Hair is everything : materializando a cisgeneridade a partir dos pelos corporais

Abstract

Fonte de debates ético-onto-epistêmicos (Barad, 2007), o conceito de cisgeneridade se tornou fundamental na compreensão da construção de fronteiras de sexo e gênero, assim como de raça e humanidade, e seus efeitos políticos. No Brasil, o conceito é uma das principais articulações transfeministas, se popularizando como a nomeação de pessoas que mantém o gênero designado no nascimento. Visando problematizar a ideia de gênero, sexo, raça e humanidade como atributos e características inerentes e meramente discursivos, volto-me à materialização da cisgeneridade a partir de uma característica sexual secundária: os pelos corporais. Articulando os estudos feministas e sociais da ciência e os estudos trans em uma cama de gato (Haraway, 1994; 2023a), proponho contar outra história/estória do conceito de cisgeneridade a partir do seguinte questionamento: pode uma mulher trans ser diagnosticada com hirsutismo? Baseando me na noção de práticas material-discursivas (Haraway, 2023b; Barad, 2007) e na especulação fabulativa do conhecimento científico (Haraway, 2023b; 1996; M'charek, 2013), compreendo a cisgeneridade não como a constatação do dimorfismo sexual como a realidade dos corpos, mas como o aparato de produção corporal através do qual corpos cis e trans são diferencial e relativamente construídos.

A source of ethico-onto-epistemic debates (Barad, 2007), the concept of cisness has become fundamental in understanding the construction of sex and gender boundaries, as well as of race and humanity ones and their political effects. In Brazil, the concept is one of the main transfeminist articulations, having become popular as the naming of people who maintain the gender assigned at birth. Aiming to problematize the idea of gender, sex, race and humanity as inherent and merely discursive attributes and characteristics, I turn to the materialization of cisness based on a secondary sexual characteristic, namely body hair. Articulating feminist and social studies of science and trans studies into a cat's cradle (Haraway, 1994; 2023a), I propose to tell another history/story of the concept cisness based on the following question: can a trans woman be diagnosed with hirsutism? Based on the notion of material-discursive practices (Haraway, 2023b; Barad, 2007) and the speculative fabulation of scientific knowledge (Haraway, 2023b; 1996; M'charek, 2013), I have come to understand cisness not as the verification of sexual dimorphism as the reality of bodies, but as the apparatus of bodily production through which cis and trans bodies are differential and relatively constructed.