A (des)naturalização da contradição discursiva e a (in)visibilidade da classe trabalhadora : confrontando os sentidos da reforma trabalhista

Abstract

Este estudo faz a triangulação entre discurso-linguagem, trabalho-história e sujeito-ideologia, fundamentando-se, epistemologicamente, na teoria materialista do discurso, linha filiada a Michel Pêcheux e ao materialismo histórico nas perspectivas althusseriana e marxiana. Partimos do pressuposto de que os objetos teóricos mobilizados formam uma torção discursiva num processo deslinear, disruptivo, descontínuo e contraditório das relações produtivas e dos processos de produção da formação social capitalista. Fazemos um recorte do lugar discursivo do sujeito-trabalhador, que é afetado pela Reforma Trabalhista. O objetivo é o de analisar os efeitos de sentido no processo de discursivização da/sobre a reforma trabalhista que afetam a classe trabalhadora, a fim de demonstrar a opacidade entre reprodução e transformação que caracteriza as relações de trabalho. O nodus discursivo seminal diz respeito aos mecanismos discursivos que se coadunam com a desigualdade social e com a crescente precarização das condições dos processos de trabalho do sujeito, que vende sua força de trabalho “livremente” ao capital. Naturalizar e evidenciar o óbvio do funcionamento discursivo sob domínio da Formação Ideológica Neoliberal é resultante do funcionamento ideológico, através da interpelação do indivíduo em sujeito que naturaliza e homogeneiza os sentidos do dizer. O corpus discursivo desta pesquisa é heterogêneo, constituído por 300 textos jornalísticos oriundos de diferentes veículos de informação que publicam notícias da/sobre a Reforma Trabalhista no período de agosto de 2016 a março de 2023. Os resultados da análise indicam uma rede parafrástica que constitui a formação discursiva de defesa da Reforma Trabalhista, formação que é a hegemônica em relação à ideologia neoliberal e cujo principal sujeito enunciador é o representante do Estado e seus apoiadores. Outros sentidos deslizam para a formação discursiva de oposição à reforma e indiciam movimentos de resistência da classe trabalhadora. Ambas as formações discursivas estão sob o domínio da Formação Ideológica Neoliberal. A partir do gesto de interpretação do funcionamento discursivo da/sobre a Reforma Trabalhista, concluímos que a noção de contradição discursiva nos possibilita compreender o silenciamento da luta de classes e a invisibilidade da classe trabalhadora diante da ofensiva do discurso neoliberal.

This doctoral dissertation starts from the articulation between discourse, language, labor, history, subject, and ideology. Epistemologically, we are based on the materialist theory of discourse, affiliated with Michel Pêcheux, historical materialism, and Althusserian and Marxian perspectives. We assume that the theoretical objects are mobilized and form a discursive torsion, a type of a non-linear, disruptive, and contradictory process, affiliated with the productive relations and production processes of capitalism. We outline the place of the subject-worker, who is affected by the labor reform. We analyze the effects and the meaning of the discourse process about the labor reform that affect the working class, to demonstrate the opacity between reproduction-transformation that characterizes the labor relations. The seminal discursive, what we’re calling the nodus, concerns the discursive mechanisms that are consistent with social inequality and the growing precariousness of the conditions of labor. The subjects sell their workforce “freely” to the system. We aim to discuss the process of naturalizing those facts, in this case the discourse functioning under the domain of neoliberal ideological formation, because of ideological interpellation: a process that naturalizes and homogenizes certain meanings and aspects of social conditions. The corpus of this research is heterogeneous, consisting of 300 journalistic texts from different journals and magazines that publish news about the labor reform in the period from August 2016 to March 2023. To understand the discursive functions of and about labor reform, we highlight the notion of discursive contradiction, which allows us to interpret the silencing of the class struggle and the invisibility of the working class.

Esta tesis doctoral parte de la articulación entre discurso, lenguaje, trabajo, historia, sujeto e ideología. Epistemológicamente, nos basamos en la teoría materialista del discurso, afiliada a Michel Pêcheux, el materialismo histórico y las perspectivas de Althusser y Marx. Suponemos que los objetos teóricos se movilizan y forman una torsión discursiva, una especie de proceso no lineal, disruptivo y contradictorio, afiliado a las relaciones productivas y procesos de producción del capitalismo. Esbozamos el lugar del sujeto-trabajador, que se ve afectado por la reforma laboralista. Analizamos los efectos y el sentido del proceso discursivo sobre la reforma laborista que afectan a la clase trabajadora, para evidenciar la opacidad entre reproducción-transformación que caracteriza las relaciones laborales. El discurso seminal, lo que llamamos el nodus, se refiere a los mecanismos discursivos que son consistentes con la desigualdad social y la creciente precariedad de las condiciones de trabajo. Los sujetos venden su fuerza de trabajo “libremente” al sistema. Nuestro objetivo es discutir el proceso de naturalización de esos hechos, en este caso el discurso que funciona bajo el dominio de la formación ideológica neoliberal, debido a la interpelación ideológica: un proceso que naturaliza y homogeneiza ciertos significados y aspectos de las condiciones sociales. El corpus de esta investigación es heterogéneo, conformado por 300 textos periodísticos que publican noticias sobre la reforma laboralista en el período de agosto de 2016 a marzo de 2023. Para comprender las funciones discursivas de y sobre la reforma laboralista, destacamos la noción de contradicción discursiva, que nos permite interpretar el silenciamiento de la lucha de clases y la invisibilidad de la clase trabajadora.