Sociocriosfera andina : etnoconhecimento ancestral e a ruptura pós-colonial nos Andes centrais
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Data
2021Orientador
Co-orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
As populações que habitam as regiões periglaciais nos Andes Centrais tem sido vulneráveis aos desastres glaciais. Portanto, é importante compreender os impactos das mudanças climáticas sobre as geleiras e como os riscos climáticos, como o rompimento de dique de lagoas glaciais, tem sido manejado nos Andes peruanos. Na Cordilheira Branca, Peru, o aquecimento atmosférico regional está provocando a crescente retração das geleiras e de forma mais acelerada a partir da década de 1930. Diante do pouc ...
As populações que habitam as regiões periglaciais nos Andes Centrais tem sido vulneráveis aos desastres glaciais. Portanto, é importante compreender os impactos das mudanças climáticas sobre as geleiras e como os riscos climáticos, como o rompimento de dique de lagoas glaciais, tem sido manejado nos Andes peruanos. Na Cordilheira Branca, Peru, o aquecimento atmosférico regional está provocando a crescente retração das geleiras e de forma mais acelerada a partir da década de 1930. Diante do pouco conhecimento que se tem a respeito de como as diferentes populações percebem e respondem às mudanças climáticas, esta tese sugere que a cultura e sua análise sejam elementos centrais para a identificação, compreensão e proposição de estratégias de adaptação às mudanças climáticas e desastres glaciais na região da Cordilheira Branca. O conceito proposto nesta tese surge diante da necessidade de uma releitura histórica e geográfica a partir de uma perspectiva descolonial. Destarte, a sociocriosfera cultural andina denota uma longa e continuada ocupação humana em uma região glacial e periglacial nas grandes altitudes montanhosas – onde desenvolveu-se uma cultura e uma cognição típicas para essa região. Contudo, essa proposição de sociocriosfera implica consequentemente numa segunda tese: houve uma ruptura adaptativa com a emergência da sociedade pós-colonial, desencadeando um processo de desadaptação civilizatória nos Andes Centrais. O objetivo geral é identificar e compreender os fatores e elementos que compõem a sociocriosfera cultural andina, num contexto de mudanças climáticas. Para essa investigação, propõem-se quatro movimentos de pesquisa. O primeiro movimento debruça-se sobre o etnoconhecimento ancestral e sua ruptura pós-colonial, onde se sustenta a hipótese de que há uma cultura ancestral adaptada ao ambiente periglacial de montanha; porém, há uma ruptura adaptativa com a emergência da sociedade pós-colonial. No segundo, investiga-se os desdobramentos sócio-territoriais dos desastres glaciais sobre os habitantes da região e sustenta-se a hipótese de que os diferentes grupos sociais que ali vivem sofrem distintas consequências socioambientais, sendo uns mais resilientes que outros. No terceiro movimento, foram analisadas as estratégias de adaptação às mudanças socioambientais. Aqui, sugere-se a hipótese de que o modelo de sociedade pós-colonial tende a complexificar possíveis estratégias de adaptação às mudanças climáticas. As práticas socioculturais e econômicas, abordadas no quarto movimento, são escrutinadas com o intuito de sustentar a hipótese de que as geleiras são parte indissociável da cultura andina e suscitam vínculos identitários entre as comunidades campesinas e comunidades urbanas da Cordilheira Branca. Para o teste dessas hipóteses, utilizou-se vários métodos, dentre os quais: cartografia, análise de dados sobre histórico de desastres, etnografia, entrevistas semiestruturadas e mapeamento participativo. Os resultados mostram que as sociedades ancestrais andinas utilizaram a seleção de lugares para minimizar o risco de desastres glaciais. No entanto, os colonizadores espanhóis não valorizaram as estratégias adaptativas sustentadas pela etnocognição andina. A principal estratégia de adaptação às mudanças ambientais utilizada pelas comunidades campesinas é a escolha de locais seguros para a moradia. Essa prática está mais relacionada à uma herança ancestral das civilizações pré- colombianas do que um senso moderno de preocupação em relação às áreas de alto risco. O mapeamento participativo é uma excelente ferramenta metodológica que abre espaço para a discussão sobre experiências de conhecimentos locais, percepções e conflitos existentes nas comunidades campesinas e pode ajudar a conceber o contexto para o avanço da adaptação. ...
Abstract
Populations inhabiting the periglacial regions of the Central Andes have always been vulnerable to glacier-related hazards. Therefore, it is important to understand climate change impacts on glacier and how climate risks like glacial lake outburst floods (GLOFs) in the Peruvian Andes have been managed. Since the 1930s, regional atmospheric warming has caused glaciers to shrink more rapidly in the Cordillera Blanca, Peru. We know little about how different populations perceive and respond to cli ...
Populations inhabiting the periglacial regions of the Central Andes have always been vulnerable to glacier-related hazards. Therefore, it is important to understand climate change impacts on glacier and how climate risks like glacial lake outburst floods (GLOFs) in the Peruvian Andes have been managed. Since the 1930s, regional atmospheric warming has caused glaciers to shrink more rapidly in the Cordillera Blanca, Peru. We know little about how different populations perceive and respond to climate variability in the Andes; this thesis suggests that culture and its analysis are central elements for the identification, understanding, and response to climatic changes and glacier-related disasters in the Cordillera Blanca region. This thesis addresses the need for a historical and geographical reinterpretation from a decolonial perspective. The Andean cultural socio-cryosphere denotes a long and continuous human occupation over a glacial and periglacial region on the mountains where a typical culture and cognition for this region were developed. However, this proposition of the socio-cryosphere implies a second thesis: there was an adaptive rupture with the emergence of post-colonial society, triggering a process of civilization maladjustment in the Central Andes. The general objective is to identify and understand the factors and elements that make up the Andean cultural socio-cryosphere in the context of climate change. For this investigation, four research themes are presented. The first focuses on ancestral ethno-knowledge and its post-colonial rupture, which supports the hypothesis that there is an ancestral culture adapted to the periglacial mountain environment; however, there is an adaptive rupture with the emergence of postcolonial society. In the second, the socio- territorial impacts of the glacier-related disasters on the inhabitants of the region are investigated and the hypothesis that the different social groups who live there suffer different socio-environmental consequences, some of which are more resilient than others. In the third theme, adaptation strategies to socio-environmental changes were analyzed under the hypothesis that the post-colonial society model tends to make complex possible strategies for adapting to climate change. Sociocultural practices, addressed in the fourth theme, are scrutinized to support the hypothesis that glaciers are an inseparable part of Andean culture and raise identity ties between the campesino and urban communities of the Cordillera Blanca. Several methods are used to test these hypotheses, including cartography, data analysis on disaster history, ethnography, semi-structured interviews, and participatory mapping. The results show that ancestral Andean societies selected settlement sites to minimize the risk of glacier-related disasters. However, the Spanish colonizers did not appear to value the adaptive strategies supported by an Andean ethno-cognition. The main strategy for adapting to environmental changes used by campesino communities is the choice of safe places for housing. This practice is more related to an ancestral heritage of pre-Columbian civilizations than to a modern sense of concern for high-risk areas. Finally, participatory mapping as a methodological tool opens space for discussions about experiences of local knowledge, perceptions, and conflicts existing in campesino communities, and can help frame the context for adaptation moving forward. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Geociências. Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Coleções
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