A constituição de um discurso fundador : o ensino experimental no ensino de Física

Abstract

Os experimentos constituem para a Física e para as outras Ciências da Natureza, como a Biologia e a Química, parte importante e muitas vezes necessária de sua prática científica. O mesmo não pode ser necessariamente estendido para a educação em ciências e, mais especificamente, para o ensino dessas disciplinas. As disciplinas escolares possuem um desenvolvimento próprio, em que atividades experimentais podem ser consideradas importantes, mas nem sempre necessárias para o processo de ensino e aprendizagem. No entanto, segue sendo comum a existência de enunciados que colocam o ensino experimental como o maior índice de qualidade para a educação em ciências e, ao contrário, a falta deste tipo de ensino como a causa de seu (possível) fracasso. Diante desse cenário, com o aporte da Análise de Discurso materialista, neste trabalho faço a leitura do "ensino experimental" na educação em ciências, procurando compreender os efeitos de sentido que podem ser evocados em discursos do ensino experimental na educação em ciências. Para isso, diversos documentos foram incluídos no processo de montagem de um arquivo do ensino experimental na educação em ciências. Entre eles estão alguns documentos que fazem parte do movimento renovador do ensino de ciências, período entre o final de 1940 se estendendo até o final de 1960, anteriormente à constituição da área de pesquisa em Educação em Ciências no Brasil. Dentro do arquivo, o ensino experimental parece funcionar como fundador de uma nova discursividade, na qual se torna recorrente formulações do tipo "o ensino experimental constitui a base indispensável para X" e a presença de uma tensão constitutiva entre posições discursivas distintas e opostas: nós, "cientistas", contra eles, "professores".

The experiments constitute for the Physics and to the others Natural Sciences, as the Biology and the Chemistry, important part and often necessary of your scientific practice. The same cannot be necessarily extended for the science education and, more specifically, for the teaching of these disciplines. The school disciplines have their own development, in which experimental activities can be considered important, but not always necessary for the teaching and learning process. However, it is still common to find statements that place experimental teaching as the greatest indicator of quality for science education and, on the contrary, the lack of this type of teaching as the cause of its (possible) failure. Given this scenario, with the support of materialist Discourse Analysis, in this work I read "experimental teaching" in science education, seeking to understand the effects of meaning that can be evoked in discourses of experimental teaching in science education. To this end, several documents were included in the process of assembling an archive of experimental teaching in science education. Among them are some documents that are part of the movement to renew science teaching, a period between the end of 1940 and the end of 1960, prior to the establishment of the research area in Science Education in Brazil. Within the archive, experimental teaching seems to function as the founder of a new discursivity, in which formulations such as "experimental teaching constitutes the indispensable basis for X" and the presence of a constitutive tension between distinct and opposing discursive positions become recurrent: us, "scientists", against them, "teachers".