Criação de protocolo para abordagem do paciente na sala de recuperação pós anestésica para identificação de alto risco de síndrome de abstinência alcoólica

Abstract

O transtorno por uso de álcool (TUA) afeta até 20% dos pacientes cirúrgicos, dos quais cerca de 50% podem desenvolver sintomas de abstinência, aumentando o risco de complicações perioperatórias. O consumo diário superior a 60 g de álcool eleva significativamente a chance de eventos adversos, como insuficiência cardiopulmonar, infecções, necessidade de reoperações, e até óbito. A fisiopatologia do álcool no perioperatório inclui alterações imunológicas, metabólicas e disfunção cardíaca subclínica, que podem piorar em resposta ao estresse cirúrgico. A síndrome de abstinência alcoólica (SAA), caracterizada por sintomas como agitação, taquicardia e febre, ocorre geralmente de 6 a 24 horas após a interrupção do álcool, podendo evoluir para complicações severas como delirium tremens. Para mitigar esses riscos, a implementação de um protocolo para identificação e manejo de TUA na sala de recuperação pós-anestésica é crucial, beneficiando tanto a prevenção de SAA quanto o encaminhamento para tratamento. A identificação do TUA é, entretanto, subdiagnosticada, particularmente entre pacientes com perfis socioeconômicos específicos, sendo que apenas uma fração desses pacientes recebe intervenção no contexto cirúrgico. Ferramentas como o AUDIT e a PAWSS têm eficácia para prever a SAA, mas a complexidade desses testes pode limitar seu uso prático. Este estudo visa desenvolver um protocolo aplicável ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre para identificar pacientes cirúrgicos em risco de SAA. O protocolo inclui uma triagem com base em perguntas adaptadas, treinamento de equipes e monitoramento da implementação. A abordagem sistemática para identificar e tratar TUA pode não apenas melhorar os desfechos perioperatórios, mas também auxiliar na adesão a tratamentos de longo prazo, reduzindo as reinternações e favorecendo a abstinência pós-alta.

Alcohol Use Disorder (AUD) affects up to 20% of surgical patients, of whom approximately 50% may develop withdrawal symptoms, increasing the risk of perioperative complications. Daily alcohol consumption over 60 g significantly raises the likelihood of adverse events, such as cardiopulmonary insufficiency, infections, the need for reoperations, and even death. The pathophysiology of alcohol in the perioperative setting includes immunological and metabolic alterations, as well as subclinical cardiac dysfunction, which may worsen in response to surgical stress. Alcohol Withdrawal Syndrome (AWS), characterized by symptoms such as agitation, tachycardia, and fever, generally occurs 6 to 24 hours after alcohol cessation and may progress to severe complications, such as delirium tremens. To mitigate these risks, implementing a protocol to identify and manage AUD in the post-anesthesia care unit (PACU) is essential, benefiting both AWS prevention and referral for treatment. However, AUD identification remains underdiagnosed, particularly among patients with specific socioeconomic profiles, with only a fraction of these patients receiving intervention in the surgical context. Tools such as AUDIT and PAWSS are effective for predicting AWS, but the complexity of these tests may limit their practical application. This study aims to develop a protocol applicable to the Hospital de Clínicas de Porto Alegre to identify surgical patients at risk of AWS. The protocol includes screening based on adapted questions, team training, and implementation monitoring. A systematic approach to identifying and managing AUD may not only improve perioperative outcomes but also support adherence to long-term treatments, reduce readmissions, and promote post-discharge abstinence.