O extermínio dos indesejáveis : análise de discurso na rede social, (ex)Twitter, sobre as chacinas praticadas por policiais no Brasil

Abstract

O presente estudo objetiva compreender como o discurso sobre a negritude aparece em tweets que falam sobre violência policial. Para sustentar esse projeto, parto dos conceitos elaborados por Nascimento (2017; 2019) sobre a política de democracia racial e o imaginário construído a partir do processo de miscigenação no Brasil. Me construo a partir de autores que explicitam as suas perspectivas raciais, como Gonzalez (1984), Munanga (2019), Fanon (2008), Carneiro (2023) e Wilderson (2021), assim como em autores que discutem sobre a construção dos sujeitos, identidades e negritude, denunciando o racismo e a forma como a violência permeia a sociedade brasileira desde da época da escravidão. Para discorrer sobre discursos e plataformas digitais, parto das ideias apresentadas por Andréa (2018), Van Dijck (2013), Gillespie, (2010), Recuero (2019), entre outros pesquisadores. Os procedimentos metodológicos têm viés qualitativo, com foco na análise dos discursos produzidos no (ex)Twitter, em episódios que envolvem civis e a polícia. Para isso, me baseio nos estudos de Herring (2004), especialmente o conceito de Discurso Mediado por Computador (CMDA). O recorte feito para análise foram comentários publicados a respeito das chacinas praticadas por agentes do estado no Guarujá (São Paulo) e Complexo da Penha (Rio de Janeiro), no mês de agosto de 2023. Os resultados da pesquisa mostram que o processo de desumanização praticada historicamente contra os negros é efetivo, seja de forma velada nos discursos produzidos nas redes sociais, quanto por meio de práticas explicitamente racistas. Vivemos numa sociedade racialmente demarcada, que de forma frequente nos deixa em estado de reação por nos violar de diversas maneiras, seja alimentando e construindo estereótipos racistas nas redes sociais, seja operando no extermínio da população negra, sob amparo das instituições que são braços do Estado, tais como as polícias.

The present study aims to understand how discourse on blackness appears in tweets discussing police violence. To support this project, I draw upon concepts developed by Nascimento (2017; 2019) regarding the politics of racial democracy and the imagery constructed from the process of miscegenation in Brazil. I engage with authors who explicitly express their racial perspectives, such as Gonzalez (1984), Munanga (2019), Fanon (2008), Carneiro (2023), and Wilderson (2021), as well as authors who discuss the construction of subjects, identities, and blackness, denouncing racism and the way violence permeates Brazilian society since the time of slavery. To discuss discourse and digital platforms, I draw on ideas presented by Andréa (2018), Van Dijck (2013), Gillespie (2010), Recuero (2019), among other researchers. The methodological procedures have a qualitative bias, focusing on the analysis of discourses produced on (ex)Twitter, in episodes involving civilians and the police. To do this, I rely on studies by Herring (2004), especially the concept of Computer-Mediated Discourse (CMDA). The analysis focused on comments published regarding the massacres perpetrated by state agents in Guarujá (São Paulo) and Complexo da Penha (Rio de Janeiro) in August 2023. The research results show that the historically practiced process of dehumanization against blacks is effective, whether in veiled form in the discourses produced on social networks or through explicitly racist practices. We live in a racially demarcated society that frequently leaves us in a state of reaction by violating us in various ways, whether by feeding and constructing racist stereotypes on social networks or by operating in the extermination of the black population, under the auspices of institutions that are arms of the State, such as the police.