Quando chega o griô : conversas sobre a linguagem e o tempo com mestres afro-brasileiros
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Data
2019Autor
Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Esta tese investiga a recente proliferação do termo griot (também escrito griô) nos circuitos culturais afro-brasileiros. Em certas sociedades da África do Oeste, os griots são contadores de histórias, genealogistas, músicos e artistas da palavra, com existência registrada desde o antigo Império de Mali (séculos XIII-XVII) até o presente. Na segunda metade do século XX, os griots são incorporados como fontes endógenas no movimento de descolonização dos estudos africanos, e passam a ser conhecid ...
Esta tese investiga a recente proliferação do termo griot (também escrito griô) nos circuitos culturais afro-brasileiros. Em certas sociedades da África do Oeste, os griots são contadores de histórias, genealogistas, músicos e artistas da palavra, com existência registrada desde o antigo Império de Mali (séculos XIII-XVII) até o presente. Na segunda metade do século XX, os griots são incorporados como fontes endógenas no movimento de descolonização dos estudos africanos, e passam a ser conhecidos como símbolo na diáspora africana nas Américas. No Brasil, são referências em escritos de intelectuais negros desde os anos 1970, mas recentemente o termo prolifera e passa a ser utilizado como título para mestres afro-brasileiros. Atravessando esse processo, a política cultural Ação Griô do programa Cultura Viva (2006-2009) contribuiu para difundir o nome, propondo uma “reinvenção” e “ressemantização” para pensar o griô, destacando apenas a oralidade, sem uma referência forte à africanidade. Descartamos o paradigma da “invenção da tradição” para tentar entender como existe hoje o griô no Brasil, e que filosofia do tempo e da linguagem ativa esse termo. Para isso, realizamos um acompanhamento etnográfico com griôs e mestres afro-brasileiros na região metropolitana de Porto Alegre, entre os anos 2015 e 2018. O quilombismo e as religiões de matriz africana apareceram como patrimônios filosóficos nos quais se inserem estes mestres, o plano de imanência que atravessa o griô. No campo, observamos como o termo griô se associa com tradições percussivas afro-gaúchas, a poesia política negra, propostas pedagógicas decoloniais ou movimentos culturais muito recentes como o hip-hop ou os slams. Dentre os vários griôs, firmamos uma relação intensa com o Mestre Cica de Oyó. Acompanhamos suas aulas de idioma yorubá em uma terreira de Batuque e tentamos compreender algumas das suas teses sobre história africana, religiões afro-brasileiras e transformações da linguagem na relação colonial. A partir dessas observações e conversas, propomos uma interpretação do griô no Brasil como a chegada de um personagem conceitual que aprofunda processos de subjetivação em curso, promove a lembrança de aspectos apagados do passado e abre espaços de enunciação para ativar conversas que resistem à ofensiva colonial. ...
Abstract
This thesis investigates the recent proliferation of the term griot (also written griô) in Afro- Brazilian cultural circuits. In certain societies of West Africa, griots are storytellers, genealogists, musicians and artists of the word, with existence recorded from the ancient Empire of Mali (13th- 17th centuries) to the present. In the second half of the twentieth century, griots are incorporated as endogenous sources in the decolonization movement of African studies, and became known as a sym ...
