Comunicação verbal e não verbal dirigida à criança : relações com as mídias digitais, características infantis e efeitos de um programa governamental para a primeira infância

Abstract

A comunicação que os adultos dirigem às crianças durante momentos de interação social é fundamental para o desenvolvimento da linguagem infantil. A presente tese de doutorado tem como objetivo compreender a comunicação verbal e não verbal dirigida à criança sob uma perspectiva lexical (palavra), sintática (enunciado) e gestual considerando fatores pessoais (idade e sexo) e contextuais (mídias digitais e participação em um programa de parentalidade). Para tanto, esta tese é composta por três artigos. No Artigo 1, realizou-se uma revisão narrativa da literatura objetivando compreender o papel da fala dirigida à criança na relação entre uso de mídias digitais e desenvolvimento da linguagem infantil. A fala dirigida é apontada como sendo tanto mediadora quanto moderadora dessa relação, porém poucos estudos avaliaram empiricamente o efeito moderador. A forma com a qual os cuidadores usam as mídias e os próprios recursos interativos presentes nas mídias podem promover uma comunicação de qualidade. No Artigo 2, investigou-se um tipo específico de estímulo verbal, as perguntas maternas abertas e fechadas, e sua relação com os gestos infantis, um preditor do desenvolvimento da linguagem. Apenas as perguntas abertas associaram-se aos gestos infantis (p <.001). Características da criança (sexo feminino e idade entre 21 e 25 meses), mas não do contexto (número de mídias digitais) foram moderadoras dessa relação. Por fim, o Artigo 3 apresenta os efeitos do Programa Criança Feliz, um programa parental de visitação domiciliar em larga escala voltado ao desenvolvimento infantil, na comunicação verbal e não verbal de mães e crianças. Essa intervenção aumentou a diversidade lexical das mães após um ano (punivariado = .036; pajustado = .029; d = .35) independente de seus níveis de escolaridade, porém nenhum efeito na comunicação da criança foi encontrado. Em conjunto, estes artigos apontam a relevância de fatores pessoais e contextuais para a comunicação que cuidadores dirigem à criança, apontando possibilidades de intervenção que visem a potencializar a qualidade dessa comunicação.

The communication that adults address to children during moments of social interaction is fundamental for child language development. This doctoral dissertation aims to understand verbal and non-verbal communication directed to children from a lexical (word), syntactic (utterance) and gestural perspective considering personal (age and sex) and contextual (digital media use and participation in a parenting program) factors. To this end, this work is composed of three articles. In Article 1, a narrative review of the literature was carried out aiming to understand the role of child-directed speech in the relation between digital media use and child language development. Directed speech is pointed out as both mediator and moderator of this relation, but few studies have empirically evaluated the moderating effect. The way in which caregivers use media and the interactive features present in digital media can promote communication quality. Article 2 investigated a specific type of verbal input, open and close-ended maternal questions, and its relationship with toddler’s gestures, a predictor of language development. Only open-ended questions were associated with toddler’s gestures (p <.001). Characteristics of the child (female gender and age between 21 and 25 months), but not of the context (number of digital media), were moderators of this relationship. Finally, Article 3 presents the effects of the Happy Child Program, a large-scale home visiting parenting program focused on child development, on mothers' and children's verbal and non-verbal communication. This intervention increased mothers' lexical diversity after one year (punivariate = .036; padjusted = .029, d = .35), regardless of their educational level, but no effect on children's communication was found. Taken together, these articles point to the relevance of personal and contextual factors for the communication that caregivers direct to the child, pointing to possibilities of intervention aimed at enhancing communication quality.