Associação entre tempo de enchimento capilar e tolerância a dieta enteral em doentes críticos

Abstract

Introdução: O início precoce da nutrição enteral (NE) está relacionado a melhores desfechos no paciente crítico. Contudo, na presença de instabilidade hemodinâmica, a intolerância à NE é mais prevalente e está associada à hipoperfusão intestinal. A avaliação da perfusão periférica através do tempo de enchimento capilar (TEC) e sua associação com hipoperfusão visceral e, portanto, com a intolerância à NE não foi bem estudada. Métodos: Estudo de coorte prospectiva realizado na UTI do Hospital Mãe de Deus (Porto Alegre, Brasil). Foram incluídos pacientes maiores de 18 anos que iniciaram NE. Excluídos pacientes com nutrição parenteral ou cirurgia abdominal recente. Dados demográficos foram coletados via prontuário. O TEC foi considerado alterado quando maior que 3 segundos e avaliado no momento da indicação do início da NE, e a cada 12 horas por 72 horas consecutivas. Intolerância a NE foi considerada quando houve vômito, diarreia, distensão abdominal, volume residual gástrico > 300ml / 6 horas ou isquemia intestinal por imagem. Resultados: Foram incluídos 104 pacientes entre janeiro e abril de 2024. Destes, 8 (7,7%) pacientes apresentaram intolerância a NE, enquanto 96 (92,3%) não tiveram complicações. Do total, 17 (16,3%) pacientes apresentaram TEC alterado no início da NE, assim como 24 (23,1%) em algum momento das 72 horas acompanhadas, mostrando associação positiva ao grupo intolerante (risco relativo =10; p=0,023; p=0,002 respectivamente). Não houve associação da dose média de noradrenalina entre os grupos tolerante e intolerante (0,08 e 0,16mcg/kg/min respectivamente; p=0,454). Conclusão: Em pacientes críticos, o TEC alterado está associado à intolerância a dieta enteral, independentemente da dose de vasopressor.

Introduction: Early initiation of enteral nutrition (EN) is associated with better outcomes in critically ill patients. However, in the presence of hemodynamic instability, intolerance to EN is more prevalent and is associated with intestinal hypoperfusion. The assessment of peripheral perfusion through capillary refill time (CRT) and its association with visceral hypoperfusion and, therefore, with intolerance to EN has not been well established. Methods: Prospective cohort study conducted in the ICU of Hospital Mãe de Deus (Porto Alegre, Brazil). Patients over 18 years of age who started EN were included. Patients with parenteral nutrition or recent abdominal surgery were excluded. Demographic data were collected via medical records. CRT was considered altered when greater than 3 seconds and was assessed at the time of the indication for the start of EN, and every 12 hours for 72 consecutive hours. Intolerance to EN was considered when there was vomiting, diarrhea, abdominal distension, residual gastric volume > 300ml/6 hours or intestinal ischemia by imaging. Results: A total of 104 patients were included between January and April 2024. Of these, 8 (7.7%) patients had intolerance to EN, while 96 (92.3%) had no complications. Of the total, 17 (16.3%) patients presented altered CRT at the beginning of EN, as well as 24 (23.1%) at some point in the 72 hours monitored, demonstrating a positive association with the intolerant group (risk ratio = 10; p=0.023; p=0.002 respectively). There was no association of mean dose of norepinephrine between the tolerant and intolerant groups (0.08 and 0.16mcg/kg/min respectively; p=0.454). Conclusion: In critically ill patients, altered CRT is associated with intolerance to enteral nutrition, regardless of the vasopressor dose.