"Corporações pecuárias, poder e lutas simbólicas no Uruguai contemporâneo"
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Data
2003Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Esta pesquisa parte da constatação de que no Uruguai vinha se produzindo, desde as últimas duas décadas, um paulatino aprofundamento de um modelo social de acumulação que privilegia a abertura econômica e a globalização num marco crescente de integração regional. A implementação desse modelo deu lugar a um processo conflituoso nas dimensões materiais e simbólicas da sociedade que está conduzindo a uma reestruturação econômica, social e política do país e a uma decisiva modificação das relações ...
Esta pesquisa parte da constatação de que no Uruguai vinha se produzindo, desde as últimas duas décadas, um paulatino aprofundamento de um modelo social de acumulação que privilegia a abertura econômica e a globalização num marco crescente de integração regional. A implementação desse modelo deu lugar a um processo conflituoso nas dimensões materiais e simbólicas da sociedade que está conduzindo a uma reestruturação econômica, social e política do país e a uma decisiva modificação das relações de poder na construção do Uruguai contemporâneo. No entanto, essas mudanças não são lineares, adotando, pelo contrário, diversas manifestações e significados em cada um dos múltiplos espaços da sociedade. Nosso projeto procurou abordar as manifestações assumidas pelo referido processo no que denominaremos o "campo social agrário". Particularmente, pretendemos colocar ênfase na análise das estratégias de reprodução simbólica desenvolvidas pelos agentes coletivos da fração pecuária da burguesia agrária, visando também mostrar a eficácia atingida pelas mesmas no seu propósito de impor como legítima sua "visão do mundo rural" e suas "explicações" sobre a atual situação da sociedade rural. Procurou-se explorar como -mediante conflitos e lutas simbólicas- esses agentes incrementaram seu poder e legitimidade para determinar as políticas agrárias, assegurando, em longo prazo, sua reprodução social e contribuindo para legitimar o atual modelo de acumulação e seus impactos na sociedade rural. Em termos teóricos, partimos das contribuições de Bourdieu, utilizando-as para construir nosso objeto de estudo. Para esse autor, as "coisas" do mundo social podem ser percebidas e exprimidas de diversas formas, pois sempre existe uma margem de imprecisão e de indeterminação das mesmas que dá lugar a um certo grau de "elasticidade semântica". Portanto, o que se encontra em jogo nas lutas simbólicas é a imposição de uma visão particular do mundo social como a única visão legítima do mesmo. Quem consegue impor-se nessa luta detém um poder simbólico, conio, por exemplo, o poder de impor e inculcar os princípios de construção da realidade e, especificamente, de preservar ou transformar os princípios estabelecidos de união e separação, de associação e dissociação que operam no mundo social. Destas considerações deriva um dos pressupostos centrais de nossa pesquisa: a verdade do mundo social é o que se encontra em jogo nas lutas simbólicas, lutas para as quais os agentes estão desigualmente equipados. A pesquisa de tese desenvolve esses assuntos em oito capítulos agrupados em quatro partes. As principais evidências empíricas e sua codificação são apresentadas em três anexos num volume separado. Na Parte I, o capítulo introdutório expõe os objetivos do estudo, a justificativa e importância do tema tratado, o problema de pesquisa, as hipóteses e a estratégia metodológica. O segundo capítulo consiste numa revisão teórica sobre a relevância da dimensão simbólica no pensamento sociológico e sua utilidade para a análise dos conflitos sociais e das relações de poder. Na Parte II são reunidos os capítulos que analisam a conformação histórica do campo agrário no Uruguai. No capítulo três são resenhadas as origens das organizações pecuárias, seus conflitos e negociações com os partidos políticos e o campo de poder. No quarto capítulo são analisadas as mudanças e permanências na evolução da estrutura agrária durante o século XX. A Parte III contém os capítulos referidos às estratégias das agremiações pecuárias e a suas lutas simbólicas com·os diferentes Governos do Uruguai pós-ditadura (1985 a 1999). No capítulo quinto é estudado o conteúdo dos discursos das agremiações e os principais componentes de sua estratégia simbólica. O sexto capítulo analisa a relação dos criadores de gado com cada um dos três governos do período. Na Parte IV, o capítulo sete estuda o conflito dos criadores de gado com as organizações dos trabalhadores rurais, a visão dos partidos políticos sobre o Setor Agrário e os conflitos na construção do Mercosul como novo cenário regional das lutas agrárias. Por último, nas conclusões, realiza-se uma síntese à luz das evidências empíricas apresentadas no decorrer da pesquisa, propondo-se um olhar retrospectivo em relação ao papel dos criadores de gado no novo cenário nacional e regional. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
Coleções
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