Avaliação do consumo de alimentos ultraprocessados por crianças e adolescentes com fibrose cística

Abstract

Introdução: A importância da nutrição no tratamento da Fibrose Cística (FC) e a sua relação com a sobrevida e a qualidade de vida desses pacientes já foi bem estabelecida. Em função da importância de alcançar um estado nutricional (EN) adequado, recomenda-se uma dieta com maior densidade calórica e com alto teor de gorduras. Estudos indicam que essas recomendações são alcançadas principalmente pelo consumo excessivo de alimentos com alta densidade calórica e pobres em nutrientes. Até o momento, nenhum estudo avaliou a alimentação de crianças e adolescentes com FC quanto ao nível de processamento de acordo com a Classificação NOVA. Objetivos: Avaliar o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) por crianças e adolescentes com FC. Métodos: Estudo transversal realizado com crianças e adolescentes de zero a 18 anos de idade, diagnosticados com FC, que não utilizavam alimentação exclusiva por via enteral acompanhadas no ambulatório de Pneumologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O consumo alimentar foi avaliado por meio de três Recordatórios Alimentares de 24h de dias não consecutivos calculados através do software Dietbox (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil) e posteriormente analisado através da Classificação NOVA que categoriza os alimentos em alimentos in natura e minimamente processados, ingredientes culinários, alimentos processados e alimentos ultraprocessados. O Teste T foi realizado para comparar as médias do consumo da amostra dos grupos da Classificação NOVA com as médias da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017- 2018. O EN foi avaliado por meio das medidas de peso e estatura, sendo classificado com base nos índices de peso para estatura, índice de massa corporal para idade e índice de estatura para idade, de acordo com os critérios específicos para avaliação nutricional de crianças e adolescentes com FC. Resultados: A amostra do estudo foi composta por 73 crianças e adolescentes com FC, a média de idade foi de 7,7 anos (± 5,26) e 61,6% eram do sexo feminino (n = 45). Em relação ao EN, 34,2% (n = 25) foram classificados como eutróficos, enquanto 31,5% (n = 23) pertenciam ao grupo com EN considerado ótimo, uma categoria específica na classificação utilizada para FC. A ingestão calórica média foi de 2239,53 kcal diárias. A base da alimentação foi composta por alimentos in natura e minimamente processados representando 51,3% do total de energia diária, seguidos pelo grupo de AUP, com 29,2%. Os alimentos processados contribuíram com 10,7% da energia total e os ingredientes culinários contribuíram com 8,8%. O consumo de AUP foi significativamente maior do que a média da população brasileira (19,7%, p=0) e do estado do Rio Grande do Sul (24,1%, p=0,01), segundo a POF de 2017-2018, mas não houve diferença significativa em comparação com adolescentes brasileiros (26,5%, p=0,18). Conclusões: O consumo de AUP por crianças e adolescentes com FC é expressivo, superando as médias observadas na população geral brasileira e do Rio Grande do Sul. Faz-se necessário o uso de estratégias para reduzir o consumo desses alimentos, com o objetivo de promover uma alimentação equilibrada e alinhada às necessidades específicas desse grupo.

Introduction: The importance of nutrition in the treatment of Cystic Fibrosis (CF) and its relationship with the survival and quality of life of these patients has already been well established. Due to the importance of achieving an adequate nutritional status (NS), a diet with higher caloric density and high fat content is recommended. Studies indicate that these recommendations are mainly met through the excessive consumption of energy-dense, nutrientpoor foods. To date, no study has assessed the diets of children and adolescents with CF in terms of processing levels according to the NOVA Classification. Objectives: To assess the consumption of ultra-processed foods (UPF) by children and adolescents with CF. Methods: Cross-sectional study involving children and adolescents aged zero to 18 years diagnosed with CF who did not rely exclusively on enteral feeding, followed at the Ambulatório de Pneumologia Pediátrica of the Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Dietary intake was evaluated through three 24-hour dietary recalls on non-consecutive days, calculated through the Dietbox software (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil), and subsequently analyzed using the NOVA Classification, which categorizes foods into unprocessed or minimally processed foods, processed culinary ingredients, processed foods, and UPF. The T-test was used to compare the sample means of consumption in the NOVA Classification groups with the averages found in the 2017-2018 Brazilian Household Budget Survey (Pesquisa de Orçamentos Familiares, POF). NS was assessed through weight and height measurements and classified based on weight-for-height, body mass index-for-age, and height-for-age index, according to specific criteria for the nutritional assessment of children and adolescents with CF. Results: The study sample consisted of 73 children and adolescents with CF, with an average age of 7.7 years (± 5.26), 61.6% were female (n = 45). Regarding NS, 34.2% (n = 25) were classified as eutrophic, whereas 31.5% (n = 23) belonged to the group with a NS considered optimal, a specific category used in the classification for CF. The average daily caloric intake was 2239.53 kcal. The diet was mainly composed of in natura or minimally processed foods, representing 51.3% of total daily energy intake, followed by UPF, which accounted for 29.2%. Processed foods contributed 10.7% of total energy, while culinary ingredients contributed 8.8%. The consumption of UPF was significantly higher than the average for the Brazilian population (19.7%, p<0,05) and the state of Rio Grande do Sul (24.1%, p<0,05), according to the 2017- 2018 POF, but showed no significant difference compared to Brazilian adolescents (26.5%, p=0.18). Conclusions: The consumption of UPF by children and adolescents with CF is substantial, exceeding the averages observed in the general Brazilian and Rio Grande do Sul populations. Strategies are needed to reduce the intake of UPF to promote a more balanced nutrition aligned with the specific needs of this group.