This thesis investigates the recent proliferation of the term griot (also written griô) in Afro- Brazilian cultural circuits. In certain societies of West Africa, griots are storytellers, genealogists, musicians and artists of the word, with existence recorded from the ancient Empire of Mali (13th- 17th centuries) to the present. In the second half of the twentieth century, griots are incorporated as endogenous sources in the decolonization movement of African studies, and became known as a symbol in the African diaspora in the Americas. In Brazil, they have been references in writings of black intellectuals since the 1970s, but recently the term proliferates and is now used as a title for Afro-Brazilian masters. Through this process, the Ação Griô cultural policy of the Cultura Viva program (2006-2009) contributed to spreading the name, proposing a “reinvention” and “resemantization” to think the griot highlighting only orality without a strong reference to Africanity. We discard the paradigm of the "invention of tradition," to try to understand how the griot in Brazil exists today, and what philosophy of time and language activates that term. For this, we conducted an ethnographic research with Afro-Brazilian griots and masters in the metropolitan region of Porto Alegre, between the years 2015 and 2018. Quilombismo and Afro- Brazilian religions appeared as philosophical patrimonies in which these masters are inserted, the plane of immanence that crosses the griot. In the field, we observe how the term griô is associated with Afro-Gaucho percussive traditions, black political poetry, decolonial pedagogical proposals, or very recent cultural movements such as hip-hop or slams. Among the various Griots, we established an intense relationship with Mestre Cica de Oyó. We follow his Yoruba language classes in a terreira of Batuque and try to understand some of his theses on African history, Afro- Brazilian religions and transformations of language in the colonial relationship. From these observations and conversations, we propose an interpretation of the griô in Brazil as the arrival of a conceptual character that deepens processes of subjectivation yet in progress, promotes the remembrance of erased aspects of the past and opens spaces of enunciation to activate conversations that resist the colonial offensive . ...
Résumé
Cette thèse examine la récente prolifération du terme griot (également écrit griô) dans les circuits culturels afro-brésiliens. Dans certaines sociétés de l'Afrique de l'Ouest, les griots sont des conteurs, des généalogistes, des musiciens et des artistes de la parole, dont l'existence remonte à l'époque ancienne de l'empire du Mali (XIIIe-XVIIe siècles). Dans la seconde moitié du XXe siècle, les griots sont incorporés au mouvement de décolonisation des études africaines en tant que sources end ...
Cette thèse examine la récente prolifération du terme griot (également écrit griô) dans les circuits culturels afro-brésiliens. Dans certaines sociétés de l'Afrique de l'Ouest, les griots sont des conteurs, des généalogistes, des musiciens et des artistes de la parole, dont l'existence remonte à l'époque ancienne de l'empire du Mali (XIIIe-XVIIe siècles). Dans la seconde moitié du XXe siècle, les griots sont incorporés au mouvement de décolonisation des études africaines en tant que sources endogènes et sont désormais reconnus comme un symbole dans la diaspora africaine des Amériques. Au Brésil, ils sont une référence dans les écrits d'intellectuels noirs depuis les années 1970, mais récemment, le terme prolifère et est maintenant utilisé comme titre pour les maîtres afro-brésiliens. En traversent ce processus, la politique culturelle Ação Griô du programme Cultura Viva (2006-2009) a contribué à répandre le nom, proposant une « réinvention » et une « resémantisation » pour penser le griot en soulignant uniquement l’oralité sans une référence forte à l’Africanité. Nous abandonnons le paradigme de « l'invention de la tradition » pour comprendre comment le griot existe au Brésil et quelle philosophie du temps et du langage active ce terme. Pour cela, nous avons effectué un suivi ethnographique auprès griots et maîtres afro-brésiliens de la région métropolitaine de Porto Alegre, entre les années 2015 et 2018. Le quilombisme et les religions de matrice africaine sont apparus comme des patrimoines philosophiques dans lesquels ces maîtres sont insérés, le plan d'immanence qui traverse le griot. Sur le terrain, nous observons comment le terme griô est associé aux traditions de percussion afro-brésilien, à la poésie politique noire, aux projets pédagogiques décoloniales ou à des mouvements culturels très récents tels que le hip-hop ou le slam. Parmi les différents Griots, nous avons noué une relation intense avec Mestre Cica de Oyó. Nous suivons ses cours de langue yoruba dans une terreira de Batuque et essayons de comprendre certaines de ses thèses sur l'histoire de l'Afrique, les religions afro-brésiliennes et les transformations de la langue dans les relations coloniales. À partir de ces observations et conversations, nous proposons une interprétation du griô au Brésil comme l’arrivée d’un personnage conceptuel approfondissant les processus de subjectivation en cours, promouvant la mémoire des aspects effacés du passé et ouvrant des espaces d’énonciation pour activer des conversations résistant à l’offensive coloniale. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
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