosexuality as a metaphor for self-exile. The concept of ghostly matters provides sociological categories that allow us to understand how homosexuality in Perverts in Paradise is constituted as a haunting, as a living presence in the social imaginary of Brazil in the form of physical and symbolic violence such as homophobia, control and, at the same time, resistance, when the invisibilities recorded in the past remain in the present as social fears that affect dissident bodies and subjectivities.