Reconhecimento no contexto da plataformização : percepções do rapper porto-alegrense como "artista influencer"

Abstract

As plataformas estão reorganizando as práticas culturais, especialmente no que diz respeito à indústria fonográfica, que se expandiu com o streaming, através da personalização de recomendações baseadas em dados dos usuários. Para alcançar reconhecimento e convergir seu público ao consumo direto de música, os artistas precisam participar ativamente, produzir conteúdo e promover-se para além da música nas ambiências digitais, considerando também a competição pela atenção do usuário. Essas demandas apontam a plataformização como um processo que fica a serviço da precarização do trabalho no ambiente digital, ao passo que permitem que os artistas se sujeitem à exploração por meio da dependência. Portanto, esse trabalho analisa as percepções dos rappers porto-alegrenses em relação às ambiências digitais como lócus estratégico para reconhecimento no contexto da plataformização. Guiado pela noção de plataformização da produção cultural (POELL; NIEBORG; DUFFY, 2021), alinhado com as relações de trabalho impostas pelas plataformas (GROHMANN, 2019) e baseado nas dinâmicas entre as plataformas de streaming (MINHAVA, 2017; DEMARCO, 2019; BASTOS; LEMOS, 2022) e as estratégias de comunicação adotadas nas ambiências digitais (JENKINS, 2009; CRUZ, 2016; MOSCHETTA; VIEIRA, 2018), o trabalho contextualiza a cena rapper de Porto Alegre como campo de estudo (MAFFIOLETTI, 2010; MAZER, 2017), e utiliza os direcionamentos teóricos propostos por Johnson (2010), com a pesquisa empírica a partir da triangulação de técnicas dos métodos entrevista (GRESSLER, 2010) e análise de conteúdo (BARDIN, 1977), para chegar aos resultados. Em conclusão, as plataformas apresentam-se como facilitadoras de reconhecimento para o artista, num cenário em que parecem formas autônomas de trabalho, mas que produzem diretrizes não explícitas do que é necessário para o sucesso. A maioria dos rappers entrevistados demonstra uma percepção crítica da relação entre as plataformas digitais e a indústria da música. Embora em princípio cause revolta, eles aceitam que esse é o modelo ao qual estão sendo submetidos e se esforçam para se encaixar nas exigências das plataformas. É visível que nenhum deles desejava ser produtor de conteúdo, mas estão conformados com essa possibilidade, uma vez que talvez esse seja o único caminho para o reconhecimento.

The platforms are reorganizing cultural practices, especially concerning the music industry, which has expanded with streaming through personalized recommendations based on user data. To achieve recognition and converge their audience towards direct music consumption, artists need to actively participate, produce content, and promote themselves beyond music in digital environments, also considering the competition for user attention. These demands point to platformization as a process that serves the precariousness of work in the digital environment, while allowing artists to subject themselves to exploitation through dependency. Therefore, this work analyzes the perceptions of Porto Alegre rappers regarding digital environments as a strategic locus for recognition in the context of platformization. Guided by the notion of platformization of cultural production (POELL; NIEBORG; DUFFY, 2021), aligned with the work relations imposed by the platforms (GROHMANN, 2019), and based on the dynamics between streaming platforms (MINHAVA, 2017; DEMARCO, 2019; BASTOS; LEMOS, 2022) and communication strategies embraced in digital environments (JENKINS, 2009; CRUZ, 2016; MOSCHETTA; VIEIRA, 2018), the work contextualizes the rap scene from Porto Alegre as a field of study (MAFFIOLETTI, 2010; MAZER, 2017) and uses the theoretical directions proposed by Johnson (2010), with empirical research based on the triangulation of interview techniques (GRESSLER, 2010) and content analysis (BARDIN, 1977) to reach the results. In conclusion, the platforms present themselves as recognition facilitators for the artist in a scenario where they seem to be autonomous forms of work, but that produce non-explicit guidelines for success. Most of the interviewed rappers demonstrate a critical perception of the relationship between digital platforms and the music industry. Although initially causing revolt, they accept that this is the model to which they are being subjected and strive to fit into the platforms' requirements. It is evident that none of them wanted to be content producers, but they are resigned to this possibility, as it may be the only path to recognition.