Convidando a clínica a dançar : um ensaio cartográfico da saúde mental na atenção básica
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Data
2017Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Ao modo de um ensaio, entramos pelo meio, em aquecimento de uma tese que traz a clínica em saúde mental na atenção básica à cena, tendo a dança como intercessora. Tateamos o espaço e o corpo, que se abre a diversos sons e cheiros a compor o cotidiano em uma unidade de saúde da família, ampliando possibilidades de escuta. Nos territórios descentralizados, acompanhamos usuários e trabalhadores, deparando-nos com linhas endurecidas de uma clínica fatigada, marcada pelo adoecimento, medicalização e ...
Ao modo de um ensaio, entramos pelo meio, em aquecimento de uma tese que traz a clínica em saúde mental na atenção básica à cena, tendo a dança como intercessora. Tateamos o espaço e o corpo, que se abre a diversos sons e cheiros a compor o cotidiano em uma unidade de saúde da família, ampliando possibilidades de escuta. Nos territórios descentralizados, acompanhamos usuários e trabalhadores, deparando-nos com linhas endurecidas de uma clínica fatigada, marcada pelo adoecimento, medicalização e burocratização. Sentimos os pesos do corpo orgânico, da mente arrazoada, dos protocolos e das identidades fixadas, que delimitam tempo e espaço de ouvir, especialismos e comportamentos aceitáveis. Entretanto, pequenos passos tortos, meio enlouquecidos e imprevistos, fazem desviar, provocam quedas e desaceleram movimentos. O chão se abre e a clínica é convidada a dançar: desestabilizam-se verdades levitantes e transcendentes. Entra em cena uma psicóloga-bailarina-pesquisadora. Acolhemos os pesos, tentando fazer deles impulso. Abrimos possíveis, intensificando espaços-corpo e habitando as brechas por onde escapam fluxos. Apostamos na potência do corpo, com sua sensibilidade despertada, a partir das experimentações clínico-dançadas. Movimentos inicialmente desencontrados de uma psicóloga trabalhadora do Sistema Único de Saúde, que se experimenta como bailarina, abrem intensidades que tensionam formas de clinicar e de dançar. Desaceleramos, fragmentamos, experimentamos e improvisamos. Adentramos um campo alargado, aberto aos impercetíveis e imprevisíveis. Desdobram-se gestos em uma pesquisa que busca problematizar a potência da clínica em encontro com a dança. Acompanhados por José Gil, Deleuze, Guattari e Adorno, junto aos diários de campo, bailarinos, poesias e músicas, encorpamos linhas curiosas e interventivas, ensaiando uma escrita cartográfica. Tentamos expandir invencionices, composições coreográficas. Gestos loucos hibridizam cenas em um modo de pesquisar que assume as fragilidades, a parcialidade e aposta nos fragmentos e narrativas descontinuadas, produzindo conhecimento a partir do que nos acontece. Perseguimos perguntas saltitantes que transitam entre as linhas conviventes, buscando consistência. Percebemos que, ao recusarmos referentes externos, a constante são os agenciamentos e as transformações, sempre em movimento. Fragmentos coexistem em meio às pequenas danças em um plano de imanência que movimenta, a um só tempo, corpo e pensamento. Entre pesos e levezas, velocidades e lentidões, zonas paradoxais se interpõem nessas intercessões, transversalizando linhas e conectando corpos a partir dos fluxos que contagiam e se esparramam ao modo do devir. Em meio às ressonâncias possíveis, repetimos e diferimos, ensaiando uma clinica inventada a partir dos encontros e quedas: uma clinica do chão. Mais aberta às paisagens do bairro, ela se compõe nos gestos com os diferentes personagens, experimenta apoios matriciadores, improváveis atendimentos conjuntos, vigilâncias cuidadosas, em ruas, domicílios, corredores e consultórios. Buscamos diferir a partir das heterogeneidades que engrossam o encontro e das lentidões e velocidades que trazem sutileza. Afirmamos transversalidades, tomando o chão como aliado, em quedas que abrem possibilidades e buscam proliferar sentidos. ...
Abstract
In the manner of an essay, we enter through the middle, warming up a thesis that brings the mental health clinic in primary care to the scene, having dance as an intercessor. We grope around the space and the body, which open up to different sounds and smells to compose the daily life in a family health unit, increasing possibilities of listening. In the decentralized territories, we accompany service users and workers, encountering hardened lines of a fatigued clinic, marked by illness, medica ...
In the manner of an essay, we enter through the middle, warming up a thesis that brings the mental health clinic in primary care to the scene, having dance as an intercessor. We grope around the space and the body, which open up to different sounds and smells to compose the daily life in a family health unit, increasing possibilities of listening. In the decentralized territories, we accompany service users and workers, encountering hardened lines of a fatigued clinic, marked by illness, medicalization and bureaucratization. We feel the weights of the organic body, of the reasoned mind, of protocols and fixed identities, which delimit the time and space for listening, specialisms and acceptable behaviors. However, small crooked steps, somewhat crazed and unforeseen, cause deviations, lead to falls, slow down movements. The floor opens up and the clinic is invited to dance: levitating and transcendent truths are destabilized. A psychologist-dancer-researcher comes to the scene. We welcome the weights, trying to turn them into thrust. We open up possibles, intensifying spaces-body and inhabiting the breaches through which flows escape. We believe in the power of the body, with its sensitivity aroused from clinical-danced experimentations. Movements, initially disjointed, of a Unified Health System worker-psychologist who experiences herself as a dancer, open up intensities that strain the ways of caring and dancing. We decelerate, fragment, experiment and improvise. We entered a widened field, open to the imperceptibles and unpredictables. Gestures are unfolded in a research that problematizes the power of clinic in an encounter with dance. Accompanied by José Gil, Deleuze, Guattari and Adorno, along with field diaries, dancers, poems and songs, we embody curious and intervening lines, rehearsing a cartographic writing. We try to expand inventions, choreographic compositions. Mad gestures hybridize scenes in a way of researching that assumes frailties and partiality, that bets on fragments and discontinued narratives, producing knowledge from what happens to us. We pursue bouncing questions that pass between cohabiting lines, seeking consistency. We perceive that, when we refuse external referents, the constant is the assemblages and transformations, always in movement. Fragments coexist in the midst of the small dances in a plane of immanence that moves, at the same time, body and thought. Between weights and lightness, velocities and slowness, paradoxical zones interpose in these intercessions, transversalizing lines and connecting bodies from the flows that infect and spread in the mode of becoming. Amidst the possible resonances, we repeat and differ, rehearsing a clinic invented from encounters and falls: a clinic from the ground. More open to the landscapes of the neighborhood, it is composed in gestures with different characters, experiences matrix support, unlikely joint care, careful health surveillance, in streets, homes, corridors and offices. We try to differ from the heterogeneities that thicken the encounter and the slowness and velocities that bring subtlety. We affirm transversality, taking the ground as an ally, in falls that open possibilities and seek to multiply meanings. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional.
Coleções
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Ciências Humanas (7479)
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