Análise da reimplementação de um programa de melhoria de qualidade assistencial ao paciente cirúrgico de alto risco

Abstract

Pacientes de alto risco cirúrgico apresentam taxas significativamente maiores de morbidade e mortalidade no pós-operatório. Visando melhorar os desfechos desse perfil de paciente, protocolos de cuidados perioperatórios multidisciplinares têm sido estudados. Dentro desse contexto, foi criada em 2019 no Hospital de Clínicas de Porto Alegre uma linha assistencial denominada Cuidados Estendidos ao Paciente Cirúrgico de Alto Risco (CEPAR). Esta linha consiste em um conjunto de cuidados que tem por objetivo aumentar a vigilância e, assim, permitir a identificação imediata das complicações para então intervir precocemente e reduzir a mortalidade pós-operatória dos pacientes de alto risco cirúrgico. Entretanto, com o advento da pandemia por COVID-19, fluxos hospitalares foram modificados, impactando negativamente também na implementação dessa linha de cuidados ainda na sua fase inicial. Posteriormente, após ajustes no protocolo CEPAR, uma retomada da implementação desta linha de cuidados vem sendo realizada. O objetivo do presente trabalho foi, então, avaliar a adesão ao programa CEPAR, os resultados de mortalidade nesse período e discutir dificuldades e oportunidades relacionadas à instituição da linha de cuidados. Foram avaliados 450 pacientes classificados como alto ou muito alto risco perioperatório pelo modelo Ex-Care. A adesão à linha assistencial foi avaliada mensalmente entre janeiro e outubro de 2024 por meio de indicadores de cumprimento do protocolo. Os indicadores com menor adesão foram evolução de alta da URPA pelo anestesista, verificação de sinais vitais de 3/3 horas e o recebimento do paciente pela enfermeira dentro de 60 minutos. Com o objetivo de compreender melhor esses resultados para então melhorá-los, foram realizadas reuniões multidisciplinares e discutidas diversas possíveis barreiras que potencialmente estão impactando na taxa de implementação do protocolo CEPAR. Através de revisão de literatura, apontou-se que dificuldades no que tange a adesão à implementação de protocolo de linhas de cuidado perioperatório também são encontradas por outros grupos. Dessa forma, conclui-se que projetos de melhoria de qualidade assistencial são intervenções complexas que exigem esforço, sensibilização e engajamento multidisciplinar para que se atinja uma taxa de implementação adequada com consequente impacto positivo nos desfechos desse perfil de paciente cirúrgico.

Patients at high surgical risk have significantly higher rates of morbidity and mortality in the postoperative period. In an effort to improve outcomes for this patient profile, multidisciplinary perioperative care protocols have been studied. In this context, a care pathway called Extended Care for High-Risk Surgical Patients (CEPAR) was established in 2019 at the Hospital de Clínicas de Porto Alegre. This pathway consists of a set of measures aimed at increasing surveillance, thereby allowing for the immediate identification of complications and early intervention to reduce postoperative mortality in high-risk surgical patients. However, with the advent of the COVID-19 pandemic, hospital workflows were modified, negatively impacting the implementation of this care pathway, which was still in its early stages. Subsequently, after adjustments to the CEPAR protocol, efforts to resume its implementation have been underway. The objective of the present study was to evaluate adherence to the CEPAR program, analyze mortality outcomes during this period, and discuss the difficulties and opportunities related to the establishment of the care pathway. A total of 450 patients classified as high or very high perioperative risk using the Ex-Care model were assessed. Adherence to the care pathway was monitored monthly between January and October 2024 through protocol compliance indicators. The indicators with the lowest adherence were: discharge evolution from the Post-Anesthesia Care Unit (PACU) by the anesthesiologist, verification of vital signs every 3 hours, and receiving the patient by the nurse within 60 minutes. To better understand these results and improve them, multidisciplinary meetings were held, and various potential barriers that could be impacting CEPAR protocol implementation were discussed. A literature review revealed that difficulties in adhering to the implementation of perioperative care pathways are also encountered by other groups. Thus, it is concluded that quality improvement projects are complex interventions that require effort, awareness, and multidisciplinary engagement to achieve an adequate implementation rate and consequently have a positive impact on the outcomes of this patient population.