Experiências de profissionais de saúde com a diversidade de cuidadores, saberes e práticas de cuidado nos atendimentos a bebês de 0 a 2 anos na atenção básica de Caxias do Sul

Abstract

Tendo em vista as diretrizes e políticas do Sistema de Saúde (SUS) e da Atenção Básica para os atendimentos do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento (CD) dos bebês, está posto aos profissionais de saúde que orientem suas práticas a partir do paradigma de cuidado integral. Sendo assim, os profissionais precisam abarcar a diversidade de subjetividades, saberes e práticas de cuidado que se apresentam nos atendimentos, algo que pode se apresentar enquanto um desafio, uma vez que podem encontrar dificuldades em colocar em prática as orientações e recomendações preconizadas pelas políticas de saúde. Esse desafio se torna maior quando se trata de Unidades Básicas de Saúde (UBS) localizadas em territórios com uma forte tradição cultural hegemônica, como é o caso da imigração italiana, na cidade de Caxias do Sul. Portanto, o presente estudo buscou investigar as experiências de profissionais de saúde com a diversidade de cuidadores, saberes e práticas de cuidado nos atendimentos a bebês de 0 a 2 anos na Atenção Básica de Caxias do Sul, RS. Trata-se de um estudo qualitativo exploratório, envolvendo entrevistas online com 12 profissionais de saúde de quatro UBS, cujos dados foram analisados através de uma leitura psicanalítica. Enquanto resultados e discussão, quatro eixos de análise emergiam espontaneamente dos dados: 1) as experiências dos profissionais de saúde com as mães como cuidadoras; 2) as experiências com as avós como cuidadoras; 3) as experiências com cuidadores imigrantes não italianos; e 4) como os profissionais de saúde interpretam a função de orientação aos cuidadores, preconizada pelas políticas de cuidado integral ao bebê no SUS. Constatou-se que os profissionais de saúde identificam uma diversidade de cuidadores, saberes e práticas de cuidado nos atendimentos aos bebês nas UBS. Com relação aos saberes dos cuidadores que são dissonantes aos saberes e práticas hegemônicos da cultura local, os profissionais valem-se da educação em saúde da população, a qual pode se configurar como uma tentativa de controle e de homogeneização dos saberes. Contudo, essa estratégia parece não ser efetiva, tendo em vista a potência dos saberes e práticas de cuidado das mães, avós e demais cuidadores. Portanto, torna-se, de fato, um desafio para os profissionais de saúde, sem a formação para tal, atenderem às recomendações das políticas de saúde no exercício da função de orientação, respeitando a diversidade de cuidadores, saberes e práticas de cuidado presentes nos atendimentos aos bebês na Atenção Básica.

In view of the guidelines and policies of the Health System (SUS) and Primary Health Care (PHC) for the assistance of monitoring the growth and development (DC) of infants, it is up to health professionals to guide their practices from the paradigm of comprehensive care. Thus, professionals need to embrace the diversity of subjectivities, knowledge, and care practices that present themselves in infant’s consultations, something that can present itself as a challenge, since they may find it difficult to put into practice the guidelines and recommendations advocated by health policies. This challenge becomes greater when it comes to PHC centers located in territories with a strong hegemonic cultural tradition, as is the case of Italian immigration, in the city of Caxias do Sul, Southern Brazil. Therefore, the present study sought to investigate the experiences of health professionals with the diversity of caregivers, knowledge, and care practices in the consultations of infants from 0 to 2 years old in PHC centers of Caxias do Sul, Southern Brazil. This is a qualitative exploratory study, involving online interviews with 12 health professionals from four UBS, whose data were analyzed through a psychoanalytical reading. As results and discussion, four themes of analysis emerged spontaneously from the data: 1) the experiences of health professionals with mothers as caregivers; 2) experiences with grandmothers as caregivers; 3) experiences with non-Italian immigrant caregivers; and 4) how health professionals understand their function of guiding caregivers, advocated by policies for comprehensive baby care in SUS. It was found that health professionals identify a diversity of caregivers, knowledge, and care practices in the care of infants in PHC centers. Regarding the knowledge of caregivers who are at odds with the hegemonic knowledge and practices of the local culture, professionals use of the health education of the population, which can be configured as an attempt to control and homogenize knowledge. However, this strategy does not seem to be effective, considering the power of the knowledge and care practices of mothers, grandmothers, and other caregivers. Therefore, it becomes, in fact, a challenge for health professionals, without the training to do so, to comply with the recommendations of health policies in the practice of the guidance function, respecting the diversity of caregivers, knowledge, and care practices present in infant’s consultations in PHC.