Prática comunicativa interprofissional no processo de trabalho em equipe : percepção de profissionais da Estratégia Saúde da Família em município do Sul do Brasil

Abstract

Introdução: Esta pesquisa trata do tema da comunicação interprofissional na perspectiva da educação e do trabalho em equipe. A compreensão da comunicação como diálogo e construção de sentido àquela relação que se institui entre os profissionais e destes com os indivíduos-famílias, caracteriza a relevância do tema. A comunicação interprofissional, enquanto competência colaborativa, implica em melhorar as relações interprofissionais e qualificar a atenção à saúde, com respeito às decisões pactuadas entre os profissionais e entre estes e os usuários. Objetivo: Analisar a prática comunicativa interprofissional no processo de trabalho em equipe, na percepção de profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF). Metodologia: Pesquisa qualitativa de base fenomenológica realizada na ESF no município de Canoas, Rio Grande do Sul, Brasil. A amostra foi intencional. Foram convidados a participar do estudo todos os profissionais da equipe ESF estudada (n=14). Entrevistas individuais semiestruturadas (roteiro) foram realizadas. O material textual foi organizado com o auxílio do software Visual Qualitative Data Analysis (ATLAS.ti) e interpretado pela análise temática de conteúdo. O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: Participaram do estudo 11 profissionais. Os resultados mostraram que a prática comunicativa interprofissional no trabalho em equipe foi percebida como um processo de interação e de relações integradas entre a equipe e os usuários, fundamentada na troca de saberes e no compartilhamento de objetivos comuns, e na complementaridade entre as diferentes profissões da saúde. As reuniões de equipe e os espaços coletivos de trocas no cotidiano do trabalho na ESF foram destacados como ações potentes para o fortalecimento de relações interprofissionais, essencialmente da competência colaborativa da comunicação interprofissional. Desafios que se constituem em barreiras de comunicação foram associados à sobrecarga de trabalho, à desvalorização profissional e foco do trabalho em saúde nas metas institucionais de produção, assim como às relações de hierarquia e a disputa de ego entre as profissões da equipe. Os profissionais perceberam que a falta de atenção em relação às informações compartilhadas, e as conversas rápidas sobre assuntos complexos, o não reconhecimento da interdependência entre as profissões e o uso indiscriminado de ferramentas tecnológicas, como o WhatsApp, repercutem negativamente no trabalho em equipe e nas relações interpessoais-trabalho interprofissional, afetando práticas colaborativas em saúde. Produto: Os resultados desta pesquisa e o referencial teórico de apoio serviram como base para o desenvolvimento de material didático e instrucional (produto), que pretende apoiar e dar suporte às equipes de Atenção Primária à Saúde em atividades de educação permanente em saúde, estimulando profissionais e gestores a problematizarem e refletirem sobre o processo comunicativo em seu contexto de trabalho. Considerações finais: Esta pesquisa contribuiu para a produção de evidências qualitativas sobre a compreensão da prática comunicativa no processo de trabalho em equipe na ESF. Pesquisas complementares que tragam a percepção dos usuários-famílias e gestores são recomendadas, assim como o envolvimento de profissionais de todos os núcleos profissionais que atuam nas equipes de ESF deste município e do país, a fim de compreender o processo comunicativo na ESF em diferentes equipes e contextos locais.

Introduction: This research deals with the theme of interprofessional communication in the perspective of education and teamwork. The understanding of communication as dialogue, and construction of meaning to that relationship that is established between professionals and individuals-families, characterizes the relevance of the theme. The interprofessional communication, as a collaborative competence, implies greater interprofessional relationships and quality of health care, with respect to the decisions made between professionals and between them and users. Objective: Analyze interprofessional communicative practice in the teamwork process, as perceived by Family Health Strategy (FHS) professionals. Methodology: A phenomenological qualitative study carried out at the FHS in the city of Canoas, Rio Grande do Sul, Brazil. The sample was intentional. All the professionals in the FHS team studied (n=14) were invited to take part in the study. Semi-structured one-to-one interviews (script) were carried out. The textual material was organized using Visual Qualitative Data Analysis software (ATLAS.ti) and interpreted using thematic content analysis. The study was approved by the Research Ethics Committee. Results: 11 professionals took part in the study. The results have demonstrated that interprofessional communicative practice in teamwork was perceived as a process of interaction and integrated relationships between the team and users, based on the exchange of knowledge and the sharing of common objectives, and on the complementarity between the different health professions. Team meetings and collective spaces for exchanges in the day-to-day work of the FHS were highlighted as powerful actions for strengthening interprofessional relationships, essentially the collaborative competence of interprofessional communication. Challenges that constitute barriers to communication were associated with work overload, professional devaluation and the focus of health work on institutional production targets, as well as hierarchical relationships and ego disputes between the team's professions. The professionals realized that the lack of attention paid to the information shared and the quick conversations about complex issues, the failure to recognize the interdependence between professions and the indiscriminate use of technological tools such as WhatsApp have a negative impact on teamwork and interpersonal relationships – interprofessional work, affecting collaborative health practices. Product: The results of this research and the supporting theoretical framework served as the basis for the development of didactic and instructional material (product), which aims to support Primary Health Care teams in permanent health education activities, encouraging professionals and health managers to problematize and reflect on the communicative process in their work context. Final considerations: This research has contributed to the production of qualitative evidence on the understanding of communicative practice in the FHS teamwork process. Complementary research that brings in the perception of users, families and managers is recommended, as well as the involvement of professionals from all the professional nuclei that work in the FHS teams in this city and in the country, in order to understand the communicative process in the FHS in different teams and local contexts.