O princípio de não-contradição como condição sine qua non para evitar o colapso do discurso significativo : uma defesa da leitura semântica geral de Metafísica Γ 4 1005b35-1007a8
Visualizar/abrir
Data
2022Autor
Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Neste trabalho, apresentarei a defesa de uma leitura semântica geral da argumentação em defesa do princípio de não-contradição (PNC) apresentada por Aristóteles em Metafísica Γ 4 1005b35-1007a8. Trata-se de uma leitura que segue a tese geral proposta anteriormente por autores como Marco Zingano (2003) e Raphael Zillig (2007), segundo a qual o ponto central do filósofo seria mostrar que, para que qualquer discurso seja significativo, é preciso que as palavras tenham uma delimitação de significad ...
Neste trabalho, apresentarei a defesa de uma leitura semântica geral da argumentação em defesa do princípio de não-contradição (PNC) apresentada por Aristóteles em Metafísica Γ 4 1005b35-1007a8. Trata-se de uma leitura que segue a tese geral proposta anteriormente por autores como Marco Zingano (2003) e Raphael Zillig (2007), segundo a qual o ponto central do filósofo seria mostrar que, para que qualquer discurso seja significativo, é preciso que as palavras tenham uma delimitação de significado. Neste sentido, ao menos no coração do seu argumento Aristóteles não estaria supondo teses próprias do seu essencialismo entre as condições de significação, como a leitura mais tradicional, que podemos chamar de semântica essencialista, propõe – na verdade, ele faz uso apenas de uma concepção geral a respeito da semântica, com o objetivo de mostrar que o PNC é necessário para o estabelecimento de qualquer critério de delimitação de sentido. Com efeito, acredito que o êxito de sua argumentação depende precisamente da sua capacidade de partir de teses tão básicas que poderiam (e deveriam) ser aceitas por qualquer pessoa que pretende se engajar em uma comunicação interpessoal significativa; e que, afinal, Aristóteles estaria ciente disso. A fim de defender esta leitura, procuro mostrar fundamentalmente três coisas: primeiro, que o cuidado que Aristóteles tem em especificar as peculiaridades envolvidas na argumentação – isto é, a indemonstrabilidade do PNC, o caráter do seu interlocutor, a tese afirmada por ele, seu propósito ao afirmá-la e a estratégia desenvolvida para refutá- lo – seria um indício textual claro de que uma leitura semântica geral do argumento não só parece ser mais condizente com a maneira como o filósofo pretendia que ele fosse lido, mas também seria mais apropriada para que ele pudesse cumprir adequadamente seu objetivo. Em segundo lugar, que uma análise da noção de significar (ζεκαίλεηλ), tanto em seu sentido mais fundamental como nas acepções apresentadas por Aristóteles em diferentes obras, mostra que a discussão a respeito das condições mínimas para o discurso significativo não precisaria, até mesmo na própria teoria aristotélica, envolver uma referência direta às coisas do mundo e, consequentemente, a algum tipo de essencialismo. Feito isso, acredito ser possível comparar algumas propostas de ambas as leituras e, então, perceber em que medida a semântica geral seria mais adequada. Por fim, a partir de uma reconstrução, mostrar que tal argumentação pode, efetivamente, ser lida desta forma, sem que tenhamos de forçar a leitura defendida ao texto de Aristóteles. ...
Abstract
In this work, I will present a defense of a general semantic reading of the argument in defense of the principle of non-contradiction (PNC) presented by Aristotle in Metaphysics Γ 4 1005b35-1007a8. It is a reading that follows the general thesis previously proposed by scholars such as Marco Zingano (2003) and Raphael Zillig (2007), according to which the core of the argument is to show that, for any discourse to be meaningful, words must have a delimitation of meaning. In this respect, at least ...
In this work, I will present a defense of a general semantic reading of the argument in defense of the principle of non-contradiction (PNC) presented by Aristotle in Metaphysics Γ 4 1005b35-1007a8. It is a reading that follows the general thesis previously proposed by scholars such as Marco Zingano (2003) and Raphael Zillig (2007), according to which the core of the argument is to show that, for any discourse to be meaningful, words must have a delimitation of meaning. In this respect, at least at the core of his argument Aristotle would not be supposing theses proper to his essentialism among the conditions of signification, as a more traditional reading, which we can call essentialist semantics, proposes – in fact, he uses only a general conception with the objective of showing that the PNC is necessary for the establishment of any criterion of meaning delimitation. Indeed, I believe that the success of the argument depends precisely on its capacity to start from theses so basic that they could (and should) be accepted by anyone who intends to engage in meaningful interpersonal communication; and that, after all, Aristotle was aware of this. In order to defend this reading, I will try to show fundamentally three things: first, that Aristotle's concern in specifying the peculiarities involved in the argument – that is, the indemonstrability of the PNC, the character of his interlocutor, the thesis affirmed by him, his purpose in affirming it and the strategy developed to refute it – is a clear textual evidence that a general semantic reading of the argument not only appears to be more consonant with the way the philosopher intended it to be read, but would also be more appropriate so that he could adequately fulfill his purpose. Second, that an analysis of the notion of to signify (ζεκαίλεηλ), both in its most fundamental sense and in the senses presented by Aristotle in different works, shows that the discussion about the minimum conditions for meaningful discourse, even according to the aristotelian theory itself, does not need involve a direct reference to the things of the world and, consequently, to some kind of essentialism. That done, I believe it is possible to compare some proposals from both readings and then understand to what extent the general semantic reading would be more adequate. Finally, with a reconstruction of his argument, that it can, in fact, be read in this way, without having to force that reading to Aristotle's text. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Filosofia.
Coleções
-
Ciências Humanas (7540)Filosofia (243)
Este item está licenciado na Creative Commons License