Parques e bosques curitibanos : uma análise configuracional da acessibilidade a pé de espaços públicos com áreas verdes

Abstract

O processo de urbanização do território brasileiro causou desequilíbrio entre as bases do meio natural e o planejamento urbano, o que impulsionou, na década de 1960, o surgimento de teorias de planejamento urbano fundamentadas na visão ecossistêmica. Curitiba – capital paranaense – tornou-se mundialmente conhecida por seu planejamento e recebeu os rótulos de “cidade modelo” ou “cidade ecológica”, enfatizando as questões ambientais, frequentemente reduzidas a ações de preservação de áreas frágeis e à ampliação das áreas verdes. Na década de 1990, o planejamento urbano da cidade organizou as ações de gestões anteriores para consolidar o status de capital ecológica, reforçado por um marketing urbano que divulgava índices de área verde por habitante. Contudo, a falta de clareza nos critérios desses índices e o uso estratégico do marketing questionaram a inclusão efetiva dos diferentes grupos socioeconômicos nos benefícios dessa estrutura. Diante disso, este trabalho investiga se os parques e bosques de Curitiba foram distribuídos de forma a garantir acesso equitativo para todos. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, aplicando a teoria da sintaxe espacial para avaliar a configuração urbana e medir variáveis como integração e escolha, que refletem no potencial de movimento e a acessibilidade a pé para diversos grupos de usuários. A análise da malha urbana ao redor dos parques identificou as regiões mais acessíveis e as mais segregadas, por meio de dados socioeconômicos que traçaram o perfil da população atendida. A metodologia de estudo de caso permitiu compreender a dinâmica urbana e a distribuição espacial dos parques, evidenciando os desafios e limitações do planejamento em Curitiba. As análises foram divididas em três partes: a morfológica, que examinou a estrutura física das áreas; as medidas de sintaxe espacial, que identificaram os potenciais de acessibilidade e fluxo de pedestres; e a socioeconômica, que avaliou as características demográficas e econômicas dos usuários. Os resultados revelam disparidades, com a distribuição de parques favorecendo áreas de renda média e alta, enquanto regiões periféricas e de menor renda apresentam menor acesso, indicando uma segregação socioespacial na qual apenas parte da população usufrui plenamente dos espaços públicos com áreas verdes.

The urbanization process of the Brazilian territory causes an imbalance between the foundations of the natural environment and urban planning. In response, several theories of urban and landscape planning, regulated by the ecosystemic vision, emerged in the 1960s. Curitiba – the capital of Paraná – became known worldwide for its urban planning and acquired labels such as “model city” or “ecological city”, where one of the most emphatic points in the construction of this image concerns environmental issues, often reduced to actions to preserve fragile areas and the amount of green areas in the city. In order to transform these environmentalist actions into a paradigm of ecological capital, the urban planning of Curitiba, in the 1990s, summarized and organized all the actions taken by the city government in previous administrations, with the objective of guaranteeing and maintaining this “status”. Amplified by the urban marketing carried out by the municipal administration, Curitiba sought, through the dissemination of data such as green area indexes per inhabitant, to reaffirm its title of ecological capital. Despite advanced urban planning, factors such as the lack of clarity in the criteria for establishing these indexes and the use of urban marketing to promote the image of an ecological city question the real inclusion of different socioeconomic groups in the benefits of this urban structure. Thus, this work raises the question: are the parks and forests of Curitiba distributed in a way that guarantees equitable access for all? The research uses a qualitative methodological approach, applying the theory of spatial syntax, which allows the evaluation of the urban configuration and measurement of variables such as integration and choice, reflecting the potential for movement and accessibility on foot for different groups of users. The analysis of the configuration of the urban network around the parks and forests seeks to identify the most accessible and the most segregated regions, considering spatial socioeconomic data that help to outline the profile of the population served by these spaces. The case study methodology allows for an in-depth understanding of the urban dynamics and spatial distribution of parks, highlighting the challenges and limitations in urban planning in Curitiba. The analyses are divided into three parts: morphological analysis, spatial syntax measurements, and socioeconomic analysis. The morphological analysis examines the physical structure of the areas surrounding the facilities; spatial syntax measures identify potential accessibility and pedestrian flow; and the socioeconomic analysis assesses the demographic and economic characteristics of the population with access to these spaces. The results reveal disparities that lead to a distribution of parks that favors middle- and high-income areas, while peripheral and lower income regions have less access. These findings indicate a possible socio-spatial segregation, where only part of the population of Curitiba fully enjoys public green spaces.