Avaliação dos efeitos a longo prazo decorrentes da infecção congênita pelo vírus zika em ratos

Abstract

A Síndrome Congênita do Zika vírus (SCZ) é um termo adotado para definir um conjunto de anomalias congênitas e caracteriza-se por alterações estruturais e/ou funcionais corporais na prole decorrentes da infecção pelo vírus Zika durante a gestação. As consequências sobre o sistema nervoso são inúmeras e se devem ao neurotropismo que o vírus possui; inclusive a microcefalia decorrente da infecção gestacional. Portanto, os danos mais visíveis encontram-se em regiões relacionadas à cognição e à função motora. Existem anormalidades morfológicas identificadas tardiamente, sugerindo que os prejuízos podem ser mantidos também ao longo do desenvolvimento. Desta forma, o objetivo deste estudo é analisar os possíveis efeitos causados pelo vírus Zika em ratos Wistar a longo prazo avaliando parâmetros cognitivos e de neuroplasticidade por um modelo de infecção congênita. Ratas Wistar prenhes foram separadas em dois grupos que receberam injeções intraperitoneais no dia gestacional nove: controle, ratas injetadas com meio de diluição do vírus (CT) Zika, ratas expostas ao ZIKV-BR (cepa brasileira) na dose de 2 x 106 concentração viral (ZIKV). No dia pós-natal 21 (DPN21), ocorreu o desmame dos filhotes e as progenitoras foram eutanasiadas. Em dois momentos, no DPN90 e no DPN180, grupos distintos de animais foram submetidos a testes comportamentais de campo aberto, reconhecimento de objetos, labirinto aquático de Morris, e amostras de córtex, estriado e hipocampo foram submetidas à quantificação de densidade neural e análises dos marcadores GFAP e NeuN por Western Blot. Nossos resultados indicam que os animais DPN90 revelaram redução da proteína GFAP no hipocampo, este achado pode evidenciar que os animais infectados demonstraram um prejuízo astrocitário inicial. Além disso, considerando DPN180, os roedores infectados não conseguiram identificar o objeto de novidade inserido no ambiente, o que indica que o ZIKV pode prejudicar a formação da memória de referência. Em conclusão, este estudo sugere um risco ainda que inicial da infecção congênita a longo prazo, uma vez que déficits isolados foram encontrados e podem tornar-se ainda mais evidentes considerando possíveis alterações ao longo da vida, assim como os veiculados ao processo de senescência que podem ser potencializadas por outras patologias ou até mesmo dificultar o cotidiano dos indivíduos.

Congenital Zika virus syndrome (CZS) is a term adopted to define a set of congenital anomalies and is characterized by structural and/or functional body changes in the offspring resulting from Zika virus infection during pregnancy. The consequences on the nervous system are numerous and are due to the neurotropism that the virus has; including microcephaly resulting from gestational infection. Therefore, the most visible damage is found in regions related to cognition and motor function. There are late-identified morphological abnormalities, suggesting that damage may be maintained throughout development as well. Thus, the objective of this study is to analyse the possible effects caused by the Zika virus in Wistar rats in the long term, evaluating cognitive and neuroplasticity parameters through a model of congenital infection. Pregnant Wistar rats were separated into two groups that received intraperitoneal injections on gestational day nine: control, rats injected with Zika virus dilution medium (CT), rats exposed to ZIKV-BR (Brazilian strain) at a dose of 2 x 106 viral concentration (ZIKV). On postnatal day 21 (PND21), the pups were weaned and the mothers were euthanized. On two occasions, at PND90 and PND180, different groups of animals were submitted to open field behavioral tests, object recognition, Morris water maze, and samples of cortex, striatum and hippocampus were submitted to quantification of neural density and analyzes of the GFAP and NeuN markers by Western Blot. Our results indicate that the PND90 animals showed a reduction of GFAP protein in the hippocampus, this finding way show that the infected animals showed an initial astrocytic damage. In addition, considering PND180, infected rodents were unable to identify the novelty object inserted in the environment, which indicates that ZIKV can impair the formation of reference memory. In conclusion, this study suggests an even initial risk of congenital infection in the long term, since isolated deficits were found and may become even more evident considering possible changes throughout life, as well as those transmitted to the senescence process that they can be potentiated by other pathologies or even hinder the daily lives of individuals.