Etnografia de uma categoria : composições da violência obstétrica entre ativistas, profissionais e vítimas
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2023Author
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Doctorate
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Abstract in Portuguese (Brasil)
A violência obstétrica é uma categoria que emergiu em meio ao Movimento pela Humanização do Parto e Nascimento, principalmente quando mães ativistas passaram a integrá-lo em maior número. Elas passam a reivindicar que uma série de condutas de profissionais e instituições de saúde na assistência obstétrica ao pré-natal, parto e pós-parto, antes normalizadas, constituem um tipo específico de violência contra a mulher, isto é, violência obstétrica. Diante desse cenário, desde 2019 passei a seguir ...
A violência obstétrica é uma categoria que emergiu em meio ao Movimento pela Humanização do Parto e Nascimento, principalmente quando mães ativistas passaram a integrá-lo em maior número. Elas passam a reivindicar que uma série de condutas de profissionais e instituições de saúde na assistência obstétrica ao pré-natal, parto e pós-parto, antes normalizadas, constituem um tipo específico de violência contra a mulher, isto é, violência obstétrica. Diante desse cenário, desde 2019 passei a seguir os atores que manejam a noção de violência obstétrica em suas práticas ativistas e/ou profissionais. Isso envolveu, então, seguir atividades e ações, presenciais e online (via redes sociais) de mães ativistas, profissionais da medicina obstetrícia, advogadas especializadas e mulheres vítimas dessa violência. Envolveu também a realização de entrevistas em profundidade, perambulações e acompanhamentos de redes sociais, eventos e palestras, observações em congresso de ginecologia e obstetrícia e análise de documentos produzidos por corporações médicas e advogadas. Utilizando como caminho metodológico a proposta de implosão do objeto tracei quais noções de violência obstétrica os atores que acompanhei estavam produzindo ao manejar a categoria, bem como quais as mediações que eles fizeram/fazem nesse processo. As mães ativistas centram o combate à violência obstétrica na difusão de informações baseadas em evidências científicas e promoção do poder de decisão e autonomia das mulheres. Embora as corporações médicas se manifestem contra o uso do termo violência obstétrica, uma série de médicos reconhecem problemas com a assistência ao parto e somente as obstetras feministas promovem o uso da noção de violência obstétrica; porém os médicos em conjunto convergem para a defesa da autonomia das pacientes. As advogadas especializadas em violência obstétrica agem como as principais mediadoras, formulando conceitos jurídicos de violência obstétrica a partir de conhecimentos da área da saúde e de demandas ativistas, e traduzindo isso para as mulheres a quem buscam alcançar como clientes. As vítimas não são somente aquelas familiarizadas com o universo da humanização do nascimento, mas todas as mulheres que passam a interpretar as crueldades vividas em suas vidas reprodutivas, agora, como violência. Enfim, nosso percurso de pesquisa mostra como as variadas histórias contadas por minhas interlocutoras, ao gerarem um desafio à unificação e à “tecnificação”, desestabilizam a “violência obstétrica” que as especialistas procuram descrever. Contudo, é graças aos muitos debates circundando o termo que as mulheres mães encontram, para além de uma lista de procedimentos técnicos, uma linguagem para as más experiências e, principalmente, as crueldades – muitas delas fruto de uma violência de gênero – vividas em suas vidas reprodutivas. ...
Abstract
Obstetric violence is a category that emerged in the midst of the Movement for the Humanization of Childbirth and Birth, especially when activist mothers became part of it in greater numbers. They start to claim that a series of behaviors of health professionals and institutions in obstetric care during prenatal care, childbirth and postpartum, previously normalized, constitute a specific type of violence against women, that is, obstetric violence. Faced with this scenario, since 2019 I started ...
Obstetric violence is a category that emerged in the midst of the Movement for the Humanization of Childbirth and Birth, especially when activist mothers became part of it in greater numbers. They start to claim that a series of behaviors of health professionals and institutions in obstetric care during prenatal care, childbirth and postpartum, previously normalized, constitute a specific type of violence against women, that is, obstetric violence. Faced with this scenario, since 2019 I started to follow the actors who handle the notion of obstetric violence in their activist and/or professional practices. This then involved following activities and actions, in person and online (via social media) by activist mothers, obstetrical medicine professionals, specialized lawyers and women victims of this violence. It also involved conducting in-depth interviews, wandering around and following up on social networks, events and lectures, observations at a gynecology and obstetrics congress and analysis of documents produced by medical corporations and lawyers. Using the object implosion proposal as a methodological path, I traced which notions of obstetric violence the actors I followed were producing when handling the category, as well as what measurements they made/make in this process. I propose that activist mothers focus on combating obstetric violence involve disseminating information based on scientific evidence and promoting women's decision-making power and autonomy. Although medical corporations are against the use of the term obstetric violence, a number of physicians recognize problems with childbirth care and only feminist obstetricians promote the use of the notion of obstetric violence; however, physicians converge towards the defense of patients' autonomy. Lawyers specializing in obstetric violence act as the main mediators, formulating legal concepts of obstetric violence based on knowledge in the health area and activist demands, and translating this to the women they seek to reach as clients. The victims are not only those familiar with the universe of the humanization of birth, but all women who begin to interpret the cruelties experienced in their reproductive lives, now, as violence. Ultimately, our research path shows how the varied stories told by my interlocutors, by generating a challenge to unification and “technification”, destabilize the “obstetric violence” that the experts seek to describe. However, it is thanks to the many debates surrounding the term that women mothers find, in addition to a list of technical procedures, a language for the bad experiences and, mainly, the cruelties – many of them the result of gender violence – experienced in their reproductive lives. ...
Institution
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social.
Collections
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Humanities (7477)Social Anthropology (472)
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