Síndrome de cushing : aspectos psicológicos relacionados ao excesso de cortisol

Abstract

Esta dissertação teve como objetivo avaliar a existência e impacto clínico de aspectos psicológicos associados à Síndrome de Cushing (SC), uma condição endocrinológica caracterizada pelo excesso crônico de cortisol. Para isto, foi elaborado um estudo quantitativo empírico observacional e correlacional, e uma revisão sistemática de estudos de caso. No primeiro estudo, foram utilizados os instrumentos: Hospital Anxiety and Depression Scale, Pittsburgh Sleep Quality Index, Fatigue Severity Scale, Multidimensional Body-Self Relations Questionnaire-Appearance Scales, Cushing Quality of Life Questionnaire, World Health Organization Quality of Life-Bref, and Adult Self-Report inventory. Foram incluídos 20 participantes de um hospital do sul do Brasil, de ambos os sexos com idade entre 18 e 59 anos. Os participantes apresentaram altas taxas de ansiedade (60%), depressão (40%), dificuldades de sono (75%) e fadiga (70%). Os participantes também relataram insatisfação corporal significativa (80%) e preocupação excessiva com o peso (45%). Além disso, uma pior qualidade de vida específica de Cushing foi fortemente correlacionada com ansiedade, depressão e fadiga (p.20). Este estudo indicou uma quantidade significativa de sintomas psicológicos em pacientes com Cushing, mesmo após a remissão. No segundo estudo, a revisão sistemática de estudos de caso teve como objetivo mapear e categorizar sintomas psiquiátricos no hipercortisolismo, levantando a hipótese de uma gama mais ampla de manifestações psiquiátricas além da ansiedade e da depressão e de prejuízos cognitivos além da memória. Seguindo as diretrizes PRISMA, foi realizada uma busca, registrada no PROSPERO, de artigos da APA, Embase, PubMed e Scopus, resultando em 66 estudos incluídos, totalizando 74 casos, a maioria mulheres, com idades entre 13 e 81 anos. Os resultados revelaram que 93% dos casos apresentaram queixas psiquiátricas, incluindo depressão 7 (39,2%), psicose/sintomas esquizofrênicos (35,1%), ideação/tentativas suicidas (20,3%), ansiedade (17,5%), ataques de pânico (2,7%) e transtorno de estresse pós-traumático (1,4%). Queixas cognitivas foram relatadas em 32% dos casos, principalmente queixas cognitivas gerais (18,9%), sendo na maioria dificuldade de concentração, comprometimento da memória (9,5%) e déficits de atenção (5,4%). Se observou uma sobreposição de sintomas psiquiátricos e cognitivos em 26% dos casos. Esta revisão destaca a presença de sintomas clinicamente relevantes, mas frequentemente subnotificados, como mania, psicose e comportamento suicida na síndrome de Cushing. A partir desses dois estudos é possível entender que existem diversos aspectos relacionados ao Cushing e estes podem ter impactos importantes na vida do paciente. A avaliação clínica robusta e multidisciplinar pode ser importante para intervenções psicológicas mais qualificadas para pacientes com hipercortisolismo.

This dissertation aimed to evaluate the existence and clinical impact of psychological aspects associated with Cushing's Syndrome (CS), an endocrinological condition characterized by chronic excess cortisol. To this end, an empirical, observational, and correlational quantitative study and a systematic review of case studies were conducted. In the first study, the following instruments were used: Hospital Anxiety and Depression Scale, Pittsburgh Sleep Quality Index, Fatigue Severity Scale, Multidimensional Body-Self Relations Questionnaire-Appearance Scales, Cushing Quality of Life Questionnaire, World Health Organization Quality of Life-Bref, and Adult Self-Report inventory. Twenty participants from a hospital in Southern Brazil, of both sexes, aged between 18 and 59 years, were included. Participants presented high rates of anxiety (60%), depression (40%), sleep difficulties (75%), and fatigue (70%). Participants also reported significant body dissatisfaction (80%) and excessive concern with weight (45%). Furthermore, poorer Cushing-specific quality of life was strongly correlated with anxiety, depression, and fatigue (p.20). This study indicated a significant burden of psychological symptoms in patients with Cushing's, even after remission. Regarding the second study, the systematic review of case studies aimed to map and categorize psychiatric symptoms in hypercortisolism, hypothesizing a broader range of psychiatric manifestations beyond anxiety and depression and cognitive impairments beyond memory. Following PRISMA guidelines, a search, registered in PROSPERO, of APA, Embase, PubMed, and Scopus articles was conducted resulting in 66 studies included, totaling 74 cases, mostly women, aged 13 to 81. The results revealed that 93% of cases presented psychiatric complaints, including depression (39.2%), psychosis/schizophrenic symptoms (35.1%), suicidal ideation/attempts (20.3%), anxiety (17.5%), panic attacks (2.7%), and post-traumatic stress disorder (1.4%). Cognitive complaints were reported 9 in 32% of cases, mainly general cognitive complaints (18.9%), mostly difficulty concentrating, memory impairment (9.5%), and attentional deficits (5.4%). An overlap of psychiatric and cognitive symptoms was observed in 26% of cases. This review highlights the presence of clinically relevant, but frequently underreported, symptoms such as mania, psychosis, and suicidal behavior in Cushing's syndrome. From these two studies, it is possible to understand that several aspects are related to Cushing's, which can have important impacts on the patient's life. Robust and multidisciplinary clinical assessment can be important for more qualified psychological interventions for patients with hypercortisolism.