Protocolo de atendimento ambulatorial para segundas vítimas/sofrimento moral : um processo de construção

Abstract

Introdução: Evento Adverso (EA) é definido como “ocorrência imprevista, indesejável ou potencialmente perigosa na instituição de saúde”, conforme Joint Commission Internacional (JCI). Segundas ví timas sã o trabalhadores de instituição de saú de envolvidos num EA do paciente e ficam traumatizados pelo evento. Quando profissionais de saú de encontram limitaç õ es em suas capacidades para a prá tica é tica, sentindo-se forç ados a comprometer seus valores e normas pessoais, podem vivenciar uma experiência de sofrimento moral. Estabelecer uma intervenç ã o consistente, baseada na atenç ã o plena para as segundas ví timas se mostra crucial para ajudar os trabalhadores a lidar com estas situações, além de reduzir a rotatividade, o absenteísmo e o abandono precoce da profissã o escolhida. Objetivos: Elaborar um protocolo para a implementação de um ambulatório de acolhimento mental para segundas vítimas e trabalhadores em situação de sofrimento moral em hospital terciário de alta complexidade em Porto Alegre/RS. Metodologia: O protocolo institucional foi baseado na metodologia dos Protocolos Operacionais Padrão (POPs) da instituição. Iniciou-se com o levantamento de indicadores a partir de entrevistas com profissionais que atuam diretamente nos atendimentos às segundas vítimas. Posteriormente, foi realizada uma revisão da literatura bibliográfica atualizada sobre o tema nas bases de dados Medline (PubMed), Scielo e na biblioteca virtual em saúde da FIOCRUZ, em protocolos públicos de outras institucionais e nos materiais institucionais do Hospital de Clínicas, com o objetivo de adequar o protocolo à prática, à cultura de segurança do paciente e de saúde do trabalhador específicas da instituição. Resultados: O protocolo apresenta o fluxograma de atendimento às segundas vítimas, explicitando desde a identificação dos profissionais até o contato com o serviço, o acolhimento e o respectivo encaminhamento para atendimento inicial pela equipe de enfermagem, além de eventuais atendimentos específicos nas áreas de psicologia do trabalho, medicina do trabalho, psiquiatria ou serviço social. Também inclui a sensibilização e a capacitação da equipe responsável pelos atendimentos, a estruturação dos registros dos atendimentos e a avaliação periódica do processo de atendimento destas situações. Conclusão: O protocolo estruturado é factível e pode ser implantado de forma imediata, atuando como uma ferramenta coletiva de trabalho e assistência aos trabalhadores da saúde, além de dar visibilidade a uma demanda crescente no contexto da assistência à saúde.

Introduction: Adverse Event (AE) is defined as an “unexpected, undesirable, or potentially dangerous occurrence within a healthcare institution,” according to the Joint Commission International (JCI). Second victims are healthcare workers involved in an AE that affects the patient and are traumatized by the event. When healthcare professionals face limitations in their ability to practice ethically, feeling compelled to compromise their personal values and standards, they may experience moral distress. Establishing a consistent mindfulness-based intervention for second victims is crucial to help these workers cope with such situations, as well as to reduce turnover, absenteeism, and early departure from their chosen profession. Objectives: To develop a protocol for implementing a mental health support clinic for second victims and workers experiencing moral distress at a high-complexity tertiary hospital in Porto Alegre, RS, Brazil. Methodology: The institutional protocol was based on the methodology of the institution’s Standard Operating Procedures (SOPs), starting with the collection of indicators through interviews with professionals directly involved in assisting second victims. Subsequently, an updated literature review was conducted using the Medline (PubMed), Scielo, and the FIOCRUZ Virtual Health Library databases, as well as public protocols from other institutions and institutional materials from the Hospital de Clínicas. The goal was to adapt the protocol to the institution’s specific practices, patient safety culture, and worker health guidelines. Results: The protocol outlines the care flowchart for second victims, detailing the process from identifying affected professionals to contacting the service, providing support, and referring them for initial care by the nursing team. It also covers potential specialized care follow-up by specialists in occupational psychology, occupational medicine, psychiatry, or social services. The protocol also includes the sensitization and training of the response team, the structuring of care records, and the periodic evaluation of the care process for these situations. Conclusion: The structured protocol is feasible and can be implemented immediately, serving as a collective tool for supporting and assisting healthcare workers. Additionally, it highlights an increasingly relevant demand in the context of healthcare delivery.