Saberes ancestrais e matemática: explorando o uso das ervas a partir de uma investigação em aulas de matemática

Abstract

A obrigatoriedade do estudo da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena a partir da lei 10.639 e 11.645, associada às crescentes denúncias de intolerância religiosa impõem a necessidade de abordarmos não apenas a história e cultura dos povos, mas também elementos da religiosidade afro-brasileira. Assim, com base nos referenciais da ERER (Educação para as Relações Étnico-Raciais), amparados pelo conceito de decolonialidade, de modo a ir contra o epistemicídio e a colonização do saber, decidimos explorar os saberes ancestrais afro-brasileiros e levá-los para sala de aula em uma atividade de investigação matemática. Nesse sentido, buscamos evidenciar como saberes ancestrais sobre o uso das ervas e conhecimentos matemáticos são mobilizados em uma atividade investigativa em aulas de matemática. Para isso, analisamos de que forma os estudantes mobilizam memórias e vivências, ao longo das aulas, a respeito do uso das ervas; como a matemática é mobilizada durante a prática de modo a dar sustentação teórica às investigações dos grupos no que tange o uso das ervas; e de que maneira os alunos refletem sobre os saberes ancestrais a partir da investigação. Desta forma, foi possível perceber os alunos mobilizando não só conceitos matemáticos como também suas vivências e memórias de modo a dar sentido à investigação ao relacionarem a frase com outros acontecimentos, trazendo-a para articular com suas vivências e lembranças, conhecimentos e saberes para compreender melhor sobre o uso das ervas estudadas. Além disso, a matemática - principalmente através da análise cromatográfica das ervas (alecrim, lavanda e canela) - foi fundamental para que eles não só comprovassem as informações pesquisadas, mas também para que se aprofundassem nas investigações. Por fim, constatamos que os alunos puderam deslocar o olhar de modo a pensar sobre a relação entre os saberes ancestrais e os conhecimentos científicos-modernos.

The mandatory study of African, Afro-Brazilian and indigenous history and culture based on the laws 10.639 and 11.645, associated with the growing denunciations of religious intolerance, imposes the need to approach not only the history and culture of the peoples, but also elements of Afro-Brazilian religiosity. Thus, based on ERER's (Education for Ethnic-Racial Relations) references, supported by the concept of decoloniality, in order to go against epistemicide and the colonization of knowledge, we decided to explore Afro-Brazilian ancestral knowledge and take it to the classroom in a mathematical investigation activity. In this sense, we seek to evidence how ancestral knowledge about the use of herbs and mathematical knowledge are mobilized in an investigative activity in mathematics classes. For this, we analyze how students mobilize memories and experiences, throughout the classes, regarding the use of herbs; how mathematics is mobilized during practice in order to give theoretical support to the investigations of the groups regarding the use of herbs; and how students reflect on ancestral knowledge from the investigation. In this way, it was possible to notice the students mobilizing not only mathematical concepts but also their experiences and memories in order to give meaning to the investigation by relating the sentence to other events, bringing it to articulate with their experiences, memories and knowledges to better understand the use of the herbs studied. In addition, mathematics - mainly through chromatographic analysis - was essential for them not only to prove the information researched, but also for them to delve deeper into the investigations. Finally, we found that the students were able to shift their gaze in order to think about the relationship between ancestral knowledge and scientific-modern knowledge.