Impacto no desempenho cognitivo em pessoas que tiveram COVID-19 e o fator protetor da reserva cognitiva

Abstract

A Pandemia de COVID-19 (Coronavirus Disease 2019), que teve início em 2020, trouxe uma série de consequências negativas para a população mundial, desde um elevado número de óbitos, passando por impactos diretos na economia dos países, até chegar em diversas sequelas a médio e longo prazos em indivíduos sobreviventes da doença. Dentre essas sequelas se destaca o comprometimento cognitivo percebido e relatado por esses indivíduos, onde foram observados prejuízos nos domínios da memória e atenção. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi investigar as relações entre variáveis sociodemográficas e clínicas, gravidade da COVID-19 e a Reserva Cognitiva com variáveis cognitivas e qual a influência dessas relações no desempenho cognitivo em N = 63 participantes (52 mulheres e 11 homens), com idade entre 22 e 78 anos, residentes na cidade de Porto Alegre-RS, que tiveram diagnóstico confirmado da doença. Além disso, foi investigada a influência da Reserva Cognitiva como fator protetor da cognição desses participantes. Para tal, foram aplicados questionários sociodemográfico e clínico e as versões brasileiras dos seguintes instrumentos psicológicos: Questionário de Falhas Cognitivas (CFQ); Avaliação Cognitiva de Montreal (MoCA), para rastreio da cognição global; Escala de Reserva Cognitiva (ERC); Rey Verbal (RAVLT), para investigar dificuldades relacionadas à memória; Escala Wechsler Abreviada de Inteligência (WASI), para avaliação do funcionamento intelectual atual; e o subteste Dígitos da WAIS-III, para avaliar a atenção. A coleta de dados foi realizada presencialmente e individualmente, com duração média de 2 horas e 30 minutos. Os resultados obtidos indicaram que 26 e 23 dos participantes apresentaram algum comprometimento na cognição global e da memória, respectivamente, e apenas um participante também apresentou problemas de atenção. Foram encontradas evidências da existência de um maior comprometimento da cognição global e da memória imediata nos participantes que possuíam nível de escolaridade igual ou inferior ao ensino fundamental ou que realizavam atividades de baixa complexidade ocupacional. Além disso, foram encontradas evidências da influência da gravidade da doença na piora da cognição global, das falhas cognitivas e no domínio da memória dos participantes que sofreram com os sintomas mais graves da COVID-19. Os achados significativos do estudo mostraram o efeito persistente da COVID Longa no declínio cognitivo e a influência dos anos de estudo, atividade física, quociente de inteligência e complexidade ocupacional na formação da Reserva Cognitiva. Nesse contexto, foram encontradas evidências do fator protetor da Reserva Cognitiva no impacto do SARS-CoV-2 na cognição dos participantes que tiveram COVID-19.

The COVID-19 (Coronavirus Disease 2019) pandemic, which began in 2020, brought a series of negative consequences to the global population, ranging from a high number of deaths to direct impacts on the economies of countries, and even leading to various medium and long-term sequelae in survivors of the disease. Among these sequelae, cognitive impairment perceived and reported by these individuals stands out, with impairments observed in the domains of memory and attention. In this context, the aim of this study was to investigate the relationships between sociodemographic and clinical variables, COVID-19 severity, and Cognitive Reserve with cognitive variables and the influence of these relationships on cognitive performance in N = 63 participants (52 women and 11 men), aged between 22 and 78 years, residing in the city of Porto Alegre-RS, who had a confirmed diagnosis of the disease. Additionally, the influence of Cognitive Reserve as a protective factor for the cognition of these participants was investigated. To do so, sociodemographic and clinical questionnaires and the Brazilian versions of the following psychological instruments were applied: Cognitive Failures Questionnaire (CFQ); Montreal Cognitive Assessment (MoCA), for global cognition screening; Cognitive Reserve Scale (CRS); Rey Auditory-Verbal Learning Test (RAVLT), to investigate memory-related difficulties; Wechsler Abbreviated Scale of Intelligence (WASI), for current intellectual functioning assessment; and the Digit Span subtest of WAIS-III, to evaluate attention. Data collection was conducted in-person and individually, with an average duration of 2 hours and 30 minutes. The results obtained indicated that 26 and 23 of the participants showed some impairment in global cognition and memory, respectively, and only one participant also showed attention problems. Evidence was found for a greater impairment of global cognition and immediate memory in participants with a level of education equal to or lower than elementary school or who performed low occupational complexity activities. Additionally, evidence was found for the influence of disease severity on worsening global cognition, cognitive failures, and memory domain in participants who suffered from the most severe COVID-19 symptoms. The significant findings of the study showed the persistent effect of Long COVID on cognitive decline and the influence of years of education, physical activity, intelligence quotient, and occupational complexity on the formation of Cognitive Reserve. In this context, evidence of the protective factor of Cognitive Reserve in the impact of SARS-CoV-2 on the cognition of participants who had COVID-19 was found.