Uma curadora de memórias soviéticas traumáticas : testemunho, violência e autoria em Svetlana Aleksiévitch
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Data
2021Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Este trabalho possui o objetivo de analisar a escrita memorial de Svetlana Aleksiévitch, Nobel de Literatura 2015. Passou-se a analisar a obra por meio da violência, da precaridade e do trauma. O trabalho foi definido por uma reflexão em torno da linguagem empregada pela autora, na medida em que a escuta, a hospitalidade e o silêncio foram temas centrais de análise. No primeiro capítulo, foi introduzida a figura autoral de Aleksiévitch como uma curadora de memórias traumáticas, entendendo a ide ...
Este trabalho possui o objetivo de analisar a escrita memorial de Svetlana Aleksiévitch, Nobel de Literatura 2015. Passou-se a analisar a obra por meio da violência, da precaridade e do trauma. O trabalho foi definido por uma reflexão em torno da linguagem empregada pela autora, na medida em que a escuta, a hospitalidade e o silêncio foram temas centrais de análise. No primeiro capítulo, foi introduzida a figura autoral de Aleksiévitch como uma curadora de memórias traumáticas, entendendo a ideia de “curadoria” tanto no seu sentido organizacional, de disposição de elementos, quanto psicanalítico, de elaboração da memória. Através da ideia de hospitalidade, Svetlana foi entendida como alguém que encarna uma tarefa social de escuta e reconhecimento. A escrita de um texto incompleto e reticente foi analisada como uma performance visual de Aleksiévitch, que realiza retratos do incomunicável de uma maneira sensível, promovendo no leitor um encontro com a imagem do horror, parte do texto na qual Georges Didi-Huberman foi fundamental. No segundo capítulo, foram analisadas as temporalidades nas quais a obra se insere. Desde os expurgos stalinistas até a reestruturação e a transparência de Gorbatchóv, foram percebidos encontros de Svetlana em relação a eventos da história soviética. Também foi analisado como a autora insere-se na construção da memória pós-soviética, na medida em que a narrativa triunfal fora substituída por discursos nacionalistas traumáticos. Entendeu-se que a autora promove uma ideia soviética baseada no medo e na repressão, aglutinando diversos eventos violentos para construir um acontecimento central produtor de assassinatos: a União Soviética. Se no primeiro capítulo Aleksiévitch foi analisada como uma “curadora”, no terceiro capítulo ela foi analisada como escritora. Entendeu-se a memória como a intencionalidade autoral de Aleksiévitch, que reivindica biograficamente o compromisso de elucidar as memórias silenciadas pela URSS. Nesse sentido, foram estudados os processos judiciais sofridos pela autora quando o livro Meninos de Zinco foi publicado, pois diversas testemunhas não se reconheceram no livro. Problematizou-se a figura autoral e a ficcionalidade dos testemunhos por meio do deslocamento de vozes nas diferentes edições dos livros. Apesar dos relatos conterem as assinaturas das testemunhas nos livros, através dos tradutor ...
Abstract
This work aims to analyse the memorial writes of Svetlana Alexievitch, Literature Nobel 2015. Her writing was analysed through the violence, the precariousness and the trauma. The work has been defined by a reflection about the language created and utilised by the author, as the listening, the hospitality and the silence had been central themes of the analyses. In the first chapter, it was introduced the authoral figure of Alexievitch as a curator of traumatic memories, understanding the idea o ...
