Exploração, capitalismo e distopia neoliberal no jogo Hardspace: Shipbreaker

Abstract

A presente monografia tem como propósito entender como as representações de relações de trabalho no jogo Hardspace: Shipbreaker (Blackbird Interactive, 2022) reproduzem tensionamentos presentes no contexto neoliberal de precarização trabalhista e exploração. No título, o jogador assume a posição de um empregado operário que desmantela e envia espaçonaves obsoletas para reciclagem, tendo a temática do trabalho como central para a experiência de jogo. Para entender como essas representações se comunicam com a realidade material, foi feita, primeiramente, a conceituação do jogo como produto cultural com potencialidade de participar na construção do imaginário coletivo e, em um segundo momento, a revisão dos conceitos de neoliberalismo e dos mecanismos e dimensões da precarização do trabalho. A metodologia empregada foi a análise de conteúdo conforme Bardin (1977), adaptada ao objeto de pesquisa, utilizando as cinco dimensões de precarização do trabalho descritas por Franco, Druck e Seligmann-Silva (2010) para a categorização dos elementos identificados. A partir do fichamento de registros da campanha, realizou-se a análise categorial quantitativa, observando quais dimensões de precarização se mostraram mais proeminentes e onde elas se faziam presentes. Posteriormente, comenta-se sobre três pontos que ajudam no entendimento integral dos sentidos da obra: o conteúdo coletável adicional e a expansão do universo de ambientação; a conexão com os desmontadores de navios no mundo real; e a posição do título dentre o panorama de jogos de ficção científica. Conclui-se que narrativa, mecânicas e ambientação se alinham para representar elementos de precarização do trabalho no jogo Hardspace: Shipbreaker, principalmente no que diz respeito às dimensões da organização e condições de trabalho e da precarização da saúde dos trabalhadores. Por fim, levantam-se possibilidades de outras pesquisas para o mesmo objeto, como no campo da recepção, e discute-se a importância de jogos que disputem narrativas em temas sociais e que potencializem a coletividade em um mundo que prioriza difundir subjetividades individualistas e competitivas.

This research aims to understand how representations of labor relations in the game Hardspace: Shipbreaker (Blackbird Interactive, 2022) reproduce tensions present in the neoliberal context of labor precariousness and exploitation. In the title, the player takes the role of a blue collar worker who dismantles and sends obsolete spaceships for recycling, with the theme of labor being central to the game’s experience. To understand how these representations communicate with the material reality, we firstly conceptualize games as a cultural product with the potential to take part in the construction of the collective imaginary and, secondly, review the concepts of neoliberalism and the mechanisms and dimensions of labor precariousness. The methodology used was content analysis according to Bardin (1977), adapted to the research object, using the five dimensions of labor precariousness described by Franco, Druck and Seligmann-Silva (2010) to categorize the identified elements. Based on the campaign registers, we conducted a quantitative categorical analysis, observing which dimensions of precariousness were most prominent and where they were present. Subsequently, we comment on three points that help in the full understanding of the meanings of the work: the additional collectible content and the expansion of the worldbuilding; the connection with shipbreakers in the real world; and the position of the title within the panorama of science fiction games. We conclude that narrative, mechanics, and setting align to represent elements of precariousness of work in the game Hardspace: Shipbreaker, especially with regard to the dimensions of organization and working conditions and of precarious health of workers. Finally, we raise possibilities for further research on the same subject, such as in the field of reception, and we discuss the importance of games that dispute narratives on social themes and that enhance collectivity in a world that prioritizes spreading individualistic and competitive subjectivities.