Circunferência abdominal (CA) e índice massa corporal (IMC) em adolescentes brasileiros : implicações no desenvolvimento de resistência insulínica e diabetes tipo 2 : um estudo do ERICA (Estudo Nacional de Fatores de Risco Cardiovascular em Adolescentes)

Abstract

Introdução: A obesidade e o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) são problemas crescentes de saúde pública em todo o mundo. Medidas antropométricas, como índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal (CA), têm sido utilizadas como preditores de risco de doença cardiovascular. A relação entre essas medidas e o risco de DM2 em adolescentes, no entanto, não é totalmente compreendida. Este estudo teve como objetivo investigar a associação das combinações de IMC e CA com resistência à insulina e risco de DM2 em uma amostra grande e representativa de adolescentes brasileiros. Metodologia: Estudo transversal que utilizou dados do Estudo Brasileiro de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), realizado entre 2013-2014, que incluiu adolescentes de 12 a 17 anos de escolas públicas e privadas. Os participantes foram classificados em seis grupos de acordo com suas medidas antropométricas - IMC e CA. Para estudar a associação entre as categorias de adiposidade e a ocorrência de resistência à insulina, foram utilizados modelos de regressão linear. A relação entre adiposidade e pré-diabetes ou DM2 foi investigada utilizando modelos de regressão logística ordinal. Resultados: Foram incluídos 37.892 adolescentes. A prevalência de pré-DM e DM2 para a mesma categoria de IMC não aumentou com a presença de CA elevada. Em relação à resistência à insulina, para as mesmas categorias de IMC, ter CA elevada resultou em maior prevalência de HOMA-IR alterado. Na regressão logística ordinal, os únicos grupos com associação significativa (p<0,05) foram aqueles com obesidade definida por IMC com CA elevada e obesidade com CA normal, ORPs respectivos de 1,96 (1,31-2,95) e 1,61 (1,37-1,88). Resultados semelhantes foram observados na relação entre os grupos e a resistência à insulina, onde o aumento da circunferência da cintura teve seu maior efeito quando associado à obesidade pelo índice de massa corporal (IMC). Conclusão: A combinação de IMC e CA é melhor para avaliar adolescentes em risco de desenvolver doenças crônicas, como DM2, e deve ser usada em conjunto durante a prática médica.

Background: Obesity and type 2 diabetes mellitus (T2DM) are growing public health issues around the world. Anthropometric measures, such as body mass index (BMI) and waist circumference (WC), have been used as predictors of cardiovascular disease risk. The relationship between these measures and the risk of T2DM in adolescents, however, is not fully understood. This study aimed to investigate the association of BMI and WC combinations with insulin resistance and T2DM risk in a large and representative sample of Brazilian adolescents. Methodology: This is a cross-sectional study using data from the Brazilian Study of Cardiovascular Risks in Adolescents (ERICA) conducted between 2013-2014 including 12 to 17 year old adolescents attending public or private schools. Participants were classified into six groups according to their anthropometric measurements – BMI and WC. To study the association between adiposity categories and the occurrence of insulin resistance, linear regression models were used. The relationship between adiposity and prediabetes or diabetes was investigated using ordinal logistic regression models. Results: 37,892 adolescents were included. Prevalence of T2DM for the same BMI category did not increase with the presence of elevated WC. Regarding insulin resistance, for the same BMI categories, having an elevated WC resulted in a higher prevalence of altered HOMA-IR. In the ordinal logistic regression, the only groups with significant association (p<0.05) were those with obesity defined by BMI with elevated WC and obesity with normal WC, respective ORs of 1.96 (1.31-2.95) and 1.61 (1.37-1.88). Similar findings were observed in the relationship between the groups and insulin resistance, where the increased WC had its greatest effect when associated with obesity by BMI. Conclusion: The combination of BMI and WC is better for assessing adolescents at risk of developing chronic diseases such as T2DM and should be used together during medical practice.