Experiências da mãe com seus cuidadores e a relação atual mãe-filho

Abstract

A relaçãomãe-bebê tende a ser influenciada pelas experiências maternas, principalmente aquelas com os próprios cuidadores. A presente pesquisa buscou compreender essas experiências maternas e a relação atual mãe-bebê. Para tanto foram realizados dois estudos. O Estudo I investigou a experiência das mães com os seus cuidadores e a sua relação com os comportamentos de apego do filho. Participaram 63 mães, cujos bebês tinham em torno de 24 meses. As mães responderam o Parental Bonding Instrument, para os cuidados recebidos dos seus cuidadores, o Attachment Script Assessment, para investigar as representações de apego das mães, e o Attachment Q-Sort, para avaliar os comportamentos de apego do filho. Análises estatísticas revelaram algumas associações entre as variáveis investigadas. Dentre os achados, verificou-se que análises de correlação entre os estilos parentais do cuidador paterno das mães estiveram correlacionadas significativamente com as representações de apego da mãe (p<0,05), assim como as representações de apego apresentaram forte correlação com os comportamentos de apego de segurança da criança (p<0,05). Ao encontro desses dados, análises de média evidenciaram que os comportamentos de segurança das crianças (p<0,05) diferiram significativamente entre os grupos com e sem conteúdo de base segura nas representações de apego das mães. Além disto, análise de agrupamento hierárquica, sugeriu dois grupos: o Grupo 1, caracterizado por mães que percebiam mais negativamente o cuidado recebido pelos cuidadores, tinham mais representações de apego sem base segura, e tinham filhos sem muitos comportamentos de apego seguro e mais comportamentos de dependência; Grupo 2, caracterizado por mães que percebiam mais positivamente o cuidado recebido pelos cuidadores, tinham mais representações de apego com base segura, e filhos com muitos comportamentos de apego seguro e menos comportamentos de dependência. Já o Estudo II investigou qualitativamente as experiências das mães com os seus cuidadores e a relação atual com o filho. Participaram quatro díades mãe-bebê, selecionadas do Estudo 1, por representarem duas díades de mães com representações de apego com base segura e bebês com comportamentos de apego seguro, e duas díades de mães com representações de apego sem base segura e filhos sem comportamentos de apego seguro. Além dos instrumentos usados no Estudo 1, as mães responderam à Entrevista sobre a relação mãe-bebê, usada para investigar a relação atual mãe-bebê. Análise de conteúdo qualitativa revelou que o estilo parental dos cuidadores das mães, esteve associado com a presença ou ausência de base segura nas representações de apego. Além disto, estes dois fatores apareceram relacionados com a relação atual mãe-filho, bem como com os comportamentos de apego do filho. Juntos os dois estudos apresentam evidencias que apoiam a literatura sobre a importância das experiências maternas com seus cuidadores e a relação mãe-filho atual.

The mother-baby relationship tends to be influenced by maternal experiences, especially those with caregivers. This research sought to understand these maternal experiences and the current mother-baby relationship. In order to accomplish this, two studies were conducted. Study I investigated the experience of mothers with their caregivers and attachment behaviors of the child. The study included 63 mothers whose babies were about 24 months. Mothers answered the Parental Bonding Instrument, for the care received by their caregivers, the Attachment Script Assessment, to investigate the attachment representations of mothers, and the Attachment Q -Sort, to assess the child's attachment behaviors. Statistical analyzes revealed some associations between the variables investigated. Among the main findings, it was found that the correlation analysis between the parental styles of the mothers’ paternal caregiver were significantly correlated with the attachment representations of the mother (p<0.05), as well as that the attachment representations were strongly correlated with the behaviors of attachment security of the child (p<0.05). In accordance with these data, analysis of mean and significance level showed that the safety behaviors of children (p< 0.05) differed significantly between the groups with and without secure base content in attachment representations of mothers. Besides this, hierarchical cluster analysis suggested 2 groups, group 1, characterized by mothers who perceived the care provided by caregivers more negatively, had more attachment representations without secure base, and whose children did not express a lot of secure attachment behaviors but did, however, express more dependent behaviors. On the other hand, group 2 was characterized by mothers who perceived the care received by caregivers more positively, had more attachment representations with secure base, and whose children expressed plenty of secure attachment behaviors and less dependent behaviors. As for Study II, it investigated qualitatively the experiences of mothers with their caregivers and the current relationship with the child. Four mother-baby dyads participated, selected from Study 1, as they represented two dyads of mothers with attachment representations with secure base and infants with secure attachment behaviours, and two dyads of mothers with attachment representations without secure base and children without secure attachment behaviors. In addition to the instruments used in Study 1, mothers answered an Interview about the mother-baby relationship, used to investigate the current mother-baby relationship. Qualitative content analysis revealed that caregivers' parenting style of mothers was associated with the presence or absence of secure base in attachment representations, and these appeared related to mother-child relationship, and the child's attachment behaviors. Together, the two studies provide evidence to support the existing literature on the importance of maternal experiences with their caregivers and current mother-baby relationship.