Elaboração do protocolo terapêutico nos casos suspeitos ou confirmados de dengue na emergência pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre

Abstract

A dengue é uma arbovirose endêmica de relevância epidemiológica cuja recomendação de manejo impacta diretamente a necessidade de hospitalização, o uso de recursos econômicos e humanos e, sobretudo, sobre evolução da doença. Nesse trabalho, objetivamos a confecção de um protocolo que orienta o manejo de casos de dengue adequado à realidade da Emergência Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, baseado em evidências atuais sobre a doença. Realizamos revisão não-sistemática sobre fatores prognósticos e terapia na dengue em estudos da plataforma Pubmed. A partir dos resultados, geramos como recomendação a classificação dos pacientes em três grupos principais: grupo 1, que inclui paciente sem fatores clinicolaboratoriais ou epidemiológicos que predizem pior prognóstico, cujo manejo deve ser ambulatorial; grupo 2, que inclui paciente com fatores clinicolaboratoriais ou epidemiológicos que predizem pior prognóstico, porém sem dengue grave, e que exige monitorização clinicolaboratorial estreita e internação; e grupo 3, que inclui paciente com dengue grave, e que exige manejo imediato e agressivo com transferência para Unidade de Terapia Intensiva quando possível. As principais diferenças entre o protocolo sugerido e os já estabelecidos pelas entidades médicas brasileiras são: ausência de recomendação de realização da prova do laço; inclusão de plaquetopenia < 50-75000 células/dL como sinal de alerta e, portanto, indicação de sua contagem para todos os pacientes; recomendação de dosagem de aminotransferases a todos os pacientes; inclusão de história prévia de infecção por dengue como fator de risco para pior prognóstico, levando a recomendação de monitorização clinicolaboratorial estreita; recomendação direta de ausência de benefício de corticoterapia e transfusão profilática de plaquetas nos casos severos. Dessa forma, foi possível elaborar um protocolo terapêutico adaptado à realidade de nossa instituição à luz de evidências sobre a dengue.

Dengue is an endemic mosquito-borne disease of epidemiological relevance whose management recommendations directly impact the need for hospitalization, the use of economic and human resources, and above all, the disease's progression. In this study, our aim is to develop a therapeutic protocol that guides the management of dengue cases appropriate to the reality of the Hospital de Clínicas de Porto Alegre’s Pediatric Emergency Department, based on current evidence about the disease. We conducted a non-systematic review about prognostic factors and therapy in dengue on studies registered on Pubmed. Based on the results, we recommend classifying patients into three main groups: group 1, which includes patients without clinical-laboratory or epidemiological factors predicting a worse prognosis, whose management should be on an outpatient basis; group 2, which includes patients with clinical-laboratory or epidemiological factors predicting a worse prognosis, but without severe dengue, requiring close clinical-laboratory monitoring and hospitalization; and group 3, which includes patients with severe dengue, requiring immediate and aggressive management with transfer to the Intensive Care Unit as soon as possible. The main differences between the suggested protocol and those already established by Brazilian medical entities are: absence of recommendation for the tourniquet test; inclusion of platelet count < 50-75000 cells/dL as a warning sign and therefore indication for its count for all patients; recommendation for aminotransferase dosage for all patients; inclusion of previous history of dengue infection as a risk factor for worse prognosis, leading to the recommendation of close clinical-laboratory monitoring; direct recommendation of no benefit from corticosteroid therapy and prophylactic platelet transfusion in severe cases. Thus, it was possible to develop a therapeutic protocol adapted to the reality of our institution in light of evidence on dengue.