Desfechos clínicos e características sociodemográficas de pessoas vivendo com HIV (PVHIV) hospitalizadas em serviço de referência no Sul do Brasil

Abstract

A infecção pelo HIV permanece um importante desafio de saúde pública, especialmente no Brasil, onde o diagnóstico tardio e a perda de seguimento comprometem o sucesso do tratamento antirretroviral. Este estudo teve como objetivo caracterizar as hospitalizações de pessoas vivendo com HIV internadas em um hospital terciário de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, com enfoque em pacientes com início tardio da terapia antirretroviral e aqueles em situação de perda de seguimento. Trata-se de um estudo transversal, com análise retrospectiva de prontuários de pacientes internados na enfermaria de Infectologia entre abril de 2024 e abril de 2025. Foram avaliadas características sociodemográficas, clínicas, laboratoriais e desfechos hospitalares. Foram incluídos 489 pacientes, com taxa de óbito hospitalar de 6,1%. A maioria era do sexo masculino (55%) e apresentava baixa escolaridade (71,8%). A coinfecção por tuberculose foi frequente (45,6%) e esteve presente em 73,3% dos pacientes que evoluíram para óbito. O grupo com contagem de CD4 inferior a 50 células/mm³ apresentou maior risco de mortalidade na análise univariada. A presença de tuberculose (RP=2,73; IC95%: 1,13–6,59) e o maior número de comorbidades (RP=1,20; IC95%: 1,01–1,43) foram fatores associados à mortalidade hospitalar. Não houve associação estatisticamente significativa entre o uso prévio de TARV e o óbito, embora pacientes sem tratamento anterior tenham apresentado tendência a maior risco de mortalidade (RP=1,87; p=0,132 na univariada; RP=1,38; p=0,402 na multivariada). Os resultados reforçam a importância da busca ativa de casos, da retenção no cuidado e do diagnóstico precoce como estratégias centrais para a redução da morbimortalidade associada ao HIV/AIDS.

HIV infection remains a major public health challenge, especially in Brazil, where late diagnosis and loss to follow-up compromise the success of antiretroviral treatment. This study aimed to characterize hospitalizations of people living with HIV (PLHIV) admitted to a tertiary hospital in Porto Alegre, with a focus on patients with late initiation of antiretroviral therapy and those in a situation of loss to follow-up. This was a cross-sectional study with a retrospective analysis of medical records from patients hospitalized in the Infectious Diseases ward between April 2024 and April 2025. Sociodemographic, clinical, laboratory, and hospitalization outcome variables were evaluated. A total of 489 patients were included, with a hospital mortality rate of 6.1%. The majority were male (55%) and had low educational attainment (71.8%). Tuberculosis coinfection was frequent (45.6%) and present in 73.3% of the patients who died. Patients with CD4 counts below 50 cells/mm³ had a higher risk of mortality in univariate analysis. The presence of tuberculosis (PR=2.73; 95%CI: 1.13–6.59) and a higher number of comorbidities (PR=1.20; 95%CI: 1.01–1.43) were associated with in-hospital mortality. There was no statistically significant association between prior ART use and death, although patients without previous treatment showed a trend toward higher mortality risk (PR=1.87; p=0.132 univariate; PR=1.38; p=0.402 multivariate). These findings reinforce the importance of active case finding, retention in care, and early diagnosis as key strategies to reduce HIV/AIDSrelated morbidity and mortality.