Com quantas culpas se faz um autor? : ensaios clínico-políticos entre o Eu e o Outro
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Data
2019Autor
Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Esta dissertação está composta por três blocos ensaísticos, os quais, em suas respectivas frentes, procuram operar uma crítica à noção de autoria moderna. Nessa empreitada, o que dá sustentação à trama entre os três blocos, o que dá a liga, é o argumento de que uma das condições de possibilidade do autor moderno é um triplo enlace entre autoria, culpa e propriedade, o qual é assegurado por uma lógica do ressentimento que se apropria da culpa e a mobiliza como uma tecnologia de produção do sujei ...
Esta dissertação está composta por três blocos ensaísticos, os quais, em suas respectivas frentes, procuram operar uma crítica à noção de autoria moderna. Nessa empreitada, o que dá sustentação à trama entre os três blocos, o que dá a liga, é o argumento de que uma das condições de possibilidade do autor moderno é um triplo enlace entre autoria, culpa e propriedade, o qual é assegurado por uma lógica do ressentimento que se apropria da culpa e a mobiliza como uma tecnologia de produção do sujeito, uma mnemotécnica. Esse argumento passa, em uma direção, por uma crítica aos sujeitos inventados em Descartes, em Kant e na psicanálise edipiana, nos quais, de modos distintos, a afirmação de uma autoria individual coincide com uma universalização da consciência moral ressentida. Em outra direção, contra a atribuição/autoatribuição da culpa por meio da qual esses sujeitos se inventam, busca-se combate-la nos lugares nos quais ela se produz: a fabricação ficcional de um sujeito é investigada no interior dos mecanismos disciplinares e da biopolítica, enquanto que, a partir de uma genealogia nietzschiana, a culpa é compreendida como uma tecnologia de si, em variação, desde uma moral judaico-cristã até as suas versões mais recentes, em um capitalismo neoliberal. Essa arguição, cada bloco ensaístico a constrói sob diferentes perspectivas. O primeiro percorre a invenção do sujeito-autor através da invenção de um Outro não sujeito/não autor. Invenção essa levada a cabo pela face alterocida do ressentimento, complemento essencial ao endividamento. O segundo aprecia o triplo enlace entre autoria, culpa e propriedade ao sublinhar o registro da propriedade, ao mobilizar, nessa direção, o problema da autoria dos não humanos e as transformações contemporâneas da articulação entre sujeito e predicado (da posse ao consumo). O terceiro e último bloco, por sua vez, ressalta o registro da culpa, aprofunda essa mnemotécnica do ressentimento ao tratar dos mecanismos da promessa, da memória e do esquecimento. Além disso, do início ao fim, a crítica agenciada sob essas diferentes perspectivas se produz também em um sentido propositivo. Contra o exercício autoral modulado pela lógica do ressentimento, os ensaios experimentam a apresentação de um outro horizonte ético. Nessa direção, busca-se operar com a ideia de uma autoria antropofágica, que faz variar a ficção do sujeito através de uma dupla captura (predar-ser-predado), e com o par conceitual parresía-amor fati, em direção ao avesso do ressentimento, em direção à responsabilidade diante do si próprio que forjamos/inventamos para nós mesmos. ...
Abstract
This dissertation is composed of three essays blocks, which, in their fronts, can criticize the notion of modern authorship. In this endeavor, that supports the plot between three blocks, or which connects, it is an argument that one of the conditions of possibility of the modern author is a triple entanglement between authorship, guilt and property or what is the guarantee by a resentment logic that appropriates the guilt and mobilizes it as a technology for the production of the subject, a mn ...
This dissertation is composed of three essays blocks, which, in their fronts, can criticize the notion of modern authorship. In this endeavor, that supports the plot between three blocks, or which connects, it is an argument that one of the conditions of possibility of the modern author is a triple entanglement between authorship, guilt and property or what is the guarantee by a resentment logic that appropriates the guilt and mobilizes it as a technology for the production of the subject, a mnemotechnic. This argument goes, in one direction, for a critique of the subjects invented in Descartes, in Kant and in oedipal psychoanalysis, in which, in different ways, an affirmation of individual authorship coincides with a universalization of resentful moral conscience. In another direction, against attribution/self-attribution of blame through these types of invented material, the search for combat in the places in which it produces: a production of an individual is investigated within disciplinary and biopolitical mechanisms, whereas, the from a Nietzschean genealogy, an error is understood as a self technology, in variation, from Judeo-Christian morality to its most recent versions, in neoliberal capitalism. In this argument, each essays block is built from different perspectives. The first goes through the invention of the subject-author through the invention of a non-subject/non-author. This invention was carried out by changing resentment, an essential complement to indebtedness. The second appreciates the triple entanglement between authorship, guilt and property in underline the property registration, by mobilizing, in this direction, the problem of authorship by non-humans and as contemporary transformations of the articulation between subject and predicate (from possession to consumption). The third and last block, in its turn, deepens this mnemotechnic of resentment in dealing with the mechanisms of promise, memory and forgetfulness. In addition, from the beginning to the end, the criticism from these different perspectives also has a purposeful effect. Against the authorial exercise modulated by the logic of resentment, the essays experiment the presentation of another ethical perspective. In this direction, trying to operate with an anthropophagic authorship idea, which varies the subject's fiction using a double capture (prey-be-preyed), and with the parrhesia-love fati conceptual pair, towards the inside out of resentment, also towards the responsibility of oneself that we forge/invent for back to ourselves. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional.
Coleções
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Ciências Humanas (7479)
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