Validade e confiabilidade da Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS) : uma análise crítica com base na Exploratory Graph Analysis (EGA)

Abstract

A Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS) é amplamente utilizada para avaliar sintomas associados aos transtornos do espectro da esquizofrenia. Apesar de seu uso extensivo em estudos clínicos e de pesquisa, a escala apresenta limitações significativas em relação às evidências de validade de sua estrutura interna. Estudos prévios relatam divergências quanto ao número de fatores subjacentes, além de instabilidade na alocação de itens aos fatores. O modelo de cinco fatores — composto por sintomas positivos, negativos, cognitivos, afetivos e de hostilidade — é o mais amplamente difundido, porém carece de consenso sobre quais itens carregam em cada fator, além de não apresentar índices robustos de ajuste nos modelos teóricos propostos. Diante desse cenário, este estudo tem como objetivo explorar a estrutura interna da PANSS em uma amostra brasileira, com vistas a levantar questões e hipóteses sobre a variabilidade dos resultados observada na literatura. Participaram do estudo 1.262 indivíduos, recrutados em diferentes centros de pesquisa no Brasil. Os dados foram explorados com o método Exploratory Graph Analysis (EGA), combinado com a reamostragem de 1.000 interações. Foram estimadas cargas de rede e aplicado o algoritmo Loading Comparison Test (LCT) para verificar o padrão dos dados. Os resultados identificaram o modelo de cinco dimensões como o mais adequado. Contudo, a análise de reamostragem revelou instabilidade significativa, com o número de dimensões variando de quatro a sete. Dos 30 itens avaliados, 6 demonstraram instabilidade, sendo alocados em diferentes dimensões. Além disso, diversos itens apresentaram cargas de rede baixas ou dispersas em diferentes dimensões, corroborando a instabilidade da estrutura interna da escala. Diante desses resultados, recomenda-se o desenvolvimento de uma rede de colaboração em pesquisa para revisar e aprimorar as propriedades psicométricas da PANSS. Este processo deve considerar as evidências acumuladas sobre o transtorno nos últimos 30 anos, bem como as diretrizes metodológicas atuais para a elaboração de instrumentos clínicos. Sugere-se uma revisão abrangente que inclua a adição e exclusão de itens, reformulação de descrições, revisão da escala Likert utilizada para mensurar a gravidade dos sintomas e atualização do modelo teórico subjacente. A hipótese central é de que a PANSS, em seu formato atual, apresenta limitações relevantes na avaliação do transtorno e requer melhorias para assegurar sua validade e confiabilidade.

The Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS) is widely used to assess symptoms associated with schizophrenia spectrum disorders. Despite its extensive use in clinical and research studies, the scale presents significant limitations regarding evidence of the validity of its internal structure. Previous studies report discrepancies in the number of underlying factors, as well as instability in the allocation of items to these factors. The five-factor model—comprising positive, negative, cognitive, affective, and hostility symptoms—is the most widely recognized; however, there is no consensus on which items belong to each factor, nor does the model exhibit robust fit indices in proposed theoretical frameworks. Given this context, the present study aimed to explore the internal structure of the PANSS in a Brazilian sample to raise questions and hypotheses regarding the variability of results reported in the literature. Participated 1,262 individuals recruited from various research centers in Brazil. The data were analyzed using the Exploratory Graph Analysis (EGA), combined with 1,000 resampling iterations. It was estimate network loadings, and apply a Loading Comparison Test (LCT) algorithm to verify data pattern. The results identified the five-dimension model as the most suitable. However, the bootstrap analysis revealed significant instability, with the number of dimensions ranging from four to seven. Of the 30 items assessed, 6 demonstrated instability, allocate in different dimensions. Additionally, several items presented low network loadings or cross-loadings distributed across multiple dimensions, corroborating the instability of the scale’s internal structure. In light of these findings, it is recommend the development of a collaborative research network to revise and enhance the psychometric properties of the PANSS. This process should consider accumulated evidence on schizophrenia spectrum disorders over the past 30 years and current methodological guidelines for developing clinical instruments. We suggest a comprehensive revision, including the addition and exclusion of items, reformulation of item descriptions, revision of the Likert scale used to measure symptom severity, and updating the underlying theoretical model. The central hypothesis is that the PANSS, in its current format, presents relevant limitations in evaluating schizophrenia spectrum disorders and requires improvements to ensure its validity and reliability.