Avaliação do uso de estratégias digitais no tratamento de pacientes com transtorno de ansiedade generalizada

Abstract

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns, marcado por ansiedade persistente e de difícil controle, frequentemente acompanhado por sintomas físicos e comorbidades. Apesar dos avanços no tratamento, muitos pacientes permanecem sintomáticos, justificando a busca por novas ferramentas para otimizar as abordagens terapêuticas. A fim de contribuir com o desenvolvimento de melhores tratamentos, esta tese investigou o papel do uso de intervenções digitais no tratamento do TAG. A revisão da literatura sobre o tema resultou na escrita de três capítulos do livro “Psiquiatria Digital”, publicado em 2024 pela Editora Artmed. Com o objetivo de avaliar o impacto das intervenções digitais no TAG, foi realizado um ensaio clínico randomizado (ECR) de 12 semanas, que avaliou o impacto da associação de ferramentas simples e de fácil acesso (videos de psicoeducação e o uso sistemático de escalas psicométricas) ao tratamento usual (TAU) do TAG, ambos disponibilizados por meio de um aplicativo móvel (“+PSI”). Os seis vídeos de psicoeducação utilizados como ferramenta digital foram desenvolvidos especificamente para este estudo, possuem duração aproximada de 3 a 4 minutos, e apresentam ilustrações e animações em uma linguagem simples e acessível. A segunda intervenção digital consistiu na aplicação da escala psicométrica de sintomas de ansiedade GAD-7 (Generalized Anxiety Disorder 7-item Scale) a cada consulta, com o objetivo de auxiliar o psiquiatra assistente a alcançar melhores desfechos clínicos e maior assertividade nas condutas terapêuticas. Esse método, conhecido como “cuidado baseado em medidas” (MBC, do inglês measurement-based care), vem sendo explorado nos últimos anos como uma estratégia adicional para aprimorar o cuidado em saúde mental. Apesar de os resultados do ECR não terem encontrado melhora significativa na resposta clínica, a associação das estratégias digitais ao TAU demonstrou uma melhora significativa na adesão ao tratamento. Considerando a alta prevalência do TAG e a baixa adesão ao tratamento em transtornos psiquiátricos em geral, acreditamos que essas estratégias podem ser bastante benéficas, especialmente no âmbito da saúde pública. Considerando a abrangência da psiquiatria digital, esta tese também explorou a “exclusão digital”, analisando se as populações mais vulneráveis estão sendo adequadamente alcançadas pelas novas tecnologias utilizadas no campo da pesquisa e clínica envolvendo psiquiatria digital (ciência que estuda a interface entre a psiquiatria e a tecnologia), ou se essas ferramentas digitais estão restringindo ainda mais o acesso ao tratamento a setores mais elitizados. A presente tese contribui para a compreensão das intervenções digitais como ferramentas promissoras no manejo do TAG, ao mesmo tempo que aponta desafios importantes, como a necessidade de maior cuidado com a inclusão digital de populações vulneráveis na pesquisa e na prática das intervenções digitais, assim como a necessidade de estudos adicionais que fortaleçam a base científica para a incorporação dessas práticas digitais na rotina clínica.

Generalized Anxiety Disorder (GAD) is one of the most common psychiatric disorders, characterized by persistent and difficult-to-control anxiety, often accompanied by physical symptoms and comorbidities. Despite advancements in treatment, many patients remain symptomatic, highlighting the need for new tools to optimize therapeutic approaches. To contribute to the development of better treatments, this thesis investigated the role of digital interventions in the treatment of GAD. A literature review on the subject resulted in the writing of three chapters for the book “Digital Psychiatry”, published in 2024 by Editora Artmed. To evaluate the impact of digital interventions on GAD, a 12-week randomized clinical trial (RCT) was conducted, assessing the impact of combining simple and accessible tools (psychoeducational videos and the systematic use of psychometric scales) with Treatment as Usual (TAU) for GAD. Both interventions were made available via a mobile app (“+PSI”). The six psychoeducational videos used as a digital tool were specifically developed for this study, lasting approximately 3–4 minutes and featuring illustrations and animations in a simple and accessible language. The second digital intervention involved the application of the Generalized Anxiety Disorder 7-item Scale (GAD-7) at each consultation to assist psychiatrists in achieving better clinical outcomes and more accurate therapeutic decisions. This method, known as “measurement-based care” (MBC), has been increasingly explored as an additional strategy to enhance mental health care. Although the RCT results did not demonstrate significant improvements in clinical response, the addition of digital strategies to TAU significantly improved treatment adherence. Given the high prevalence of GAD and the low adherence to treatment commonly observed in psychiatric disorders, we believe these strategies could be particularly beneficial, especially in public health contexts. Considering the broader scope of digital psychiatry, this thesis also explored the issue of “digital exclusion,” examining whether vulnerable populations are being adequately reached by the new technologies employed in digital psychiatry research and clinical practice or whether these tools are further limiting access to treatment for more privileged sectors. This thesis contributes to understanding digital interventions as promising tools in the management of GAD while highlighting key challenges, such as the need for greater attention to the digital inclusion of vulnerable populations in research and practice and the necessity for additional studies to strengthen the scientific foundation for integrating these digital practices into routine clinical care.