Canais de comercialização e mercados acessados pelos pecuaristas familiares nos Campos de Altitude, RS

Abstract

A pecuária familiar desempenha um papel econômico, social, cultural e ambiental essencial nos Campos de Altitude, no Rio Grande do Sul, consolidando-se ao longo dos séculos como parte do processo histórico regional. Esta pesquisa busca caracterizar a dinâmica socioprodutiva, ambiental e econômica dessa atividade, além de identificar os canais de comercialização e os mercados acessados pelos pecuaristas familiares. Para isso, adotou-se uma abordagem qualiquantitativa, com entrevistas semiestruturadas, questionários abertos, além de consulta ao Censo Agropecuário, de 2017, do IBGE. A análise dos dados utilizou estatística descritiva e análise de conteúdo, com resultados apresentados em gráficos e tabelas. Os achados revelam que a pecuária está presente em pelo menos 70% das propriedades rurais da região, predominando em áreas afastadas dos centros urbanos. Mais da metade dessas terras são arrendadas, enquanto as propriedades próprias variam de 14 a 610 hectares, com média de 135,7 hectares por estabelecimento. O perfil predominante dos pecuaristas é de pessoas do sexo masculino acima de 60 anos, representando mais de 45% dos entrevistados, com idade média de 54 anos, destacando-se a tradição familiar como principal fator de permanência na atividade. Quanto à comercialização, a maior parte dos pecuaristas vende terneiros e vacas de descarte para terminadores e frigoríficos, enquanto a venda de touros e bois gordos é menos expressiva devido às exigências de um ciclo produtivo mais longo e maior oferta alimentar. Os mercados predominantes são os de proximidade, com a venda de terneiros, novilhos e touros; após, os mercados locais ou territoriais, abrangendo todas as fases dos sistemas produtivos. Já os mercados convencionais são limitados à venda de bois gordos para exportação, enquanto os mercados públicos ou institucionais não apresentam relevância na pecuária familiar da região. Os resultados confirmam a importância econômica, cultural e ambiental da pecuária familiar nos Campos de Altitude, que coloca em evidência seu papel na manutenção das tradições locais. A necessidade de novos estudos sobre práticas culturais de manejo e sua relação com a conservação ambiental se destaca como essencial para ampliar o conhecimento técnico e fomentar o desenvolvimento local de referida região.

Family cattle ranching plays an essential economic, social, cultural, and environmental role in the high-altitude fields region of Rio Grande do Sul, having consolidated over centuries as part of the region’s historical process. This research aims to characterize the socio-productive, environmental, and economic dynamics of this activity, as well as to identify the marketing channels and markets accessed by family cattle ranchers. To achieve this, a quali-quantitative approach was adopted, including semi-structured interviews, open and closed questionnaires, and consultation of the 2017 Agricultural Census conducted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). Data analysis employed descriptive statistics and content analysis, with results presented in graphs and tables. Findings indicate that cattle ranching is present in at least 70% of rural properties in the region, predominantly in areas far from urban centers. More than half of these lands are leased, while privately owned properties range from 14 to 610 hectares, with an average size of 135.7 hectares per establishment. The predominant profile of ranchers consists of men over 60 years old, representing more than 45% of respondents, with an average age of 54 years. The family tradition stands out as the primary factor for continuity in the activity. Regarding commercialization, most ranchers sell calves and cull cows to finishers and slaughterhouses, while the sale of bulls and fattened steers is less significant due to the longer production cycle and greater feed requirements. The main markets are proximity markets, involving the sale of calves, yearlings, and bulls, followed by local or territorial markets, which cover all phases of the production system. Meanwhile, conventional markets are limited to the sale of fattened steers for export, while public or institutional markets have no significant presence in family cattle ranching in the region. The results confirm the economic, cultural, and environmental significance of family cattle ranching in the high altitude fields, highlighting its role in maintaining local traditions. The need for further studies on cultural livestock management practices and their relationship with environmental conservation is emphasized as essential for expanding technical knowledge and fostering local development in the region.