This work aims to analyse the memorial writes of Svetlana Alexievitch, Literature Nobel 2015. Her writing was analysed through the violence, the precariousness and the trauma. The work has been defined by a reflection about the language created and utilised by the author, as the listening, the hospitality and the silence had been central themes of the analyses. In the first chapter, it was introduced the authoral figure of Alexievitch as a curator of traumatic memories, understanding the idea of “curatorship” both in its organizational sense, of disposition of elements, and its psychoanalytical sense, of memory elaboration. Through the idea of hospitality, Svetlana had been understood as someone who incarnate a social compromise of listening and recognition. The writing of an incomplete and reticent text had been analysed as a visual performance of Alexievitch, which realises portraits of the incommunicable from a sensible way, promoting on the lector an encounter with the image of the horror, part of the text in which Georges Didi-Huberman was fundamental. In the second chapter, it was analysed the temporalities in which her work inserts itself. Since the stalinists purges until the reestruturation and transparency of Gorbatchóv, it was possible to percieve encounters of Svetlana in relation to soviet history events. It was also analysed how the author inserts herself in the construction of the post-soviet memory, under the understanding that the triunfal narratives were substitued by traumatic nacionalists discourses. It was understood that the author promots an soviet idea based on the fear and repression, agglutinating various violents events with the aim to construct an central event producer of murders: the Soviet Union. If in the first chapter we analysed Svetlana as an curator/healer, in the third chapter she was interpreted as a writer. The memory was understanded as Aleksievitch’s authoral intencionality, who reivindicates biographicaly the duty of elucidate the memories silenciated by the Soviet Union. In this sense, the lawsuits suffered by the author when the book Boys in Zinc was published were studied, as several witnesses did not recognize themselves in the book. There were problematized the authoral figure and the fictionality of the witnesses through the displacement of voices in the differents editions of her books. Although the reports contain the witnesses signatures on the books, through the french translators of Svetlana it was possible to problematize the idea of invention and authenticity of the poliphony. ...
Résumé
Ce travail a comme objectif d’analyser l’écriture mémorielle de Svetlana Alexievitch, Nobel de Littérature en 2015. L’œuvre a été analysée par la violence, la précarité et le trauma. Le travail a été défini à travers une réflexion autour du langage utilisé par l'auteure, dans la mesure où l'écoute, l’hospitalité et le silence ont été les thématiques centrales de l’analyse. Dans le premier chapitre, la figure d’Alexievitch a été introduite comme curatrice de mémoire traumatiques, à la fois dans ...
Ce travail a comme objectif d’analyser l’écriture mémorielle de Svetlana Alexievitch, Nobel de Littérature en 2015. L’œuvre a été analysée par la violence, la précarité et le trauma. Le travail a été défini à travers une réflexion autour du langage utilisé par l'auteure, dans la mesure où l'écoute, l’hospitalité et le silence ont été les thématiques centrales de l’analyse. Dans le premier chapitre, la figure d’Alexievitch a été introduite comme curatrice de mémoire traumatiques, à la fois dans son sens organisationnel, d'agencement d’éléments, comme dans son sens psychanalytique d'élaboration de la mémoire. A travers une idée d’hospitalité, Svetlana a été comprise comme une personne qui incarne un devoir social d’écoute et de reconnaissance. L’écriture d’un texte incomplet et réticent a été analysée comme une performance visuelle d’Alexievitch, qui réalise des portraits de l’incommunicable d’une manière sensible, provoquant chez le lecteur une rencontre avec l’image de l’horreur. Pour avoir cette réflexion, les lecture des textes de Georges Didi-Huberman a été fondamental. Dans le deuxième chapitre, ont été analysées les temporalités dans lesquelles l’œuvre s’insère. Depuis les expurgées stalinistes jusqu’à la restructuration et la transparence de Gorbatchóv, il était possible d’observer la relation de Svetlana avec les événements de l’histoire sovietique. Aussi, a été analysé de quelle manière l’auteure s’insère dans la construction de la mémoire post-sovietique, dans la mesure où le récit triomphal avait été remplacé par des discours nationalistes traumatisants. On a compris que l’auteure propose une idée sovietique basée dans la peur et la répression, en agglutinant des divers événements violents pour construire un événement central producteur de meurtres: l’Union Soviétique. Si dans le premier chapitre Alexievitch était analysée comme une curatrice, dans le troisième chapitre elle a été vue comme une écrivaine. La mémoire a été saisie comme étant intentionnelle par Alexievitch, qui réclame biographiquement le devoir d'élucider ces mémoires réduites au silence par l’Union Soviétique. Ainsi, les processus judiciaires soufferts par l’auteure ont été analysés lors de la parution du livre Garçons de Zinc, une fois que beaucoup de témoignages ne s’y sont pas reconnus. La figure de l’auteure et la fictionnalité des témoignages ont été mises en question par les déplacements les voix divergentes dans les différentes éditions des livres. Malgré la signature des témoignages dans les rapports, grâce à des traducteurs français, l’idée d’invention et d'authenticité de la polyphonie a été problématisée. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História.
Coleções
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