Impacto de reações adversas de vacinas reprodutivas em bovinos leiteiros

Abstract

As vacinas reprodutivas são amplamente utilizadas visando manutenção da saúde, prevenção de doenças e melhora nos índices de produtividade de bovinos leiteiros. No entanto, há relatos de que a vacinação contra doenças reprodutivas pode induzir reações adversas que impactam momentaneamente na produtividade do rebanho. Este trabalho objetivou investigar o impacto de vacinas reprodutivas em marcadores de resposta inflamatória, reatividade local e indicadores de produção em bovinos de leite. Para isso, foram realizados dois experimentos, utilizando uma vacina reprodutiva combinada devido aos relatos de efeitos colaterais e uma outra vacina simples para comparação. No Experimento 1, vacas Jersey (n=27), não lactantes e não gestantes, foram alocadas nos grupos: controle, que receberam 5 ml de solução salina via subcutânea; Vacina 1, que receberam via subcutânea 5 ml de uma vacina combinada contendo cepas termo sensíveis dos vírus da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e Parainfluenza Bovina 3 (PI-3), vírus vivo modificado da Síndrome da Doença Respiratória Bovina, adicionada de uma preparação líquida com adjuvantes dos vírus da Diarreia Viral Bovina (BVD tipos 1 e 2) e culturas inativadas de cinco sorotipos de Leptospira; ou Vacina 2, que receberam 2 ml por via intramuscular de uma vacina comercial composta por vírus vivo modificado da BVD tipos 1 e 2. Foram feitas avaliações sanguíneas por três dias após o tratamento. O nível médio de cortisol sérico do grupo vacinado com a Vacina 2 manteve-se mais elevado no dia 1 e o grupo Controle teve uma queda consistente especialmente no dia 2. Animais que receberam a Vacina 1 apresentaram elevação de Proteínas Plasmáticas Totais (PPT) no dia 1, o que se manteve até o dia 3. Observou-se diferença em fibrinogênio plasmático entre os grupos (P=0,03), sendo que o grupo vacinado com a Vacina 1 teve uma concentração mais elevada em comparação ao grupo Controle. Além disso, a temperatura interna dos animais foi avaliada a cada 30 minutos durante os três primeiros dias através de dispositivo intravaginal. Vacas que receberam a Vacina 1 tiveram temperatura interna média superior àquelas que receberam Vacina 2 ou as do grupo Controle. Também, houve picos de temperatura nas horas 12 e 60, acompanhando o Índice de Temperatura e Umidade (THI) do local. O local de aplicação dos tratamentos foi avaliado por termografia subtraindo-se a temperatura máxima do local vacinado da temperatura máxima de uma região controle no mesmo animal. Observou-se diferença entre os grupos Controle (0.22±0.09ºC) e Vacina 1 (0.55±0.08ºC; P=0.03) e entre os dias (P=0.0002). Com objetivo de verificar o impacto da vacinação em indicadores de produção, no Experimento 2 foram avaliados o tempo de ruminação e a produção leiteira de 251 vacas leiteiras das raças Jersey e Holandesa, de um rebanho comercial que recebe a vacina como parte do manejo sanitário da propriedade. Além disso, também faz parte da rotina a aplicação de somatotropina bovina a cada 11 dias. As avaliações compreenderam 11 dias prévios até 11 dias após a aplicação da Vacina 1 e de bST. Observou-se diferença na produção leiteira no período (P=0.0001). A produção leiteira teve uma queda após a aplicação da vacina e aumentou no dia 2 após a vacinação (P<0.005). O tempo médio de ruminação também reduziu durante o período avaliado (P=0.0001), com diferença significativa no dia 1 (526.4±5.9) comparado ao dia do tratamento (545.4±5.5; P≤0.03). Dessa forma, conclui-se que a Vacina 1 induziu uma resposta inflamatória mais intensa, com efeitos clínicos e na produção leiteira transitórios. Essas descobertas sugerem que, embora as vacinas reprodutivas sejam essenciais para a saúde do rebanho, seus efeitos na produtividade podem ser transitórios e devem ser considerados nas práticas de manejo do rebanho.

Reproductive vaccines are widely used to maintain health, prevent diseases, and improve productivity indices in dairy cattle. However, reports indicate that vaccination against reproductive diseases may induce adverse reactions that temporarily impact herd productivity. This study aimed to investigate the impact of reproductive vaccines on inflammatory response markers, local reactivity, and production indicators in dairy cattle. To achieve this, two experiments were conducted, using a combined reproductive vaccine due to reported side effects and a monovalent vaccine for comparison. In Experiment 1, non-lactating, non-pregnant Jersey cows (n=27) were assigned to one of the following groups: Control, which received 5 mL of a subcutaneous saline solution; Vaccine 1, which received 5 mL of a subcutaneous combined vaccine containing thermosensitive strains of Bovine Herpesvirus-1 (BHV-1) and Bovine Parainfluenza Virus-3 (PI-3), a modified live virus of Bovine Respiratory Disease Syndrome, and a liquid preparation with adjuvants for Bovine Viral Diarrhea Virus (BVDV) types 1 and 2, along with inactivated cultures of five Leptospira serotypes; or Vaccine 2, which received 2 mL of an intramuscular commercial vaccine composed of a modified live virus of BVDV types 1 and 2. Blood samples were collected for three days post-treatment. The mean serum cortisol level in the Vaccine 2 group remained elevated on day 1, whereas the Control group exhibited a consistent decrease, particularly on day 2. Cows that received Vaccine 1 showed an increase in total plasma proteins (TPP) on day 1, which persisted until day 3. A significant difference in plasma fibrinogen levels was observed among groups (P=0.03), with Vaccine 1 recipients showing higher concentrations compared to the Control group. Additionally, internal body temperature was assessed every 30 minutes for the first three days using an intravaginal device. Cows vaccinated with Vaccine 1 exhibited higher mean internal temperatures than those vaccinated with Vaccine 2 or the Control group. Temperature peaks were observed at hours 12 and 60, coinciding with local Temperature-Humidity Index (THI) variations. The injection site was evaluated using thermography, subtracting the maximum temperature at the vaccinated site from the maximum temperature in a control region of the same animal. A significant difference was found between the Control (0.22±0.09ºC) and Vaccine 1 (0.55±0.08ºC; P=0.03) groups, as well as across different days (P=0.0002). To assess the impact of vaccination on production indicators, Experiment 2 evaluated rumination time and milk yield in 251 Jersey and Holstein dairy cows from a commercial herd where the reproductive vaccine is routinely administered as part of herd health management. The herd also receives bovine somatotropin (bST) injections every 11 days. Measurements were taken from 11 days before to 11 days after administration of Vaccine 1 and bST. A significant difference in milk yield was observed during the study period (P=0.0001). Milk production decreased following vaccination but increased by day 2 post-vaccination (P<0.005). Mean rumination time also declined (P=0.0001), with a significant reduction on day 1 (526.4±5.9 min) compared to the day of treatment (545.4±5.5 min; P≤0.03). Thus, it was concluded that Vaccine 1 induced a more intense inflammatory response, with transient clinical effects and temporary reductions in milk production. These findings suggest that while reproductive vaccines are essential for herd health, their temporary effects on productivity should be considered in herd management practices.